Bolsonaro expõe estratégias para reduzir rejeição e desconstruir isolamento

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • Leo Correa/AP

    Com bandeiras do Brasil, apoiadores acompanham convenção que oficializou candidatura de Bolsonaro à Presidência da República, no domingo (22)

    Com bandeiras do Brasil, apoiadores acompanham convenção que oficializou candidatura de Bolsonaro à Presidência da República, no domingo (22)

Militar da reserva das Forças Armadas, Jair Bolsonaro, 63, atribuiu a si uma "missão" logo no início de seu discurso na convenção nacional do PSL, no domingo (22), quando foi oficializado candidato à Presidência da República. Ele tenta chegar ao Palácio do Planalto "sem um grande partido, sem fundo eleitoral e sem tempo de televisão".

Capitão do Exército e deputado federal desde 1991, Bolsonaro apresentou-se como o "patinho feio" da eleição. Apesar de largar na frente nas pesquisas, ele enfrentará dificuldades na tentativa de superar, em partido nanico e sem aliados, a polarização entre PT e PSDB, que vem desde 1995.

Na convenção, o candidato procurou desconstruir a percepção de que estaria politicamente isolado e indicou estratégias que devem ser usadas na campanha para reduzir a rejeição à sua candidatura.

Segundo ele, a falta de apoio não é um fator negativo, e sim o pilar de um possível governo livre de fisiologismo, troca de cargos mediante favores e corrupção. "Eu sei o desconforto que venho causando, sozinho ou com alguns poucos políticos do meu lado e amigos, naquilo que chamam de establishment, máquina ou sistema. Sabemos isso", disse.

"Eu sou o patinho feio nessa história, mas tenho certeza que seremos bonitos brevemente."

Apontado como força de extrema-direita, sem papas na língua, Bolsonaro conseguiu arregimentar uma legião de apoiadores. No Facebook, sua principal ferramenta de comunicação, são mais de 5 milhões de seguidores. Na convenção, realizada no Centro de Convenções Sul-América, na região central do Rio de Janeiro, compareceram cerca de 3.000 pessoas. O número foi divulgado pelo próprio candidato.

"Um Davi contra vários Golias"

A estratégia de se posicionar como o antagonista solitário contra forças políticas poderosas --"Um Davi contra vários Golias", como definiu o senador Magno Malta (PR-ES)-- é hoje um dos principais eixos da campanha do candidato social-liberal.

Em seu primeiro discurso após oficializar a candidatura à Presidência, Bolsonaro buscou a todo momento se opor ao bloco conhecido como "Centrão", que decidiu apoiar Geraldo Alckmin (PSDB) na semana passada. O tucano já havia rebatido o oponente pelo mesmo motivo.

O apoio do Centrão é muito estimado pelos concorrentes ao Planalto, pois reúne partidos intermediários que somam ao menos quatro minutos por dia no horário eleitoral de rádio e TV --que começará em 31 de agosto. Atualmente, Bolsonaro contaria com apenas oito segundos de propaganda eleitoral.

O Centrão é formado por DEM, PP, Solidariedade e PRB. Após flertar com Bolsonaro, o PR juntou-se ao bloco, na última semana, e selou o apoio a Alckmin.

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Apesar do apoio do PR à candidatura de Alckmin, Magno Malta garantiu que vai "cruzar o Brasil" com o "amigo" Bolsonaro e que espera que o jogo "seja definido ainda no primeiro turno". Malta foi convidado para ocupar a cadeira de vice na chapa, porém declinou para tentar a reeleição no Senado.

"O que eu puder agregar, agregarei", disse ele no domingo. "Comungamos das mesmas ideias e dos mesmos entendimentos. O que o Brasil quer é o que eu quero: um homem de mãos limpas. E você tem mãos limpas."

Na convenção, Bolsonaro abriu fogo contra o Centrão. "Quero agradecer ao Geraldo Alckmin por ter juntado a nata do que há de pior no Brasil ao seu lado."

Além de atacar os opositores, o presidenciável tentou desconstruir a imagem de isolamento ao exaltar o conceito de meritocracia e prometer independência política para, se eleito, "escalar a seleção de ministros".

"Nós temos como fazer esse Brasil grande. Como na seleção brasileira, o seu técnico, o seu chefe, o presidente da República não pode estar devendo nada para partido político nenhum. Ele tem que escalar esse ministério pelo critério da competência. Não interessa qual seja a sua opção, a sua cor ou a sua religião."

"(...) Nós temos, sim, como governar no nosso Brasil. Porque, se for para fazer a mesma coisa, eu estou fora", comentou ele, buscando se diferenciar do modelo político baseado no presidencialismo de coalizão, em que cargos costumam ser distribuídos entre aliados. "Não negocio ministérios."

JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ao lado de Janaina Paschoal e de sua mulher, Jair Bolsonaro chora durante a convenção

Bom humor e elogios às mulheres após polêmicas

Como habitual, Bolsonaro tentou alternar frases de impacto, que levavam quase sempre a aplausos e gritos de reverência por parte do público presente na convenção, com um tom mais descontraído e semelhante ao do presidente americano Donald Trump. Ele chegou a fazer comentários de foro íntimo, como quando lembrou ter feito vasectomia depois que decidiu não ter mais filhos.

"Atenção aos machões aí, não muda nada, não. Melhora", disse ele, arrancando gargalhadas da plateia. "Bolsonaro macho alfa!", exclamou um de seus apoiadores.

Outra estratégia presente no discurso do presidenciável foi a menção a fatos polêmicos de seu passado no sentido de relativizá-los. Ciente de que se trata da fatia do eleitorado onde ele tem menos aceitação, Bolsonaro fez elogios às mulheres e disse que há uma "campanha" com objetivo de "jogá-lo cada vez mais" contra as eleitoras.

"Em grande parte, elas são as responsáveis pela educação dessas crianças. Temos 30% de mães solteiras no Brasil, por ter acontecido ou por opção, mas elas têm um senso de responsabilidade muito maior do que eu", declarou.

"Todos nós viemos de um ventre de uma mulher. Sequer teríamos nascido se não fosse pelo amor delas."

José Lucena/FuturaPress/Estadão Conteúdo
Bolsonaro ao lado da mulher, Michele, durante convenção

Em seu passado recente, Bolsonaro acumula declarações polêmicas em relação às mulheres. No ano passado, por exemplo, ele gerou revolta ao dizer que teria "fraquejado" ao conceber a sua filha caçula, Laura, de apenas sete anos. "Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher", disse o deputado durante uma palestra na sede do clube Hebraica, no Rio.

Em 2017, Bolsonaro também virou réu no STF (Supremo Tribunal Federal), devido ao foro privilegiado, depois de afirmar que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não merecia ser estuprada.

Após a convenção, em entrevista à imprensa, o candidato afirmou que tem dificuldade em atrair o eleitorado feminino "por causa dos rótulos".

Ele negou que, em uma entrevista ao jornal "Zero Hora", tenha supostamente afirmado que as mulheres deveriam receber menos do que os homens. "Não disse que deveria receber menos. Respondi porque o empresariado resolve pagar menos para a mulher do que para um homem. Segundo pesquisas, esse é um dos motivos. Essa é uma realidade."

"Duvido que vocês me apontem um áudio ou vídeo onde eu diga que mulher tem que ganhar menos do que o homem. Duvido. (...) Todo lugar que eu vou eu tenho que explicar isso. E tem muita mulher que é desinformada."

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