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Supermercados não garantem que carne não gera desmatamento, diz Greenpeace

Adesivos de campanha do Greenpeace colados em embalagens de carne - Zé Gabriel/Greenpeace
Adesivos de campanha do Greenpeace colados em embalagens de carne Imagem: Zé Gabriel/Greenpeace

Do UOL, em São Paulo

19/11/2015 06h00

Um relatório elaborado pelo Greenpeace, ONG que luta pela proteção do meio ambiente, aponta que as maiores redes de supermercados do Brasil não garantem que a carne que vendem provenha de áreas que não sofreram desmatamento. 

Em setembro, o IBGE divulgou pesquisa indicando que a abertura de áreas de pastagens foi responsável por 35% do desflorestamento no país entre 2000 e 2010 - com 127.200 km² de áreas desmatadas.
 
O Greenpeace solicitou a redes verejistas como Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar informações sobre suas políticas de aquisição de carne bovina oriunda da Amazônia. A conclusão, segundo a organização, é de que "nenhuma delas consegue garantir que 100% da carne que comercializa é livre de crimes socioambientais”.
 
O relatório da ONG avalia a existência e o alcance das políticas de aquisição de alimentos, os critérios dessas políticas e quanto os supermercados são transparentes em relação ao tema junto a seus consumidores e fornecedores. 
 
Dentre as empresas analisadas, o Walmart foi a que apresentou o melhor resultado, alcançando 62% dos requisitos considerados fundamentais pelo Greenpeace. Atrás dele ficaram o Carrefour, com 23% dos requisitos cumpridos, o Grupo Pão de Açúcar, com 15%, e o Cencosud, com 3%. Nenhuma delas atingiu o "patamar verde" de, no mínimo, 70% dos requisitos contemplados.
 
Três supermercados, o Grupo Pereira-Comper (presente no Mato Grosso), o Grupo DB (que têm forte presença na Amazônia) e o Yamada, não responderam à consulta feita pelo Greenpeace. 
 
Segundo o Greenpeace, “desde 2009 existem frigoríficos comprometidos com o desmatamento zero". Com o relatório, a ONG inaugura campanha para convencer os supermercados a assumirem a mesma responsabilidade. 
 
Para Adriana Charoux, integrante do Greenpeace no Brasil, os supermercados possuem força para ajudar o Brasil a atingir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. "Eles podem impedir que a carne contaminada com a destruição da floresta chegue ao nosso prato”, afirma. 
 
"Esta é a chance que os supermercados têm de fazer parte da solução, trazendo a proteção das florestas para o centro de suas políticas de compra de carne bovina”, diz a ativista. 
 
O relatório do Greenpeace também aponta falta de conhecimento pelos supermercados sobre produtos que poderiam estar relacionados ao trabalho escravo e à violência no campo.“Os brasileiros têm o direito de saber se sua refeição está contribuindo com a destruição da Amazônia ou com a violação de direitos humanos", afirma Adriana Charoux.
 

Campanha 

Para chamar atenção dos consumidores para o problema, o Greenpeace realizou uma ação em quatro lojas do Pão de Açúcar em São Paulo. Ativistas da ONG colaram etiquetas em bandejas de carne com a pergunta “você sabe de onde vem esta carne?”. 
 
A ONG coletou mais de 1,4 milhão de assinaturas de cidadãos em apoio a projeto de lei para regulamentação do "desmatamento zero" - apresentado ao Congresso Nacional em outubro.
 

Outro Lado

O relatório do Greenpeace informa que, em 2013, o Walmart apresentou um compromisso pelo Desmatamento Zero e anunciou uma política de aquisição para carne e seus derivados no Brasil. De acordo com a companhia, “é um documento interno que determina regras e responsabilidades para todos os empregados da área comercial que estejam envolvidos no processo de comercialização de carne no bioma Amazônia”. 

Ainda segundo o relatório da ONG, o Carrefour se comprometeu a alcançar o desmatamento líquido zero até 2020. O grupo informou ao Greenpeace que, atualmente,  recusa gado de fazendas envolvidas com desmatamento ilegal. 
 
De acordo com o questionário respondido pelo Grupo Pão de Açúcar, atualmente 70% de sua carne é fornecida pelos três maiores frigoríficos do país, que já estão comprometidos com o Desmatamento Zero e já implementaram sistemas de monitoramento que impedem fazendas com novos desmatamentos de serem fornecedoras da rede. 
 
No relatório, o Greenpeace afirma que a rastreabilidade dos fornecedores indiretos é um grande desafio para todo o setor. Entretanto, diz que as empresas avaliadas, devido a grande participação que possuem no mercado - chegando a cerca de dois terços de todas as vendas de varejo em território nacional - possuem "responsabilidade de se comprometer com uma cadeia de fornecimento livre de desmatamento e de assumir um papel de protagonismo na busca por soluções que melhorem a rastreabilidade dos fornecedores".