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Governo mostra um 'Brasil menor' na COP26, diz ex-ministra do Meio Ambiente

Do UOL, em São Paulo

03/11/2021 13h00Atualizada em 03/11/2021 13h45

A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira disse hoje, em entrevista ao UOL News, que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está mostrando um Brasil menor do que é em sua participação na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) em Glasgow, na Escócia.

Segundo a ex-ministra, a percepção internacional da atuação do Brasil no evento é de que a "conta" do Meio Ambiente será deixada para o próximo governo após a possível saída de Bolsonaro do poder, caso o chefe do Executivo não concorra ou perca a disputa à reeleição no próximo ano.

Me parece que a visão aqui é uma visão: a conta para o próximo governo. A postura anterior do governo foi de grande arrogância, pouquíssima simpatia, o mundo ficou estarrecido com o Brasil em Madri e aqui está tentando recuperar um ambiente de imagem, mas de concreto está muito aquém. O que o governo está fazendo é mostrando um Brasil menor do que o Brasil é. E isso vai ficar a conta para o próximo governo, a sociedade terá que se preparar, nos reorganizar e saber como vamos trilhar esses caminhos.
Ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira ao UOL News

Teixeira declarou que o clima tem dois lados: aqueles que fazem parte do problema ou aqueles que buscam a solução. Por isso, é importante que o Brasil se use, assim como outras nações, a agenda climática em favor do desenvolvimento da nação.

"Você tem que usar essa agenda para transformar o desenvolvimento desse país e não ficar contando historinhas achando que você vem aqui, mostra, concorda, faz discurso só para brasileiros. As notícias que chegam aqui é que o governo fala só com o Brasil, nós estamos falando com o mundo. [É importante mostrar] o Brasil do tamanho do Brasil e não um Brasil menor que o governo insiste em tomar", disparou a ex-ministra.

A ex-ministra se referia ao isolamento do presidente na cúpula do G20, grupo que reúne os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia, ocorrida no final de semana em Roma, na Itália.

Apesar da importância do Brasil no cenário internacional, o chefe do Executivo participou de reuniões bilaterais oficiais apenas com o presidente da Itália, Sergio Matarella, e com o secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Mathias Cormann.

O Brasil anunciou que pretende reduzir pela metade a emissão de gases de estufa até 2030. A nova meta foi anunciada esta semana pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em um pronunciamento feito em Brasília e transmitido no Pavilhão Brasil, instalado na COP26, 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

Para a ex-ministra, a comunidade climática está vendo as promessas do Brasil com "desconfiança", pois as metas apresentadas são as mesmas apresentadas na COP21 ocorrida em Paris, em 2015, mas com um pequeno remodelamento.

"O Brasil está atrasado seis anos. Eles trocaram, fizeram atualização da base de dados por conta do inventário, um inventário de emissões [de gases]. Eles pegaram o quadro inventário, atualizaram as emissões e fizeram o corte, uma meta, de 50%, que — na realidade — é 43%. Para repetir Paris tinha que ser 51%. Então foi uma continha que o Brasil não oferece ambição adicional [de redução de poluentes].

Teixeira ainda apontou outro agravante do discurso brasileiro da COP26 que foi o não estabelecimento de metas para 2025, determinantes para o combate ao desmatamento no território nacional, melhora no meio ambiente e, consequentemente, no campo geopolítico internacional.

"Eu acho que o Brasil está trilhando aqui o chamado populismo climático. Saímos do negacionismo climático deste governo e agora trilhamos o populismo climático como se isso fosse ficar em pé, e não vai ficar em pé porque não tem consistência técnica e científica, nem tem consistência política para que o Brasil possa avançar nisso. Lamentável."

*Com informações do Estadão Conteúdo