Fundos de investimento internacionais poderiam salvar a Amazônia?
Os grandes fundos de investimento internacionais vão salvar a Amazônia? Essa é a pergunta feita pelo jornal francês Le Figaro de hoje. Ainda que seja difícil de acreditar, segundo o diário, eles seriam os responsáveis por uma mudança de tom do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com relação à maior floresta tropical do mundo.
Fundos de investimentos internacionais, que juntos somam mais de R$ 20 trilhões, alertaram em junho sobre o risco que representa o desmatamento da Amazônia para seus portfólios.
O momento escolhido pelos investidores, segundo o jornal, não é uma coincidência, já que começa no Brasil a estação seca, mais propícia a incêndios florestais, que antecedem a exploração ilegal de madeira e terras.
De acordo com Le Figaro, as imagens da Amazônia em chamas, no mesmo período no ano passado, comoveram o mundo, aumentaram as tensões entre Paris e Brasília e colocaram Bolsonaro definitivamente na categoria de "predador do meio ambiente".
Após encontrar investidores estrangeiros e empresários brasileiros, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, afirmou que tentaria reduzir a níveis aceitáveis o desmatamento da Amazônia, para mostrar à comunidade internacional e aos brasileiros o engajamento do governo. Um gesto realizado, para o jornal francês, sob pressão dos grupos estrangeiros que condicionaram seus investimentos e suas compras de produtos brasileiros a uma mudança radical de sua política ambiental.
Um grupo de diretores de empresas brasileiras do setor bancário, dos cosméticos e da carne também pediu ao governo brasileiro que lutasse contra o desmatamento, temendo que a "obsessão antiambiental" do presidente Jair Bolsonaro seja um entrave para negociações de acordos comerciais com a União Europeia.
Um estudo publicado pela revista americana Science mostra que 20% da carne e da soja exportadas da Amazônia para a Europa são provenientes de zonas desmatadas ilegalmente.
Ceticismo
Segundo Le Figaro, os defensores do meio ambiente acham positiva a pressão feita pelos fundos de investimento, mas são céticos quanto aos resultados. Ouvido pelo jornal, Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, diz que "ninguém acredita mais neste governo sobre o meio ambiente. O que as pessoas querem ver são resultados concretos." Ele pergunta, "após 18 meses de governo Bolsonaro, onde está o plano de combate ao desmatamento na Amazônia? Ele não existe", diz.
Astrini lembra que a pesquisadora responsável pelo trabalho de monitoramento da devastação florestal no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Lubia Vinhas, foi exonerada na semana seguinte à divulgação de dados de desmatamento da Amazônia que contrariam as promessas do governo de Jair Bolsonaro aos empresários e fundos de investimento internacionais.
Durante o primeiro ano de governo do presidente, o desmatamento aumentou em 30% e no primeiro trimestre deste ano volta a bater recordes, atingindo de 3.000 km², o que representa um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado. Apenas no mês de junho, 1.000 km² foram desmatados, segundo o Inpe.
Le Figaro também lembra a responsabilidade dos madeireiros na contaminação pela covid-19 dos povos indígenas, enquanto o Brasil é o segundo país mais atingido do mundo pela pandemia, com 2 milhões de casos e 79 mil mortes.
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