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Mais da metade das espécies de árvores da Amazônia estão ameaçadas

Paula Moura

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/11/2015 17h00

Um estudo reunindo 158 pesquisadores de 21 países concluiu que pelo menos 36% e até 57% de todas espécies de árvores da Amazônia devem estar ameaçadas. A pesquisa, publicada nesta sexta-feira (20) na revista Science Advances, usou os critérios da lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Nesta lista, se há perda de 30%, a espécie é considerada vulnerável; de 50%, ameaçada e de 80% é em perigo de extinção.

O declínio afeta árvores que são representativas da Amazônia como a castanheira, o cacaueiro e a palmeira do açaí. No entanto, a situação é pior em relação a árvores com menor incidência ou mesmo incidência em apenas algumas áreas, explica o pesquisador que liderou o equipe,  Hans ter Steege, do Centro de Biodiversidade Naturalis, na Holanda.

Muito se fala sobre os efeitos do desmatamento da Amazônia sobre o ecossistema ou o clima como um todo, mas pouco se sabe sobre o impacto em espécies específicas. “Há muitos dados que não sabemos, por exemplo, quantas espécies de anfíbios, insetos, fungos, bactérias, etc.”, diz o líder da pesquisa. Steege e seus colegas colheram dados desde 2009 e, em 2013, chegaram à estimativa de que há cerca de 15 mil espécies diferentes de árvores na região.

Assim, ao sobrepor mapas de pesquisas na floresta e mapas de desmatamento atual e projeções para o futuro, eles conseguiram estimar quantas espécies foram perdidas e onde. 

No entanto, Steege espera que o estudo tenha um impacto positivo. “Ainda temos oportunidade de preservar. Não é para pensar que não podemos fazer nada. Podemos pressionar para isso ir para a direção certa”, diz. A pesquisa aponta que áreas protegidas, como as unidades de conservação e florestas nacionais, e territórios indígenas, podem proteger as espécies mais ameaçadas se essas áreas não sofrerem mais degradação até 2050. Essas áreas representam de 40% a 50% da Bacia Amazônica.

“O pior desmatamento ocorre nas partes leste e sul da Amazônia, que devem perder 80% da cobertura vegetal e muitas espécies”, diz Steege. “Muitas pessoas na Europa acreditam que o desmatamento deve ser totalmente parado. Mas a situação é mais complexa, pois há pessoas que retiram seu sustento e nós devastamos a Europa também. Por isso, acredito que a solução é proteger muito bem as áreas de preservação, como unidades de conservação, florestais nacionais, terras indígenas. “Ou nos mexemos e protegemos esses parques e reservas indígenas ou o desmatamento vai acabar com eles até vermos extinção em grande escala”, diz William Laurance of James Cook University, na Austrália, que participou do estudo.

Para Steege, o primeiro passo é parar qualquer atividade ilegal, seja extração de madeira, mineração ou outra. Todos os países que possuem a floresta enfrentam mesmas dificuldades: área muito grande e número pequeno de agentes de fiscalização, aponta. Mas o principal passo é planejamento.

Ele cita como exemplo usar para a agricultura apenas áreas que já foram desmatadas. “Se é inevitável o desmatamento por razões econômicas e para produzir alimentos, que seja o mais planejado possível”, diz o holandês que já viveu dez anos na Guiana e viaja à Amazônia todos os anos e fica pelo menos um mês. Além disso, obviamente, é garantir a integridade e segurança dos 40% a 50% que são protegidos.

Os autores ressaltam que, formalmente, colocar uma espécie na lista vermelha necessita de uma análise caso a caso pelo gruop da IUCN, levando em conta outros dados também.