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Semana decisiva para costurar o acordo climático para 2015

Em Lima

08/12/2014 17h02

As negociações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP20) em Lima entraram esta segunda-feira (8) na semana decisiva para avançar para um novo pacto global em 2015 que esteja à altura do desafio que representa o aquecimento global.

Após uma primeira semana de negociações entre as delegações de 195 países, espera-se que agora a conferência dê uma reviravolta mais política, com a chegada, a partir de terça-feira, de ministros e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Os países devem assumir compromissos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa a fim de alcançar a meta da ONU de limitar a 2 graus Celsius o aquecimento global no final do século. A temperatura média da Terra já subiu 0,8º C com relação à era pré-industrial.

Sobre o tabuleiro estão colocadas as perguntas de como os países desenvolvidos vão assumir sua responsabilidade sobre o aquecimento do planeta e se concederão ajudas aos países em desenvolvimento para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

"Se continuarmos agindo como fizemos até agora, poderemos mudar drasticamente a relação entre os seres humanos e o planeta. Poderíamos assistir a migrações maciças de centenas de milhões de pessoas", destacou, em um novo informe, o economista Nicholas Stern, especialista em mudanças no clima.

Esforços insuficientes

O nível atual das emissões de gases levaria a um aumento nas temperaturas entre 4°C e 5°C até 2100, uma perspectiva que pode causar problemas de segurança alimentar e acesso à água potável, assim como eventos climáticos extremos.

Antes da conferência, Estados Unidos, China e União Europeia ofereceram tomar medidas adicionais para reduzir suas emissões, mas mesmo que estas sejam aplicadas, o aumento das temperaturas até o fim do século atingiria 3°C. Este cenário é melhor do que o proposto até agora, mas ainda é insuficiente, segundo relatório da organização Climate Action Tracker (CAT), conhecido nesta segunda-feira.

A CAT diz que agora outros grandes emissores de carbono, como a Índia, deveriam anunciar seus planos de redução e adverte que, de 22 países que foram analisados, "muito poucas promessas são consistentes com a limitação do aquecimento global abaixo dos 2ºC".

Depois de uma semana de discussões em Lima, as organizações não governamentais se mostravam inquietas diante da lentidão para desenhar uma visão compartilhada das ações que serão realizadas.

"Infelizmente, os negociadores parecem ter esquecido que estão aqui para enfrentar uma emergência planetária", disse Tasneem Essop, do grupo ambientalista WWF.

"Este é o momento para que os negociadores passem para a ação e impeçam que o debate se afunde", assegurou Romain Benicchio, da associação Oxfam Internacional.



Indígenas defendem seus territórios

A COP20 serviu de cenário para que diversas comunidades indígenas latino-americanas se manifestem em defesa de seus territórios, que consideram ameaçados pelo desmatamento e a mineração ilegal, assim como pela presença de petroleiras e hidrelétricas.

Nesta segunda-feira, representantes da Articulação de Povos Indígenas do Brasil protestaram contra o governo Dilma Rousseff por uma proposta sobre a demarcação de suas terras que está previsto seja votada esta semana no Congresso.

"O Brasil apresenta aqui metas ambiciosas para a redução de emissões, mas na prática é o contrário: autoriza o desmatamento e a presença de hidrelétricas", afirmou a líder indígena Sonia Guajajara.

Desafio da adaptação

A espinhosa questão do financiamento já prometido até 2020 complica as discussões, pois o mapa do caminho para que os países desenvolvidos aportem até então US$ 100 bilhões anuais para conter os efeitos do aquecimento global que eles geraram ainda está por definir.

Além disso, um estudo das Nações Unidas, difundido há poucos dias, alertou que os custos de adaptação dos países em desenvolvimento para enfrentar as mudanças climáticos são muito mais elevados do calculado.

Estes custos "poderiam ser aumentados a 150 bilhões de dólares para 2025/2030, e entre 250 bilhões e 500 bilhões de dólares para 2050", segundo a ONU.

A chegada dos ministros à conferência de Lima poderia ajudar a definir alguns temas. Ban instalará na terça-feira o diálogo de algo nível.

"O impacto das mudanças climáticas já se sente, especialmente nos países em vias de desenvolvimento. Portanto, devemos reforçar nossa capacidade de adaptação", afirmou à AFP a negociadora sul-africana Judy Beaumont.

O acordo que se espera firmar na próxima conferência climática da ONU em Paris, em dezembro de 2015, seguirá o protocolo de Quioto (2005-2020), que já tinha fixado como meta limitar as emissões de gases de efeito estufa, mas que foi muito insuficiente.

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