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Atraso, desinformação: pesquisadores criticam Brasil sobre resposta ao óleo

Menino coberto de óleo deixa água na praia de Cabo de Santo Agostinho (PE) - Leo Malafaia - 21.out.2019/AFP
Menino coberto de óleo deixa água na praia de Cabo de Santo Agostinho (PE) Imagem: Leo Malafaia - 21.out.2019/AFP

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

13/01/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Pesquisadores brasileiros e estrangeiros criticaram a atuação do governo federal
  • Em artigos, eles citam de demora a falhas na resposta ao problema
  • Cartas podem ajudar a comunidade internacional a lidar com o tema, acreditam

Três cartas assinadas por 35 pesquisadores brasileiros e estrangeiros criticam a demora e a forma de atuação do governo federal na resposta ao problema causado pelo derramamento de óleo que polui praias no Nordeste e no Sudeste desde o segundo semestre do ano passado.

As manifestações foram publicadas na edição desta semana da revista Science, uma das mais conceituadas do mundo em divulgação científica. O grupo também cobra ações para minimizar os danos ambientais.

Atraso em resposta

O primeiro dos artigos é assinado por seis pesquisadores e liderado Marcelo Soares, do Instituto de Ciência do Mar da UFC (Universidade Federal do Ceará). Eles afirmam que faltou coordenação e diretrizes transparentes para uma resposta rápida federal e que isso atrasou uma reação ao derramamento de óleo.

O grupo lembra que a administração de Jair Bolsonaro (sem partido) dissolveu os comitês "responsáveis por acidentes com derramamentos de óleo no início de 2019".

"Campanha de Desinformação"

A segunda carta é de três cientistas e foi liderada pela doutora em Ecologia Heloisa Brum, do Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte). Eles citam que houve uma "campanha de desinformação" do governo durante a fase de ação, mas diz que que ele por si só "não descreve suficientemente a improbidade do governo."

"O governo federal tem sido profundamente relaxado diante dessa catástrofe ambiental", diz o texto, citando que o plano de contingência "foi indevidamente implementado". "[Ele] deveria conter um conjunto abrangente de diretrizes para organizar um plano de ação integrado que mitigou contaminação adicional do derramamento e aliviou seus impactos", alegam.

Em dezembro, óleo continuava a chegar em praias do Nordeste

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Imitar Europa e Austrália

Já o terceiro artigo, assinado por 26 pesquisadores do Brasil e o mundo, e liderado por Paulo Horta, do Departamento de Botânica da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), cobra uma ação eficiente para avaliar, minimizar os impactos do óleo e proteger ambientes marítimos.

"Este evento não deve ser subestimado ou oculto", traz o texto. "Defendemos ações urgentes para avaliar e mitigar o derramamento de óleo e para remediar e restaurar áreas na rota da mancha de óleo. O Brasil deve seguir os passos da Austrália e da Europa e priorizar a conservação do leito de rodolitos [tipo de recifes de corais]", afirma.

Alerta à comunidade científica mundial

O UOL conversou com os três líderes dos artigos, que comemoraram a publicação das cartas num dos veículos mais importantes do mundo. Eles classificaram os artigos como um alerta lançado à comunidade acadêmica mundial.

A pesquisadora Heloisa Brum lembra que, no caso da carta liderada dela, os autores moram no Nordeste e sentiram na pele o problema. "Para nós, o desastre foi visível aos olhos, assim como a falta de atitude coordenada, eficiente e em tempo real do governo Federal, como esse tipo de desastre exige", conta.

Sentimos a necessidade de comunicar isso ao mundo, e as revistas internacionais de alto fator de impacto são o melhor canal de comunicação para essa mensagem
Heloisa Brum, doutora em Ecologia

Já Marcelo Oliveira relatou à reportagem que a publicação é algo importante para a ciência brasileira. "Estamos em um momento histórico, e estamos registrando isso em uma das maiores revistas do mundo e chamando a atenção nacional e internacional", afirma.

Ele cita que os artigos são importantes para alertar a comunidade internacional sobre o derramamento e a possibilidade de casos similares a esse. "A tendência é ter mais derrames desse tipo no mundo", diz. "A comunidade acadêmica precisa estar atenta e dar as ferramentas para que os governos e empresas façam direito nos casos que surgirem."

Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente não se manifestou sobre as cartas dos pesquisadores até o momento.