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Apuração da PF contradiz hipóteses de Bolsonaro e Salles sobre óleo no NE

O navio Bouboulina, investigado pelo derramamento de óleo nas praias do Nordeste - C. Plague/Fleetmoon
O navio Bouboulina, investigado pelo derramamento de óleo nas praias do Nordeste Imagem: C. Plague/Fleetmoon

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

01/11/2019 16h21

Resumo da notícia

  • Bolsonaro havia cogitado boicote ao pré-sal como causa para o vazamento
  • Salles chegou a falar em ação proposital do Greenpeace
  • Na web, teorias passaram a circular teorias falando em ato deliberado venezuelano
  • Mas a PF não investiga nenhuma dessas hipóteses

As suspeitas da PF (Polícia Federal) de que o navio mercante Bouboulina, de bandeira grega, possa ser o responsável pelo vazamento do óleo que atinge o Nordeste contradizem hipóteses publicamente divulgadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Em outubro, Bolsonaro disse ter "quase certeza" de que o derramamento seria criminoso. "O último problema que tivemos: derramamento criminoso, com toda certeza, quase certeza que seja criminoso, na região costeira do Nordeste", declarou.

O presidente também chegou a sugerir que o vazamento poderia ter acontecido para prejudicar o leilão de excedentes do pré-sal, que está marcado para o dia 6 de novembro e pode render uma arrecadação de até R$ 106 bilhões ao governo.

"Coincidência ou não, nós temos um leilão da cessão onerosa. Eu me pergunto, a gente tem que ter muita responsabilidade no que fala: poderia ser uma ação criminosa para prejudicar esse leilão? É uma pergunta que está no ar", disse, sem apontar provas. No momento da fala, o presidente estava ao lado do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, e de oficiais da Marinha.

De acordo com a PF, no entanto, ainda não se sabe quais foram as circunstâncias do vazamento e nem se ele ocorreu de forma intencional (ou seja, criminosa). Até agora, as investigações permitiram apontar que o derramamento aconteceu entre os dias 28 e 29 de julho —fator que permitiu identificar o único navio petroleiro que navegou pela área suspeita nestas datas: o navio mercante Bouboulina, de bandeira grega.

"Nós temos o local, a data e indícios suficientes de autoria. Faltam ainda detalhes das circunstâncias. A investigação está em andamento para saber se foi um vazamento ou derramamento proposital", disse o delegado federal Agostinho Cascardo, um dos responsáveis pela investigação no Rio Grande do Norte.

Ainda segundo as investigações, a mancha inicial de petróleo cru em águas internacionais foi localizada a aproximadamente 700 quilômetros da costa brasileira em sentido leste, com extensão ainda não calculada.

Salles falou em Greenpeace

Salles, por sua vez, insinuou que um navio do Greenpeace poderia estar por trás do vazamento. Em uma publicação no Twitter, o ministro afirmou que um navio do "Greenpixe" estaria "navegando em águas internacionais, em frente ao litoral brasileiro, bem na época do derramamento de óleo venezuelano".

Apesar da fala do ministro, não há indicativo de que uma eventual ação do Greenpeace esteja sendo analisada nas investigações do vazamento. Além disso, as rotas dos navios do Greenpeace não coincidem com o derramamento na costa nordestina —a única embarcação da ONG que passou pela costa do Nordeste o fez após a descoberta das manchas de óleo no litoral.

Óleo proveniente da Venezuela

Por outro lado, as investigações indicam que o óleo pode ser, de fato, de origem venezuelana. Mas nada indica que haja uma ação do governo da Venezuela no vazamento.

Segundo a PF, o navio mercante Bouboulina atracou na Venezuela em 15 de julho, permaneceu por três dias e seguiu rumo a Singapura, pelo oceano Atlântico, para então aportar apenas na África do Sul. O derramamento do óleo teria ocorrido nesse deslocamento.

Na investigação, de acordo com a PF, ficou claro que o sistema de rastreamento da embarcação confirmou a passagem pelo ponto de origem do vazamento, após ter atracado na Venezuela.

O navio suspeito, informou a Marinha, ficou detido nos Estados Unidos por quatro dias, devido a "incorreções de procedimentos operacionais no sistema de separação de água e óleo para descarga no mar". Mas não há informação se isso ocorreu antes ou depois do vazamento.

Além disso, segundo informações do MPF (Ministério Público Federal) no Rio Grande do Norte, graças a informações da Marinha, a Diretoria de Inteligência Policial da PF concluiu que "não há indicação de outro navio que poderia ter vazado ou despejado óleo, proveniente da Venezuela".

Análises feitas pela Petrobras também apontam que o óleo é de origem venezuelana: mais especificamente, uma mistura da produção de três campos do país.