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"Bolsonaro é o Jim Jones da destruição ambiental", diz Marina Silva

A ex-senadora Marina Silva (Rede-AC) contestou declarações recentes de Bolsonaro sobre a Amazônia - Wilson Dias/Agência Brasil
A ex-senadora Marina Silva (Rede-AC) contestou declarações recentes de Bolsonaro sobre a Amazônia Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

20/07/2020 09h28

Conhecida por sua atuação política em questões relacionadas ao meio ambiente, Marina Silva (Rede-AC) disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é "o Jim Jones da destruição ambiental".

A referência da candidata à presidência de 2018 foi ao fundador da seita Templo dos Povos, que levou centenas de seus seguidores a cometerem um assassinato/suicídio em massa em novembro de 1978 em Jonestown, Guiana.

Marina Silva fez a citação ao ser questionado sobre uma declaração recente de Bolsonaro de que o solo da Amazônia seria fértil e a floresta se reconstituiria sozinha quando a deixa de ser explorada. Ela contestou a afirmação do presidente e chamou de covardia verbal dizer que indígenas e caboclos causam "parte considerável" do desmatamento.

"Isso é mais uma insanidade, uma coisa incompreensível. Bolsonaro é o Jim Jones da destruição ambiental. A Amazônia não tem um solo fértil a princípio. Por ser uma floresta densa, a fauna e a vegetação, graças à umidade, criam uma camada de nutrientes para esse solo. Mas é uma camada fina. Aquilo tudo vai embora com as chuvas torrenciais da Amazônia e também com as queimadas", disse.

"O que vai nascer ali de novo, depois de anos, é uma floresta secundária, de riqueza muito inferior à floresta primária. As capoeiras levam décadas para se regenerar. E vai ter uma conformação muito inferior em relação à própria madeira, às espécies. Um cumaru-ferro leva 800 anos para crescer. É um ato de covardia política e covardia verbal colocar na conta dos indígenas, dos ribeirinhos e das comunidades tradicionais a responsabilidade por esses incêndios" completou.

De acordo com Marina Silva, Jair Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, "estão cumprindo o que anunciaram durante a campanha", que seria "o desmonte de um processo de gestão ambiental que funcionou bem e foi sendo aprimorado ao longo de sucessivos governos, com acúmulos importantes".

"Esse governo não tem compromisso com a gestão ambiental e nem capacidade técnica. É por isso que não há discurso, não há Powerpoint do vice-presidente que resista a insanidades como essas que Bolsonaro repete", afirmou, em referência a outra declaração recente de Bolsonaro, de que a Europa é uma seita ambiental.

Para Marina Silva, a postura do Governo Federal com a questão tem efeitos práticos para o país. "Não é que o Brasil esteja à margem do que se discute hoje no mundo em relação à bioeconomia. O Brasil está trancado do lado de fora. Há vários estudos e documentos mostrando o potencial de se gerar milhões de empregos preservando a natureza e fazendo uma gestão eficiente dos recursos naturais. O governo não está a par, não está nem lendo esses estudos. Os custos já estão aí", disse.

Como exemplo, Marina Silva citou a Holanda não ter ratificado o acordo Mercosul-União Europeia - e a pressão para que o Parlamento Europeu também não ratifique -, a dispensa da Vale e da Petrobras por um fundo fundo soberano norueguês e a interrupção de repasses para o Fundo Amazônia.

"Por tudo isso eu repito que o setor do agronegócio responsável tem de se dissociar da agenda do Bolsonaro e do Salles. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos, quando o Trump quis reativar a indústria do carvão e os próprios empresários deixaram claro que não comprariam essa energia", disse Marina.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.