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Noruega cobra Brasil sobre desmatamento e vê falta de vontade política

Fundo da Amazônia ainda pode ser reativado - Divulgação/Expedição Jari-Paru 2019.
Fundo da Amazônia ainda pode ser reativado Imagem: Divulgação/Expedição Jari-Paru 2019.

Colaboração para o UOL

26/10/2020 08h43Atualizada em 26/10/2020 09h53

De 2008 até 2019, a Noruega contribuiu com 90% dos recursos para o Fundo da Amazônia, utilizado para combater o desmatamento no Brasil. Mas o país europeu se desentendeu com o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no ano passado e parou de repassar os valores. O ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Sveinung Rotevatn, acredita que a parceria pode ser retomada, mas vê falta de vontade política do Brasil na defesa do meio ambiente.

"O congelamento do Fundo Amazônia foi decidido pelo governo e tem amplo apoio do Parlamento e dos noruegueses. Há profunda preocupação na nossa população sobre os acontecimentos na Amazônia e a aparente falta de vontade política de parar o desmatamento. Em razão disso, paralisamos os desembolsos. É uma situação muito infeliz", lamentou Rotevatn, em entrevista ao jornal Valor Econômico.

O ministro norueguês também falou sobre "vontade política" quando disse que é possível reativar as doações do Fundo da Amazônia.

"Recebo cartas toda semana pedindo que solicitemos das autoridades brasileiras progresso concreto antes de reabrir o Fundo Amazônia. A preocupação não vem apenas dos partidos políticos e cidadãos noruegueses, mas também de negócios e investidores financeiros. Eles temem pela sua reputação e pelo risco financeiro quando o assunto é desmatamento da Amazônia. É importante que o governo brasileiro demonstre clara vontade política de parar os sérios níveis de desmatamento que estamos vendo", pediu Rotevatn.

Um dos pontos de discordância entre os governos foi a intenção de retirar a participação da sociedade civil no conselho do Fundo da Amazônia. Foi uma proposta do ministro brasileiro, Ricardo Salles, que causou estranheza aos noruegueses. Neste ponto eles não pretendem retroceder.

"É uma proposta bastante peculiar, porque o envolvimento da sociedade civil no Fundo Amazônia foi parte do desenho original feito pelo Brasil. E esta arquitetura, com a participação da sociedade civil, foi um dos motivos que fizeram com que achássemos que a iniciativa era uma boa ideia", afirmou o norueguês.

Apesar dessa discordância, Rotevatn elogiou o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, que tem comandado o projeto Amazônia Legal.

"Estamos em diálogo com as autoridades brasileiras. Apreciamos muito a conversa que tivemos com o vice-presidente Hamilton Mourão. Notamos seus esforços em conter o desmatamento. Sinais políticos claros do governo brasileiro de que a ilegalidade não será tolerada serão essenciais para esse processo seguir em frente", cobrou o ministro.

O presidente Jair Bolsonaro costuma criticar os países europeus por não terem cuidado das próprias florestas. O ministro norueguês respondeu a isso e reconheceu o erro, mas disse que o país aprendeu com isso. Uma prova, segundo ele, é o estímulo ao uso de combustíveis renováveis.

"Há anos a Noruega tem sido um grande produtor de petróleo, mas a produção vai declinar nas próximas décadas. E estamos minando a demanda pelo nosso próprio produto porque hoje, a cada dois carros vendidos na Noruega, um é elétrico. Investimos pesado em renováveis e tecnologias de baixa emissão. Estamos fazendo a transição na nossa economia, gastando muito nisso e ajudando outros países. Estamos envolvidos na transição verde da nossa economia", explicou Rotevatn.