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A perigosa expansão da 'Zona Morta' do Golfo do México, onde a vida marinha é impossível

Cientistas americanos descobriram que, nos últimos 5 anos, zona sem oxigênio marinho do Golfo do México aumentou - NOAA NESDIS
Cientistas americanos descobriram que, nos últimos 5 anos, zona sem oxigênio marinho do Golfo do México aumentou Imagem: NOAA NESDIS

06/08/2021 09h03

O crescimento da "Zona Morta" do Golfo do México nos últimos cinco anos não foi contido. Trata-se de uma região marinha, próxima ao litoral dos Estados do Texas, Louisiana e Mississippi, no sul dos Estados Unidos, onde peixes e outros organismos não conseguem sobreviver por falta de oxigênio.

A cada ano a "Zona Morta" muda de tamanho, em grande parte devido à quantidade de poluentes que chegam ao Golfo do México por meio de rios como o Mississippi.

Esse rio atravessa os Estados Unidos de norte a sul, passando por muitas cidades, vilarejos e áreas agrícolas.

Este ano, a "Zona Morta" tem uma extensão de 16.404,98 quilômetros quadrados, de acordo com estimativas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em Inglês).

É mais ou menos do tamanho da cidade de Pequim, na China.

"As condições de baixo oxigênio estavam muito próximas da costa e muitas medições mostraram uma falta quase total de oxigênio", explicou Nancy Rabalais, cientista que liderou o estudo neste ano e ligada à Universidade do Estado da Louisiana.

Cientistas e autoridades dos EUA colocaram como objetivo conter a "zona morta" a um nível abaixo de 5 mil quilômetros quadrados.

Mas, nos últimos cinco anos, o grau de crescimento foi em média 2,8 vezes essa meta, uma tendência preocupante.

"Devemos levar em consideração as mudanças climáticas e fortalecer nossa colaboração e parcerias para atingir o progresso necessário", disse Radhika Fox, da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês).

Como é a 'Zona Morta'?

A zona de hipóxia (baixo teor de oxigênio) do Golfo do México é medida desde 1985 pelas autoridades ambientais dos Estados Unidos. Não é a única do mundo, mas é a segunda maior. Nessas regiões, os níveis de oxigênio são tão baixos que a vida marinha morre.

Essas zonas podem ser geradas naturalmente, mas os cientistas estão especialmente preocupados com aquelas que foram formadas pela atividade humana, especialmente devido à contaminação por nutrientes.

Este último é o caso da "Zona Morta" do Golfo do México, que é gerada principalmente por fertilizantes usados— pelos agricultores.

A chuva transporta produtos químicos usados — na agricultura para riachos e rios que desembocam no Golfo do México. Essas águas também são poluídas por descargas residuais de áreas urbanas.

Em particular, os nitratos e o fósforo usados — nos produtos químicos agrícolas têm um efeito chave, estimulando o crescimento explosivo de algas, que, quando morrem, vão para o fundo do mar e se decompõem.

As bactérias que decompõem as algas consomem oxigênio em um processo que reduz drasticamente o nível disponível para a vida marinha. Isso transforma habitats que normalmente estariam repletos de vida em desertos biológicos, segundo a NOAA.

Por outro lado, a água doce do rio e a água salgada do Golfo não se misturam e é criada uma barreira que impede a mistura de águas superficiais e profundas.

No outono, quando os ventos agitam a água, as diferentes camadas se misturam novamente e isso faz com que o oxigênio se reponha no fundo, permitindo o retorno da vida marinha.

É por isso que a extensão da "Zona Morta" varia a cada ano.

Efeito das mudanças climáticas

A equipe da Hypoxia Task Force, força-tarefa coliderada pela EPA, observou que nos últimos cinco anos a "Zona Morta" se expandiu além da meta estabelecida.

A época em que essa região mais se espalhou desde 1985 foi durante o ano de 2017, quando media 22.729 quilômetros quadrados (quase o tamanho de El Salvador).

Este ano, ela está menor (16.404,98 km²), mas não menos preocupante, já que a meta das autoridades é que ela atinja 4.920 quilômetros quadrados ou menos por cinco anos.

"A distribuição de baixo oxigênio dissolvido foi incomum neste verão", explicou Nancy Rabalais.

Os cientistas observaram que a salinidade estava baixa e a descarga do rio Mississippi estava "acima do normal".

"Neste ano, vimos repetidamente o efeito profundo que as mudanças climáticas têm em nossas comunidades, desde a seca histórica no oeste (dos EUA) até as inundações. O clima está diretamente relacionado à água, incluindo o fluxo de contaminação de nutrientes no Golfo do México", disse Radhika Fox.

A Hypoxia Task Force afirma que uma forma de reduzir a poluição tem sido estabelecer acordos com as autoridades locais e os agricultores para uma melhor gestão dos produtos químicos que acabam nos afluentes.

Mas se esse problema não for contido, o risco é que o "deserto" sem vida do Golfo do México continue a se expandir ano após ano.