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Mudança climática acabará com as geleiras do Equador em 70 anos

César Muñoz Acebes

20/12/2012 10h51

As geleiras do Equador, que coroam vulcões de mais de 5.000 metros de altura, desaparecerão em 70 anos no ritmo atual de degelo causado pelo aquecimento global. Segundo especialistas, isto vai alterar o ecossistema e o volume de água para consumo humano.

Uma situação similar acontece no Peru, na Bolívia e na Colômbia, que compartilham com o Equador as geleiras "tropicais" da América. Um deles é o Antisana, um enorme pico de 5.753 metros de altura com dois cones vulcânicos de onde descem as águas geladas que terminam na maioria das torneiras dos lares de Quito, uma cidade com 2,4 milhões de habitantes.

O previsível desaparecimento dos gelos terá efeitos no frágil local ermo que o rodeia, composto de extensões de gramíneas baixas e onde habitam espécies em risco de extinção, como o urso de óculos e o condor.

"A perda do líquido contido na neve não é o grande problema, mas os efeitos da falta desse foco frio nesse ecossistema, que atua como uma esponja ao absorver a água da chuva e do degelo", diz Jorge Núñez, especialista do Projeto de Adaptação ao Impacto do Retrocesso Acelerado de Geleiras nos Andes Tropicais.

"Ao afetar-se os locais ermos, teremos danos irreversíveis na biodiversidade e na disponibilidade de água, no armazenamento e na regulação de água", alertou Núñez.

Água doce

Apenas 8% da água que desce do Antisana procede da geleira, enquanto o resto sai do local ermo, explicou María Victoria Chiriboga, diretora de Adaptação à Mudança Climática do Ministério do Meio Ambiente do Equador. 

A Colômbia e o Equador têm locais ermos, mas a situação é diferente no Peru e na Bolívia, onde eles são poucos e o abastecimento de água depende mais da precipitação e da água armazenada nas neves, explica Núñez.

O Peru concentra mais de 70% das geleiras andinas, a Bolívia, 20%, enquanto Equador e Colômbia contam com 4% cada um. Sua taxa de decréscimo depende de fatores como sua localização e tamanho, mas, em geral, é similar em toda a região, segundo Núñez.

O Equador perdeu 30% da massa de seus nevados nos últimos 30 anos e, neste ritmo, devem desaparecer totalmente dentro de 70 anos, previu o especialista. Na Bolívia, o fenômeno já cobrou uma vítima, o Chacaltaya, um pico de mais de 5.400 metros de altura que perdeu sua camada branca em 2009.

Mudança climática

O culpado é a mudança do clima do planeta, que hoje em dia é 0,8 graus centígrados mais quente em média do que na época pré-industrial, segundo os cientistas. No Equador a alta foi de um grau centígrado apenas nos últimos 50 anos e em alguns lugares da região andina esse alta chega a dois graus centígrados, de acordo com María Victoria.

"Não há meio humano capaz de deter o retrocesso geleiro, o que podemos fazer é trabalhar para atenuar os impactos", comentou Núñez.

E para isso é fundamental contar com dados sobre a atmosfera da alta montanha, que é muito mal conhecida nos trópicos. Para isso, os países andinos instalaram estações meteorológicas em alguns de seus picos nevados com apoio do projeto nas geleiras e da cooperação internacional.

O Equador vigia, por enquanto, apenas o Antisana, onde conta com três instalações automáticas de diversas alturas e outras três menores em cima do gelo.

As estações medem o vento, a radiação solar, a altura da neve, a precipitação, a temperatura e a saturação de água do solo, que revela a capacidade de armazenamento do local ermo. De algumas delas se vê nas manhãs claras o cone perfeito do Cotopaxi, outro vulcão cujo cume branco diminui a cada dia.

A mudança climática também minguará as colheitas na América Latina e gerará inundações e secas, segundo um relatório do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

A alta da temperatura em dois graus centígrados acima do nível atual provocaria danos crescentes na região, que chegariam em 2050 a cerca de US$ 100 bilhões, de acordo com seus cálculos. Esse dado deveria fazer com que não só os ministérios de Meio Ambiente se preocupem pelas geleiras, mas também os de economia.