Campanha de Bolsonaro recria camisa com sangue e deve exibir facada

Gustavo Maia

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/Instragram/Flávio Bolsonaro

    Montagem foi exibida em vídeo publicado nas redes sociais do PSL e de um dos filhos do presidenciável, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)

    Montagem foi exibida em vídeo publicado nas redes sociais do PSL e de um dos filhos do presidenciável, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)

Em uma camisa amarela igual à que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) vestia na última quinta-feira (6), o slogan "meu partido é o Brasil" aparece estampado com a cor verde. A parte inferior da roupa tem um rasgão e está manchada de sangue. Parece real, mas é uma montagem produzida para ilustrar o golpe de faca sofrido pelo candidato em Juiz de Fora (MG) na quinta-feira (6).

A imagem começou a ser usada pela campanha de Bolsonaro neste sábado (8). É ela que abre um vídeo divulgado pelo PSL e pelo deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), candidato ao Senado, nas redes sociais, no qual ele convoca apoiadores a participarem de um ato em apoio ao pai na manhã deste domingo (9), na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Depois de visitar o pai no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Flávio admitiu que se tratava de uma montagem e contou que a camisa verdadeira foi jogada fora no momento que ele chegou na Santa Casa de Juiz de Fora, porque os médicos tiveram que cortá-la para realizar uma cirurgia de emergência. Questionado sobre sua opinião acerca do uso das imagens do ataque na campanha, Flávio se disse favorável.

"Eu sou a favor da verdade. A população tem que entender quem são os intolerantes [...] Não tem problema nenhum. A gente sempre tratou dessa forma. Acho que é isso que o eleitor está buscando: alguém que faça política de uma forma verdadeira", declarou.

Na mensagem postada nas redes sociais, Flávio diz que o presidenciável sofreu um atentado que "mancha de sangue, sim, a história do nosso Brasil". O vídeo é acompanhado da hashtag #estoucombolsonaro.

Já é praticamente consenso entre os aliados que o episódio tende a fortalecer Bolsonaro eleitoralmente. Em contrapartida, existe o receio de que uma possível exploração repercuta negativamente. "Não é nosso perfil fazer sensacionalismo, né?", comentou o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, um dos mais próximos auxiliares do presidenciável.

Mas a resposta dele sobre qual estratégia será adotada após o ataque revela o tom que deve ser adotado na campanha. "Tem que manter vivo na memória das pessoas. Se fosse um atentado ao boneco do Lula, óóó, estariam fazendo um drama monstruoso. Agora, quase mataram o sujeito e tentam minimizar. A gente não se faz de vítima, mas também não vamos deixar esquecer", disse Bebianno.

Neste sábado, primeiro dia de exibição de novas propagandas eleitorais na TV e no rádio desde o ataque, o programa de Bolsonaro já fez referência ao ocorrido. "O povo brasileiro caminha unido em oração pela vida do nosso Jair Messias Bolsonaro", diz o narrador enquanto imagens do candidato sorrindo são exibidas.

Outro filho de Jair, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) usou seu perfil no Instagram neste sábado para publicar um vídeo sobre o ataque ao pai. "Soldado nosso não fica para trás", diz o texto sobre imagens do presidenciável sendo aclamado por uma multidão em Juiz de Fora.

A cena da facada aparece em seguida, ao lado da frase "soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde", repetida à exaustão pelo próprio Bolsonaro.

Na publicação, Eduardo externou a preocupação sobre como a iniciativa será percebida. "A vida pública e privada de um político se misturam, é inevitável e não reclamo disso. Porém tenho o receio de acharem que estamos querendo nos aproveitar de uma situação delicada. Assim, posto esse vídeo como uma homenagem de um filho a um pai que ele admira", escreveu.

Em entrevista coletiva neste sábado, na saída do hospital, ele disse não se preocupar no momento com a campanha, e sim com a saúde do pai. Eduardo afirmou que acha "irrelevante" usar ou não as imagens, apontando que aquilo que a campanha definir será apoiado.

Mais cedo, o senador Magno Malta (PR-ES), aliado e amigo de Bolsonaro, defendeu a estratégia. "É a última imagem que nós temos de Bolsonaro. É a imagem que temos que usar", declarou o parlamentar. Mais tarde, ele disse que nem todos, mas a maioria dos aliados concorda com ele.

Anfitrião de Bolsonaro em Juiz de Fora e presidente do diretório mineiro do partido, o deputado Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) ajudou a carregar o presidenciável logo após a facada e disse não saber se a estratégia seria "conveniente".

"Olha só, as imagens o Brasil inteiro já assistiu, teve acesso. Eu não sei se seria conveniente usá-las como estratégia de campanha. Mas, se for decidido assim, será respeitado, obviamente", disse o deputado.

Aliados falam em vitória no primeiro turno

Antes do ataque, o próprio Bolsonaro e seus aliados já falavam em vencer o pleito já no próximo dia 7 de outubro. Depois, essa hipótese ganhou mais força. "Vocês acabaram de eleger o presidente, vai ser no primeiro turno", disse o filho Flávio, ainda em Juiz de Fora, na madrugada desta sexta. Bolsonaro lidera a última pesquisa Ibope com 22% das intenções de voto.

Questionado sobre o efeito eleitoral da facada, Bebianno disse que isso "até irrita um pouco, porque tem muitos políticos perguntando". "Obviamente, em primeiro lugar está a saúde dele. Mas ele está pagando um preço muito alto, e por isso ele merece ganhar agora no primeiro turno", declarou.

Vice na chapa de Bolsonaro, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB) disse nesta sexta (7) que o atentado sofrido pelo presidenciável deve ajudar na sua vitória.

"Nós julgamos que o sangue derramado pelo Bolsonaro vai unir todo o Brasil em torno do nosso projeto e nós vamos vencer a eleição", declarou Mourão.

Magno Malta, por sua vez, ironizou os jornalistas dizendo que Bolsonaro não precisa mais fazer campanha porque a imprensa está fazendo para ele, já que de seis segundos por bloco na TV --na verdade são oito-- ele passou a ter 24 horas de exposição.

Uma repórter então perguntou se ele acha que o atentado foi bom para a campanha. "Claro que não, né? Mas esse limão acabou virando uma limonada", respondeu o senador.

Veja como foi o ataque a Bolsonaro em MG

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