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Donos de casas destruídas por tornado nos EUA temem saques

Mark Ellerd observa sua casa destruída na região de Oklahoma City (EUA) após a passagem de um tornado na última segunda-feira (20). Autoridades pediram que ele ficasse longe da casa devido aos riscos ainda presentes, mas ele decidiu acampar ao lado do imóvel por temer que a casa seja saqueada - Katherine Taylor/The New York Times
Mark Ellerd observa sua casa destruída na região de Oklahoma City (EUA) após a passagem de um tornado na última segunda-feira (20). Autoridades pediram que ele ficasse longe da casa devido aos riscos ainda presentes, mas ele decidiu acampar ao lado do imóvel por temer que a casa seja saqueada Imagem: Katherine Taylor/The New York Times

John Eligon

Em Moore, Oklahoma (EUA)

22/05/2013 06h00

É o fim, pensou Mark Ellerd. O isolamento caiu sobre sua cabeça. Ele conseguia ouvir o vidro estilhaçando, as paredes ruindo e o teto se despedaçando de sua casa térrea, que fica à sombra do prédio de um cinema. E, é claro, houve o estrondo familiar como o de um trem.

Morador da área de Oklahoma City por todos seus 49 anos, tornados não são uma novidade para Ellerd. Mas ele nunca esteve no olho de um. Quando esse momento ocorreu na tarde de segunda-feira (20), tudo o que ele pôde fazer foi deitar no chão do closet de seu quarto, segurando sua cocker spaniel, Molly, que estava chorando. Ele achou que fosse morrer.

Veja onde fica Oklahoma City

As autoridades pediram para Ellerd permanecer longe de sua casa por ora, devido aos riscos ainda presentes. Mas, por temer que a residência seja invadida por saqueadores, Ellerd decidiu acampar com o filho e um amigo em uma barracada armada do lado do que restou de sua casa.

"Eu quero pegar o que restou dos meus bens, mas não posso", disse. "Logo, meu pesadelo continua por causa disso. Assim que minhas coisas estiverem seguras, então eu descansarei. Até lá, não tenho como descansar."

Ellerd observou o que sobrou da casa que dividia com sua mulher, filho e filha enquanto lágrimas corriam por trás de seus óculos. Tijolos foram arrancados da casa. Grande parte do telhado se foi, e a estrutura de madeira foi tudo o que restou parcialmente em pé.

Na terça-feira, enquanto as equipes de resgate prosseguiam a busca por sobreviventes sob pilhas de metal retorcido, madeira e outros escombros, moradores locais como Ellerd deram início ao processo doloroso de tentar lidar com o que passaram, assim como o caminho árduo e incerto de seguir em frente.

Havia uma mistura de tristeza, determinação e reflexão no ar. Dezenas de veículos de imprensa estavam estacionados em meio à devastação, enquanto repórteres de TV faziam transmissões ao vivo. Viaturas com suas luzes piscando corriam para cima e para baixo na rua.

As equipes de resgate montaram base em torno dos ônibus e caminhões do grande cinema, que permaneceu praticamente intacto, enquanto equipes de reparo trabalhavam na fachada com um grua e militares fardados limpavam o gramado em frente. Havia apreensão no ar enquanto raios e trovões corriam em meio à chuva ocasional e ao frio.
 
Tyler, o filho de 22 anos de Ellerd, analisou tudo o que estava --ou deixou de estar-- ao seu redor. Ele apontou para uma quadra onde uma série de casas e uma loja 7-Eleven foram arrasadas.

"Havia um boliche que veio abaixo", disse ele, apontando para um estacionamento que parecia uma pilha de destroços despejada aleatoriamente no asfalto. Lá, as equipes de resgate não perdiam a esperança. Alguns, vestidos em casacos e capacetes amarelos, escalavam os escombros acompanhados por cães.

Do outro lado da rua da casa de Ellerd se encontrava o enlameado e despedaçado Centro Médico Moore, com letras faltando de sua fachada e com vigas de alumínio expostas em seu interior. Dezenas de carros amassados estavam empilhados no estacionamento. Um "X" foi pintado em alguns deles, para marcar os que foram examinados.

Ashley Lockerbie percorreu o perímetro com seu pai, à procura de seu Honda Pilot 2009 prateado. Alguns medicamentos que ela precisa tomar ficaram dentro do veículo. Eles espiaram alguns carros retorcidos, mas, após caminharem por cerca de 15 minutos, não o encontraram. "Eu acho que não tenho mais um carro", disse ela ao pai.

Mas Lockerbie, 25, se dizia feliz por ter saúde suficiente para procurar por seu carro. Quando o tornado atingiu a cidade, ela se agachou na escadaria do centro médico com seus dois filhos --um de 9 meses e outro de 2 anos-- e outros 15 funcionários e pacientes.

"O barulho foi alto", disse Lockerbie, que trabalha como assistente médica. "Era possível sentir o gosto da sujeira caindo do teto. Dava para sentir o cheiro de gás. Dava para ouvir as coisas batendo contra a porta. Foi assustador."