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Brasil perdeu até 42% da floresta remanescente da Mata Atlântica desde 1985

Bombeiros apagam incêndio em reserva de Mata Atlântica em Bauru (SP) - Reprodução / Corpo de Bombeiros
Bombeiros apagam incêndio em reserva de Mata Atlântica em Bauru (SP) Imagem: Reprodução / Corpo de Bombeiros

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

11/12/2020 06h01

Um estudo publicado hoje na revista "Nature Communications" revela que os impactos humanos sobre a Mata Atlântica brasileira já provocaram perdas de 23%, no caso dos estoques de carbono; a 42%, para o caso de árvores típicas exclusivas do bioma.

O levantamento foi feito por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), em parceria com pesquisadores da França e da Holanda.

Hoje, o país tem 80% da Mata Atlântica desmatados. Os dados analisados são referentes ao período de 1985 e 2017.

Para realizar o levantamento, foram analisadas informações coletadas em 1.819 pesquisas de campo, com amostras de biomassa de mais de um milhão de árvores de 3 mil espécies.

"Nós estimamos que a erosão da biomassa nos remanescentes da Mata Atlântica é equivalente à perda de 55 a 70 mil km² de florestas ou US$ 2,3 bilhões a 2,6 bilhões em créditos de carbono. Isso tem implicações diretas nos mecanismos de mudança climática", afirma o estudo.

De acordo com o artigo, os impactos do homem não se restringem apenas ao desmatamento e se estendem ao fogo, ao corte de madeira e invasão de animais e plantas exóticas, por exemplo. Outro ponto ressaltado é como áreas protegidas (reservas e unidades de conservação) evoluíram melhor.

"No entanto, mesmo dentro de áreas protegidas, detectamos perdas generalizadas de riqueza de espécies, propriedades de espécies e biomassa florestal", avalia o estudo.

Estoque de espécies exclusivas da Mata Atlântica diminui

Segundo Renato Augusto Lima, líder do estudo e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), os altos percentuais causaram surpresa até mesmo à equipe que investiga o assunto. "Se pensarmos que perdemos mais de 80% da biodiversidade e carbono para o desmatamento, o ideal seria ter 100% dos estoques que restaram."

"As perdas médias mais baixas que encontramos foram de 25% para os estoques de carbono; e as mais altas foram para a diminuição do tamanho da população de árvores endêmicas [espécies exclusivas] da Mata Atlântica: 42%", diz Lima.

No estudo, os pesquisadores ainda sugerem saídas para reverter as perdas. Uma delas é atuar na restauração florestal — o estudo fornece ainda uma lista com mais de 200 espécies nativas indicadas para recuperar os estoques de carbono e a biodiversidade da Mata Atlântica.

"Acho que vale a pena passar não apenas a mensagem pessimista, de que já perdemos muito. Tem também o lado da oportunidade de restaurar os fragmentos existentes como uma maneira de atrair investimentos nacionais e internacionais, gerando empregos e conservando a Mata Atlântica ao mesmo tempo", afirma Lima.