De Woodstock à COP20: uma viagem da contra-cultura às mudanças climáticas
O cientista americano Michael Wadleigh, que nos anos 1970 saiu do anonimato ao ganhar um Oscar com o documentário sobre o festival de Woodstock, ícone da contra-cultura, adverte em Lima, onde participa da COP20, que as mudanças climáticas são o problema mais sério que a humanidade enfrenta.
"Minha missão em Lima é falar como cientista de que as mudanças climaticas são o problema mais importante com o qual a humanidade se confronta no século XXI", assegurou à AFP Wadleigh, físico e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
Wadleigh defende o sucesso da 20ª Conferência das Partes da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (simplesmente COP20), celebrada entre 1º e 12 de dezembro em Lima, para que os países costurem um acordo sobre a limitação das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, que causam o aquecimento global.
"A COP deve ser um sucesso se quisermos evitar que a temperatura suba dois graus centígrados nos próximos 20 anos", afirmou este homem de 75 anos, que cobre a cabeça com uma bandana multicolorida e usa uma camisa que remete à era "flower power", dos anos 1960.
"Cada minuto que passa, enviamos à atmosfera duas gigatoneladas de emissões, o que equivale à explosão de duas torres Eiffel", alertou.
Wadleigh, nascido em Ohio (norte dos EUA) há 75 anos, foi à COP20 com recursos próprios, mas a convite da delegação do Peru, mesmo que não possa tomar a palavra nas sessões plenárias porque, afirma, "os governos censuram os cientistas como expositores".
"A realidade dos números é mais dramática do que se diz em círculos políticos. Querem punir o mensageiro", resume Wadleigh, conferencista internacional em desenvolvimento sustentável e professor em Harvard.
"A Convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foi criada há mais de 20 anos, em 1992, e a curva do aquecimento não parou de subir. Foram escritos dezenas de informes, mas quais foram os resultados?", questiona Wadleigh.
"Os governos - acrescenta - discutem, mas não agem. Cada país deve assumir sua parcela de responsabilidade (na crise das mudanças climáticas) porque, sim, é possível conseguir a redução (das emissões de gases)", continua.
"Se não reagirmos a tempo, nossa janela de oportunidades para reduzir as emissões vai fechar", insiste.
- Woodstock e o movimento pela Terra -
"O festival de Woodstock, em 1969, semeou a voz do movimento ecologista. De alguma forma, o primeiro dia da Terra saiu de Woodstock. Houve meio milhão de pessoas, mas outros três milhões estavam a caminho", diz Wadleigh, ao saudar o salto qualitativo do maior movimento musical da contra-cultura no século XXI.
"Woodstock é uma grande metáfora. Woodstock se fez no que era uma fazenda, no meio da natureza", lembrou em declarações à AFP Wadleigh, ao evocar o festival de rock, celebrado entre 15 e 18 de agosto de 1969 no estado de Nova York, onde retratou toda uma geração no documentário mais bem sucedido de todos os tempos.
"Cada canção do festival era sobre um problema social, não era só o amor e outras canções. Era sobre a ecologia, a igualdade de direitos, era pacifista. Era um festival radical", conclui, destacando que todos estes temas estão no filme com o qual ganhou o Oscar, em 1970.
Wadleigh é uma das personalidades que participam da COP20, em Lima, onde sua figura dificilmente passa despercebida e imprime uma aura 'hippie' ao evento que deve contribuir para decidir o futuro da humanidade no século XXI.
"A música dos anos 60 foi um motor para os jovens. Temos que manter esse espírito", disse, antes de se despedir com um aperto de mãos e se misturar à multidão de delegados de 195 países e representantes de ONGs.
ljc-ms/ja/mvv/cc
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