Raridade: fotógrafo flagra medusa 'comedora de águas-vivas' de 10 m em SP

Uma água-viva da espécie Drymonema gorgos, a maior medusa presente na costa brasileira, foi flagrada pelo fotógrafo Rafael Mesquita, 39, na Ilha do Montão de Trigo, divisa entre as cidades de São Sebastião (SP) e Bertioga (SP).

Eu vi uma mancha na água e achei que fosse uma tartaruga, a princípio. Mas depois eu vi que se tratava de uma água-viva gigante e quis mergulhar para registrar.
Rafael Mesquita, fotógrafo

Como foi encontrada

Rafael costuma sair de barco quase todos os dias para fazer registros de dentro e fora do mar nas cidades do litoral paulista de São Sebastião, Bertioga e Ilhabela. Dentre seus registros, é possível encontrar bichos como jubartes, raias, tubarões, golfinhos e até aves costeiras, como os abrolhos.

A "sorte" do fotógrafo ao encontrar a água-viva gigante pode ter a ver com a temperatura do mar. "Nos dias anteriores a água estava bem clara e quente, em torno de 24ºC", conta. Mas no dia do registro da Drymonema gorgos, Rafael registrou 15,5º C.

Para Alberto Lindner, professor de oceanografia, ciências biológicas e engenharia de aquicultura na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a temperatura da água é a explicação mais plausível por essa espécie de água-viva estar menos submersa, já que elas vivem em lugares mais profundos do oceano.

Lindner explica que, quando vista na superfície, é possível que esteja acontecendo um fenômeno chamado ressurgência, que consiste na subida de águas profundas e frias para a superfície do oceano.

Rafael viu não apenas uma, mas três águas-vivas naquele dia. "Não era a maior e nem a menor, essa era a mais 'bonita' para fazer a imagem", conta.

A estimativa é de que o animal tinha pelo menos 60 cm de diâmetro e tentáculos ultrapassando os 10 metros de comprimento - o que é comum para esse tipo de espécie, que chega pode chegar a até um metro de diâmetro.

O que se sabe sobre a espécie?

Os primeiros registros da espécie no Brasil se dão em 1857, quando o naturalista Fritz Müller descreveu a espécie. Até 1861 foram encontradas por ele três medusas da espécie Drymonema gorgos na Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis.

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Até hoje foram registradas apenas 63 aparições desse animal no país desde sua descoberta por Müller. É o que aponta um estudo publicado em 2023 e liderado pela oceanógrafa Lorena Nascimento, pós-doutoranda em Zoologia pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba).

O nome grego faz referência às górgonas, da mitologia grega, mais famosas pelo apelido "medusa", que são monstros femininos com serpentes no lugar dos cabelos e o poder de transformar em pedra quem as olha.

"Ela é uma água-viva que come outras espécies de água-viva", diz Lindner, também participante do estudo sobre a espécie. Ele conta também que, além de ser predadora, é fonte de alimento para a tartaruga-verde - conhecida também como aruanã.

Perigo para o ser humano

Embora seja uma água-viva gigante e com tentáculos que chegam a ser até sete vezes maiores do que um homem de altura média brasileira, os perigos da Drymonema gorgos são muito pequenos.

"Ela não é das mais perigosas, mas também não é das mais tranquilas", conta Lindner, que também explica que o envenenamento - chamado popularmente de queimadura - pode existir, mas em menor escala do que a caravela-portuguesa, por exemplo.

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Perguntado se sofreu queimaduras dos tentáculos da água-viva, Rafael que já está acostumado a levar queimaduras por ser surfista, diz não ter sentido nenhuma reação ao tocar no animal.

Embora o animal não pareça tão perigoso, o biólogo alerta para o cuidado que se deve ter ao avistar um animal como este: "a recomendação é não se aproximar do animal, mantendo distância". Para ele, embora a água-viva não ataque, as consequências de encostar em seus tentáculos podem ser de médias a graves.

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