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Defesa contradiz Bolsonaro sobre óleo e diz não saber se pior está por vir

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

04/11/2019 14h51Atualizada em 04/11/2019 17h07

Resumo da notícia

  • Segundo presidente, petróleo que chegou à costa é pequena quantidade do que foi derramado
  • Ministro, porém, afirma que governo não sabe quanto óleo ainda pode atingir as praias
  • Para comandante da Marinha, material parece estar diminuindo
  • Ele afirma há mais de seis dias que não chega óleo a Pernambuco
  • Governo contabiliza retirada de 4.000 t de óleo e 314 localidades atingidas

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, afirmou hoje que o governo não dispõe da informação sobre a quantidade total de óleo que ainda pode chegar à costa brasileira. "Nós não sabemos a quantidade derramada, o que está por vir ainda", disse o ministro.

O ministro fez a afirmação ao comentar a declaração do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que, em entrevista a TV Record, afirmou que "o pior ainda está por vir". Especialistas ouvidos pelo UOL já haviam dito que não é possível saber se chegará mais ou menos óleo à região.

Hoje, Azevedo afirmou que a Marinha e órgãos do governo federal estão acompanhando as ocorrências de óleo na costa, mas que o avanço das manchas de petróleo não é de fácil detecção por satélites ou radares, o que dificulta o trabalho das equipes.

"É difícil, porque ele [o óleo] fica a meia água, é imperceptível", disse Azevedo em entrevista coletiva sobre o tema.

"Há sinais de que quantidade está diminuindo"

O comandante de Operações Navais da Marinha, o almirante Leonardo Puntel, que coordena o trabalho das equipes no Nordeste, afirmou que a chegada do óleo às praias dá sinais de estar diminuindo.

"O que nós estamos vendo nos últimos dias é um arrefecimento real, estatístico, da quantidade de óleo que está chegando às praias. Há mais de seis dias que não chega óleo a Pernambuco", disse Puntel.

Questionado se Bolsonaro se baseou em alguma informação técnica para afirmar que "o pior ainda está por vir", o almirante Puntel não apresentou uma resposta clara.

Segundo o comandante da Marinha, são produzidos relatórios diários sobre a situação do óleo no Nordeste pelo GAA (Grupo de Avaliação e Acompanhamento), constituído pelo Ibama, pela Marinha e pela ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Mas, ao ser questionado se algum desses relatórios apontou que a situação nas praias poderia piorar, Puntel não confirmou nem negou se essa informação foi fornecida ao presidente.

"Eles conduzem os relatórios exatamente à situação factual, e a situação factual é essa que nós mostramos, todo o movimento das correntes, dos óleos, o movimento da corrente submersa desses óleos que navegam submersos e suas diversas direções, que são imprevisíveis", respondeu Puntel.

Ao ser perguntado sobre o motivo de o presidente Bolsonaro ter dito que o pior ainda estaria por vir, Puntel afirmou que não poderia ser descartada "nenhuma possibilidade" e que o governo não sabe a quantidade de óleo que ainda pode chegar às praias.

"Todo acidente ou incidente que é inédito, ele leva a várias ideias e muitas possibilidades. Nesse acidente, nós não podemos descartar nenhuma possibilidade, todas as possibilidades têm que ser aventadas e tomar medidas para sua mitigação possível", disse Puntel.

"Nós não sabemos se existe ainda muita coisa ou pouca coisa", afirmou o almirante.

Desde o final de agosto, praias dos estados do Nordeste começaram a ser atingidas por manchas de óleo, identificado como petróleo cru, ou seja, que não foi refinado.

Até o momento, o óleo já chegou a 314 localidades de 110 municípios em todos os nove estados nordestinos.

Por enquanto, o governo já contabilizou 4.000 toneladas de óleo e resíduos coletados nas praias, segundo números informados pelos governos estaduais e pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis).

Marinha envia mais dois navios para a operação

Foi divulgado durante a entrevista aos jornalistas que a Marinha decidiu enviar hoje para auxiliar na operação no Nordeste seus dois maiores navios: o Atlântico, um porta helicópteros, e o navio-doca Bahia. As embarcações deixaram hoje o Rio de Janeiro.

No total, já foram empregadas nas ações contra o óleo 27 embarcações, 14 aeronaves, 3.300 militares da Marinha e 5.000 militares do Exército.