Zumbi da vida real: fungo é flagrado tomando corpo de inseto morto; veja
O vídeo viral de um "inseto zumbi" deixou muita gente aterrorizada nas redes sociais nesta semana. As imagens mostram o bicho andando sobre a vegetação, com parte do corpo em decomposição. A causa da anomalia é um parasita que é capaz de infectá-los e comandar o comportamento deles até a morte.
"Um inseto zumbi. Ao mesmo tempo em que não está vivo, também não está morto. Um grande número de fungos controladores de mente leva os insetos a assumirem os comportamentos mais estranhos para espalhar seus esporos e infectar mais insetos para sobreviver", explica a publicação, feita no Twitter e já com 10 milhões de visualizações.
O entomologista Michael J. Raupp, conhecido como "The Bug Guy" (ou "O Cara do Inseto", em tradução livre), é professor emérito da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e descreveu em seu blog, em outubro de 2020, uma série de comportamentos bizarros que os insetos podem apresentar quando infectados por parasitas.
Uma das espécies descritas pelo professor é de um grilo europeu conhecido como Nemobius.
Quando infectado pelos "vermes-crina-de-cavalo", o inseto é comandado para um salto "suicida" para dentro de algum lugar com água, onde ele finalmente consegue escapar do hospedeiro e buscar um companheiro para completar o ciclo de vida.
Raupp também destacou a existência de fungos que são capazes de transformar qualquer inseto em um zumbi. Um patógeno chamado Eryniopsis lampyridarum é capaz de parasitar besouros-soldado, onde se multiplica e assume o controle do sistema nervoso e muscular do inseto.
"O fungo faz com que o besouro-soldado marche para as folhas superiores de uma planta. Lá o besouro se prende a uma folha com suas mandíbulas e morre", explica o cientista.
Ele destaca que as estruturas internas do cadáver ainda ficam inchadas, abrindo-se e lançado esporos para novas vítimas.
Cigarras também são alvo
Brian Lovett, pesquisador no Laboratório Kasson da Divisão de Ciências de Plantas e Solos da West Virginia University, explicou para o Washington Post em fevereiro deste ano que as cigarras também podem ser infectadas por um fungo que as transformam em zumbis, o Massospora cicadina.
Quando atingidas pelo fungo, é comum que o abdômen das cigarras caia e seja substituído por um tampão amarelo. No entanto, o bicho não está completamente morto e ainda é provável que consiga manter algumas atividades, como bater as asas.
Lovett diz que os machos das cigarras usam um órgão em seus abdomes ocos para produzir um som característico para atrair as fêmeas, que por sua fez respondem estalando as asas. "Isso é um sinal para o macho de que 'estou interessada'", explicou o pesquisador. No entanto, se o abdômen do macho cai, ele não pode mais "cantar" e então uma situação peculiar ocorre: eles começam a se comportar como fêmeas.
"Uma vez que o fungo substituiu o abdômen, não há como continuar a agir como um macho", disse Lovett. "O órgão de chamada foi desmembrado."
Assim, os machos começam a estalar as asas, atraindo machos não infectados. Eles tentam se acasalar, mas acabam virando novas vítimas do fungo.
Apesar de o fungo também infectar as fêmeas, os pesquisadores não veem a manipulação ocorrer da mesma forma.
Brasil também tem
Mas não é apenas em outros países que o fungo é detectado. Em 2014, um estudo feito em parceria pela Universidade Federal de Viçosa e a Universidade do Estado de Pennsylvania, debruçou a análise em um fungo, o Ophiocordyceps camponoti-rufipedis, que induz formigas a morrerem perto do próprio ninho.
O trabalho foi realizado na Estação de Pesquisa Mata do Paraíso, na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Segundo os pesquisadores, o fungo é abundante na área e, após a infecção, a formiga ainda resiste por duas até três semanas antes de morrer.
Durante este período, o fungo fica dentro da hospedeira capaz de controlá-la e permanecer próximo à colônia, onde encontrará novas vítimas.
Registro de fungos vira prêmio
Neste ano, o fenômeno do fungo hospedeiro levou o prêmio de fotografia da revista científica BMC Ecology and Evolution. A imagem, registrada por Roberto García-Roa, foi capturada na selva peruana de Tambopata.
Na cena, é possível ver um fungo que matou uma mosca e depois saiu pelo corpo do inseto.
O fungo que aparece na imagem é do gênero Ophiocordyceps, o mesmo que foi objeto de estudo no Brasil em 2014.
Christy Anna Hipsley, membro sênior do Conselho Editorial, afirmou que a imagem "tem uma profundidade e composição que transmitem vida e morte simultaneamente - um assunto que transcende tempo, espaço e até espécies. A morte da mosca dá vida ao fungo", segundo reportou o site da BMC.
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