Marina brinca que só não "joga praga" em Bolsonaro porque "fé não permite"
Luciana Amaral
Do UOL, em Brasília
A candidata à Presidência da República pela Rede, Marina Silva, afirmou nesta quarta-feira (29), em tom de brincadeira, que só não "joga praga" no adversário Jair Bolsonaro (PSL) porque sua fé não a permite. Marina é evangélica declarada.
A resposta foi dada quando questionada indiretamente sobre a diferença entre o eleitorado que a via como uma "coqueluche" na campanha de 2014, mas agora encara como "coqueluche um candidato que é sua antítese", em referência indireta a Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto em cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Eu vou começar com uma brincadeira: eu só não vou desejar a ele [Bolsonaro] que aconteça com ele o que aconteceu comigo, porque a minha fé não me permite que jogar praga", disse, arrancando risos e aplausos da plateia.
O comentário aconteceu durante sabatina promovida pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em Brasília.
Segundo Marina, a campanha de 2014 foi atípica, porque, ao seu ver, houve uma articulação dos grandes partidos para não permitir que ela registrasse a Rede, seu partido, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a tempo de concorrer à Presidência pela sigla, pois, à época, chegou a ter 26% das intenções de voto.
Marina figurou entre os principais candidatos na disputa daquele ano, mas não chegou a passar para o segundo turno.
Ela acrescentou que, em 2014, acabou sendo uma candidata ao Planalto "compulsoriamente" devido à morte do então cabeça de chapa, Eduardo Campos (PSB), morto em acidente de avião durante a campanha.
"Quem é a pessoa que consegue estar preparada para aquela tragédia? Eu fui candidata compulsoriamente no lugar de uma pessoa que perdeu a sua vida. É impossível fazer uma campanha sorrindo, feliz porque se estava no lugar de um homem jovem, com todo o vigor, família linda, partido que o amava. Aquela foi uma campanha difícil. Como se não bastasse o luto, ainda veio a força bruta do dinheiro da corrupção", declarou.
A candidata disse que ela "não perdeu a eleição", porque o pleito foi "fraudado" pela corrupção. De acordo com Marina, tanto Dilma Rousseff (PT) – que se elegeu – quanto Aécio Neves (PSDB) se utilizaram de dinheiro de caixa 2 para financiar as campanhas. "Só a Lava Jato é que revelou depois", falou sobre os recursos.
Ela se comparou a uma "espécie de esmola da viúva pobre" nas eleições deste ano pela falta de dinheiro e pouco tempo de rádio e televisão. Além disso, falou que a campanha é feita com muito sacrifício.
"Não sou uma coqueluche, mas, com certeza, sou uma das alternativas, talvez a mais forte, para unir o Brasil", afirmou.
Em discurso aos ruralistas, Marina ressaltou ser possível conciliar os interesses de ambientalistas com os de produtores rurais por meio do desenvolvimento sustentável. Como exemplo, citou a fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), que visitou na última sexta-feira (24).
A candidata ressaltou a importância da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –, Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Ela voltou a dizer que discorda da possibilidade de se regulamentar agrotóxicos atualmente proibidos nos Estados Unidos e na Europa para uso no Brasil, como prevê projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional.
Questionada sobre a violência no campo, Marina se posicionou contra a flexibilização do porte de armas em áreas rurais. Para ela, devem ser mantidas as regras do porte já previstas na legislação. "A solução para a segurança é que os bandidos não usem armas e não distribuir armas para que a população se proteja sozinha", disse. "Quem tem a obrigação de fazer isso [prover segurança] é o Estado."
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