Supermercados não garantem que carne não gera desmatamento, diz Greenpeace
Um relatório elaborado pelo Greenpeace, ONG que luta pela proteção do meio ambiente, aponta que as maiores redes de supermercados do Brasil não garantem que a carne que vendem provenha de áreas que não sofreram desmatamento.
Em setembro, o IBGE divulgou pesquisa indicando que a abertura de áreas de pastagens foi responsável por 35% do desflorestamento no país entre 2000 e 2010 - com 127.200 km² de áreas desmatadas.
O Greenpeace solicitou a redes verejistas como Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar informações sobre suas políticas de aquisição de carne bovina oriunda da Amazônia. A conclusão, segundo a organização, é de que "nenhuma delas consegue garantir que 100% da carne que comercializa é livre de crimes socioambientais”.
O relatório da ONG avalia a existência e o alcance das políticas de aquisição de alimentos, os critérios dessas políticas e quanto os supermercados são transparentes em relação ao tema junto a seus consumidores e fornecedores.
Dentre as empresas analisadas, o Walmart foi a que apresentou o melhor resultado, alcançando 62% dos requisitos considerados fundamentais pelo Greenpeace. Atrás dele ficaram o Carrefour, com 23% dos requisitos cumpridos, o Grupo Pão de Açúcar, com 15%, e o Cencosud, com 3%. Nenhuma delas atingiu o "patamar verde" de, no mínimo, 70% dos requisitos contemplados.
Três supermercados, o Grupo Pereira-Comper (presente no Mato Grosso), o Grupo DB (que têm forte presença na Amazônia) e o Yamada, não responderam à consulta feita pelo Greenpeace.
Segundo o Greenpeace, “desde 2009 existem frigoríficos comprometidos com o desmatamento zero". Com o relatório, a ONG inaugura campanha para convencer os supermercados a assumirem a mesma responsabilidade.
Para Adriana Charoux, integrante do Greenpeace no Brasil, os supermercados possuem força para ajudar o Brasil a atingir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. "Eles podem impedir que a carne contaminada com a destruição da floresta chegue ao nosso prato”, afirma.
"Esta é a chance que os supermercados têm de fazer parte da solução, trazendo a proteção das florestas para o centro de suas políticas de compra de carne bovina”, diz a ativista.
O relatório do Greenpeace também aponta falta de conhecimento pelos supermercados sobre produtos que poderiam estar relacionados ao trabalho escravo e à violência no campo.“Os brasileiros têm o direito de saber se sua refeição está contribuindo com a destruição da Amazônia ou com a violação de direitos humanos", afirma Adriana Charoux.
Campanha
Para chamar atenção dos consumidores para o problema, o Greenpeace realizou uma ação em quatro lojas do Pão de Açúcar em São Paulo. Ativistas da ONG colaram etiquetas em bandejas de carne com a pergunta “você sabe de onde vem esta carne?”.
A ONG coletou mais de 1,4 milhão de assinaturas de cidadãos em apoio a projeto de lei para regulamentação do "desmatamento zero" - apresentado ao Congresso Nacional em outubro.
Outro Lado
O relatório do Greenpeace informa que, em 2013, o Walmart apresentou um compromisso pelo Desmatamento Zero e anunciou uma política de aquisição para carne e seus derivados no Brasil. De acordo com a companhia, “é um documento interno que determina regras e responsabilidades para todos os empregados da área comercial que estejam envolvidos no processo de comercialização de carne no bioma Amazônia”.
Ainda segundo o relatório da ONG, o Carrefour se comprometeu a alcançar o desmatamento líquido zero até 2020. O grupo informou ao Greenpeace que, atualmente, recusa gado de fazendas envolvidas com desmatamento ilegal.
De acordo com o questionário respondido pelo Grupo Pão de Açúcar, atualmente 70% de sua carne é fornecida pelos três maiores frigoríficos do país, que já estão comprometidos com o Desmatamento Zero e já implementaram sistemas de monitoramento que impedem fazendas com novos desmatamentos de serem fornecedoras da rede.
No relatório, o Greenpeace afirma que a rastreabilidade dos fornecedores indiretos é um grande desafio para todo o setor. Entretanto, diz que as empresas avaliadas, devido a grande participação que possuem no mercado - chegando a cerca de dois terços de todas as vendas de varejo em território nacional - possuem "responsabilidade de se comprometer com uma cadeia de fornecimento livre de desmatamento e de assumir um papel de protagonismo na busca por soluções que melhorem a rastreabilidade dos fornecedores".
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