Salles favorecia madeireiros de forma 'muito explícita', diz ex-chefe da PF
Ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, o delegado Alexandre Saraiva reforçou as acusações feitas ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por suposta obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa. Segundo Saraiva, Salles favoreceu madeireiros "de forma muito explícita", e denunciá-lo não era apenas uma opção, e sim obrigação.
O delegado foi afastado do cargo no último dia 15, um dia após enviar a ação contra o ministro ao Supremo. A troca foi oficializada ontem pelo governo federal, e a Superintendência da PF no Amazonas agora ficará sob o comando do delegado Leandro Almada da Costa.
"Ele [Salles] estaria atuando e favorecendo os madeireiros, e isso foi feito de uma forma muito explícita. Tem vídeo dele apontando para a placa de uma empresa investigada que, segundo ele, 'estava tudo certinho' e que, na verdade, em relação a esta empresa, já existia até laudo pericial apontando as ilegalidades cometidas", disse Saraiva em entrevista ao jornal O Globo.
Ele, que atuava na Amazônia desde 2011, disse ainda que nenhum outro ministro do Meio Ambiente fez ingerência ou criticou seu trabalho como Salles. Segundo Saraiva, a pressão sofrida após enviar as denúncias contra Salles ao STF foi "um ponto fora da curva".
"E essa pressão toda mostra a importância de se dar autonomia para a Polícia Federal", defendeu. "É preciso fortalecer um arcabouço normativo da PF para que esse tipo de pressão não surta efeito. Não estou falando novidade. A gente tem autonomia em alguma medida, mas é muito mais uma cultura de autonomia e nós precisamos mais do que isso."
O delegado também chamou de "ridículas" as acusações de que a ação contra Salles seria uma maneira de tentar atingir o ministro e, eventualmente, substituí-lo no cargo. "Basta olhar perfil de quem diz esse tipo de coisa e olhar o meu. O meu perfil profissional é impecável", afirmou.
Num primeiro momento, ele [Ricardo Salles] colocou em dúvida o trabalho da PF. Em um segundo momento, foi uma conduta que patrocinava justamente a ação dos criminosos. Nos pareceu que a conduta toda [do ministro] favorecia os criminosos. Alexandre Saraiva, em entrevista ao Globo
Acusações
Na ação contra Salles, Saraiva diz que o ministro "patrocina diretamente interesses privados [de madeireiros investigados] e ilegítimos no âmbito da Administração Pública" e integra, "na qualidade de braço forte do Estado, organização criminosa orquestrada por madeireiros (...) com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza".
O delegado cita como exemplo uma exigência feita pelo ministro a peritos da PF sobre a documentação das madeiras apreendidas. Desde a deflagração da Handroanthus, Salles questiona a ilegalidade das toras recolhidas pela PF, afirmando que elas seriam, na verdade, madeira extraída de forma legal.
"Mesmo amparado por farta investigação conduzida pela Polícia Federal — isto é, órgão de segurança pública vocacionada produzir investigações imparciais —, [Salles] resolveu adotar posição totalmente oposta, qual seja, de apoiar os alvos, incluindo, dentre eles, pessoa jurídica com 20 autos de infração ambiental registrados, cujos valores das multas resultam em aproximadamente R$ 8.372.082,00", lembra.
No início de abril, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Salles realmente colocou em dúvida o caráter da operação.
"Está se tentando criar em cima desses proprietários uma sensação de insegurança jurídica. Vai quebrar os caras. E essa turma vai para a ilegalidade", disse à época. "Qual é ilegalidade? Se você me disser que pode ter outra lá no meio, é possível. Rotular tudo aquilo de ilegal, sabe o que vai acontecer? Você quebra essa turma que está lá, aí sim vão para a ilegalidade".
(Com Estadão Conteúdo)
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