Caruaru (PE) entra em calamidade pela chuva, mesmo enfrentando seca recorde
O município de Caruaru, maior cidade do interior de Pernambuco, localizado na região agreste do Estado, entrou em calamidade pública pela chuva e está em estado de emergência pela seca, a maior já registrada nos últimos 50 anos. As duas situações antagônicas vivenciadas pelo município se deve ao colapso dos mananciais do sistema de abastecimento da Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento), que não acumularam água suficiente durante o temporal para acabar com o racionamento de água na cidade.
O município foi incluído no decreto de estado de calamidade pública pela chuva no Diário Oficial de terça-feira (30). Há sete anos Caruaru enfrenta estiagem severa e vem recebendo ajuda do governo federal para levar água à zona rural por meio de caminhões pipa do Exército Brasileiro desde o ano passado. O abastecimento de água da cidade é feito por meio de rodízio de 20 dias sem água e cinco dias com água.
O técnico da Defesa Civil, Kleber Aleksander de Queiroz, explica que os 220mm de chuva se concentraram na cidade no período de 24h, no fim de semana passada, escoaram para a bacia do rio Ipojuca, onde não existem mananciais que abastecem a cidade.
O sistema de abastecimento de água de Caruaru é feito pelos reservatórios do Prata, em Bonito, e Jucazinho, em Surubim, na região Agreste do Estado.
“As chuvas causaram transtornos urbanos, pois encheram o rio Ipojuca, que corta a cidade e não é proveniente de mananciais que abastecem a Caruaru. O estado de emergência pela seca continua porque os mananciais que abastecem Caruaru ainda continuam em situação crítica”, explicou Queiroz.
No fim de semana, três pessoas morreram devido ao temporal que atingiu Pernambuco. Em Caruaru, uma mulher morreu afogada após ser arrastada pelas águas do riacho do Mocó e um homem está desaparecido ao ser levado pelas águas no povoado de Lagoa de Pedra, zona rural de Caruaru.
Em todo Estado, são cerca de 35 mil pessoas desalojadas pelas chuvas. Segundo a Defesa Civil de Caruaru, 1.800 ruas foram danificadas.
Água que invade a casa, mas não sai da torneira
A dona de casa Maria de Lourdes da Silva, 63, mora há quase trinta anos em um imóvel na beira do rio Ipojuca. Ela relata que sofre com a falta de água nas torneiras e com as inúmeras enchentes.
Para enfrentar 20 dias sem água na torneira, a dona de casa construiu dois tanques para acumular o recurso. Entretanto, os reservatórios são insuficientes.
A gente tem de se virar como pode. Um ajuda o outro e eu pego água no terreno vizinho quando falta aqui. É uma situação difícil, mas não temos dinheiro para morar em outro lugar, com uma caixa de água maior.”
A enchente do rio Ipojuca levou parte do quintal da casa de Maria de Lourdes, no fim de semana. Ela e os dois filhos foram obrigados a passar o fim de semana na casa de parentes porque a água do Ipojuca ameaçava invadir o imóvel.
“Foi muita água que desceu para o rio e tivemos medo da casa ser invadida pela enchente como aconteceu em 2010, que deu quase dois metros de altura”, disse.
O auxiliar administrativo Wesley Leandro Rodrigues, 38, está de mudança depois que teve a casa invadida pelas águas da enchente do rio Ipojuca, na noite do último sábado (27).
Ele, a mulher, dois filhos e a sogra perderam camas, colchões, guarda-roupas e cômodas com a água que chegou a quase um metro de altura dentro do imóvel.
Foi um desespero porque tudo aconteceu muito rápido, mesmo a gente tirando as coisas de dentro de casa e subindo para o primeiro andar, a chuva forte molhava tudo."
Rodrigues reclama que sofre com a falta de água nas torneiras e também “quando a chuva vem demais alaga a casa”.
No bairro que ele mora o racionamento de água é de 20 dias sem água e cinco dias com água nas torneiras.
“O reservatório que temos não dá para cinco pessoas passarem os 20 dias sem água na torneira. Aí temos que comprar água de caminhão e é muito caro”, conta.
Colapso das barragens
Segundo a Compesa, antes da chuva, a barragem do Prata estava em pré-colapso com 12,73% da capacidade. Agora está com 52% da sua capacidade. Já a barragem de Jucazinho secou e não tem retirada de água desde setembro de 2016. Segundo a Compesa, este é o pior cenário de Jucazinho desde a inauguração, ocorrida no ano de 2000.
Apesar do acúmulo de água no Prata, a Compesa informou que vai manter o racionamento de água atual. A companhia disse que realizará estudo sobre o volume acumulado na barragem do Prata e das previsões meteorológicas no final do período chuvoso, que será no fim do mês de julho, para saber se manterá o mesmo cronograma de remanejamento de água em Caruaru.
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