Vice-prefeito de Novo Progresso (PA) é multado em R$ 4 mi por desmatamento
O atual vice-prefeito de Novo Progresso, no Pará, e pré-candidato à prefeitura neste ano, Gelson Dill (MDB), foi multado em R$ 4 milhões nesta semana por desmatamento ilegal de 174,5 hectares no Parque Nacional do Jamanxim. A multa foi aplicada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão do Ministério do Meio Ambiente, pouco mais de um ano depois de a cidade ter sido palco do chamado "Dia do Fogo", ataque orquestrado por empresários e fazendeiros da cidade que triplicou os focos de incêndio na região nos dias 10 e 11 de agosto de 2019.
Segundo apurou a reportagem, o incêndio do ano passado foi orquestrado por pessoas de Novo Progresso que se organizaram em um grupo de WhatsApp, fizeram uma vaquinha, compraram combustível e contrataram motoqueiros para incendiar áreas de reserva ao redor do município. Os detalhes sobre o fogo intencional foram revelados pela Repórter Brasil em outubro.
O desmatamento da área de reserva, em que Dill levou à multa, aconteceu no ano passado, segundo servidor do ICMBio que pediu anonimato. "Essa multa deveria ter sido lavrada no ano passado, em outubro. Mas ele disse que não tinha nada a ver com aquela derrubada, e que mostraria que aquelas terras nunca foram da fazenda dele."
As explicações e os dados do Incra que Dill apresentou não mudaram em nada a situação — e as terras desmatadas estavam declaradas em nome dele no sistema do CAR (Cadastro Ambiental Rural), afirma o fiscal ambiental.
Dill ainda teve o cuidado de modificar o cadastro pouco antes de desmatar, retirando do seu nome no CAR a área que foi destruída, segundo o servidor do instituto. O cadastro ambiental rural é autodeclaratório e muitas vezes usado de forma fraudulenta para a grilagem de terras ou esconder o desmatamento ilegal.
Esta não foi a primeira vez em que o pré-candidato a prefeito foi multado por crimes ambientais e por destruir as áreas de reserva florestal que circundam Novo Progresso.
Vice-prefeito já havia sido multado em R$ 288 mil em 2017
Em 2017, Dill recebeu multa de R$ 288 mil do ICMBio por destruir 23,93 hectares em Jamanxim, segundo outro servidor do instituto, que também concedeu entrevista com pedido de anonimato. Consta, ainda, que o político tem duas áreas embargadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) por desmatamento ilegal na região— o último embargo foi realizado em 11 de agosto deste ano.
Procurado, Dill afirmou que não cometeu nenhuma infração. "Já é a segunda vez que o ICMBio me multa por atos que não fiz. Provarei isso em minha defesa", afirmou o vice-prefeito, que se recusou a responder as demais perguntas enviadas pela Repórter Brasil.
Além de ocupar o segundo cargo do poder Executivo da cidade, Dill também é vice-presidente do sindicato dos produtores rurais, cujo presidente, Agamenon Menezes, foi alvo de uma operação da Polícia Federal em outubro do ano passado, também é suspeito de ser um dos organizadores do "Dia do Fogo".
A Repórter Brasil teve acesso a um áudio de WhatsApp que indica como se deram as combinações para se incendiar parte da floresta. Na gravação, um homem não identificado confirma que estaria cumprindo um combinado feito com o vice-prefeito Dill, sobre uma queimada que ocorreria no domingo, 11 de agosto. "Ô Gilson [Gelson], estou avisando o pessoal para todo mundo ir para aí no domingo para queimar esse negócio aí, beleza?", diz o homem.
"Dia do Fogo é uma fantasia", afirmou Dill
Em entrevista feita no ano passado, o político afirmou que o '"Dia do Fogo" não existiu e nega ter recebido este áudio. "Essa história do Dia do Fogo é uma fantasia. Agosto sempre teve queimada e esse ano foi mais seco", afirmou.
Naquele final de semana, dados do Inpe revelam de houve aumento de 39% nos focos de incêndio no estado do Pará. Há a suspeita de que o ataque tenha sido orquestrado com o objetivo de 'despistar' a fiscalização ambiental diante do grande número de queimadas simultâneas. Os detalhes do combinado foram obtidos pela Repórter Brasil com policiais civis e federais envolvidos nas investigações.
Um ano após o episódio, no entanto, ninguém foi preso ou sequer indiciado. O inquérito concluído pela delegacia de Polícia Civil de Novo Progresso afirma que o fogo naquele final de semana de agosto foi alastrado pelo tempo seco. A Polícia Federal, por sua vez, não concluiu a perícia nos equipamentos apreendidos na operação 'Pacto de Fogo', que aconteceu em outubro.
A região de Novo Progresso é rodeada por terras indígenas e áreas protegidas que, de acordo com a legislação, não permitem atividades econômicas, mas que convivem com criações de gado, extração ilegal de madeira e garimpos clandestinos.
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