Pela 1ª vez desde 1989, líder na pesquisa Datafolha tem menos de 30%
Eduardo Lucizano
Colaboração para o UOL, em São Paulo
Faltando 19 dias para o primeiro turno das eleições, a última pesquisa Datafolha de intenção de votos para presidente, divulgada nesta sexta-feira (14), aponta que o cenário atual é um dos mais disputados desde a redemocratização do país.
O UOL analisou os levantamentos feitos pelo Datafolha faltando entre três e quatro semanas para o primeiro turno das últimas sete eleições. Este ano, a eleição será no dia 7 de outubro.
Pela primeira vez desde a eleição em 1989, a primeira pelo voto direto desde o fim da ditadura, o líder das pesquisas tem menos de 30% das intenções de votos. A última pesquisa Datafolha mostra o candidato Jair Bolsonaro (PSL) na liderança com 26%.
Em 1989, Collor tinha 26%. Naquele ano, as eleições foram realizadas em novembro e, portanto, a pesquisa considerada para a comparação foi a do mês de outubro.
Nunca um candidato que esteve no topo das pesquisas a menos de um mês da votação deixou de ser eleito.
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Apesar das diferenças históricas, a relação entre o pleito deste ano e o de 1989 é a mais próxima, segundo o cientista político Rafael Cortez, doutor em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo).
Entre as semelhanças, Cortez destaca a avaliação dos governos – do presidente Michel Temer (MDB) agora e de José Sarney (MDB), em 1989.
"Essa é uma eleição com um governo mal avaliado e que, de alguma maneira, gera impacto no eleitorado. Não tem sentimento de continuidade, uma espécie de 'sarneyzação', ou seja, contamina negativamente campanhas associadas. Foi assim com Ulysses Guimarães (MDB) e Mário Covas (PSDB), que eram ligados ao Sarney e ficaram fora da disputa. Temer representa isso para [Henrique] Meirelles [MDB] e [Geraldo] Alckmin [PSDB]", diz.
Apesar de concordar com a afirmação de que a disputa deste ano está mais acirrada, o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, diz não acreditar que ela possa ser comparada com qualquer outra. Para ele, as características são diferentes.
"Em 1989, era a primeira eleição após a ditadura, uma festa, todos queriam votar. Nesta eleição o nível de repúdio aos políticos é inédito, o ambiente de insatisfação e desesperança é maior, com características diferentes e tempo curto de campanha. Houve a indefinição da candidatura do [ex-presidente] Lula [PT]. [A eleição] começa de fato agora", afirma.
Desde 2002 não se viam tantos candidatos na briga pelo 2º turno
Outro fator importante na eleição deste ano é a maior divisão das intenções de votos entre os candidatos. Nas últimas disputas, no máximo três candidatos apareciam com 10% ou mais a menos de um mês da votação.
Hoje, o cenário se repete com três candidatos com 10% ou mais das intenções de votos, mas o número pode chegar a cinco se considerarmos a margem de erro. Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) têm 13% cada. Geraldo Alckmin (PSDB) está com 9% e Marina Silva (Rede), 8%, mas na margem de erro (dois pontos percentuais para mais ou para menos), eles podem estar até com 11% e 10%, respectivamente.
A última vez que isso aconteceu foi em 2002. Na ocasião, Lula (40%), José Serra (21%), Ciro Gomes (15%) e Anthony Garotinho (14%) dividiam a preferência dos eleitores. Em 1989, o cenário era semelhante ao atual, com Collor (26%), Brizola (15%), Lula (14%), Maluf (9%) e Covas (8%).
"É bastante provável que esse cenário continue até o final, a disputa acirrada por vaga no segundo turno significa uma campanha mais quente, veremos tentativas de desconstrução de candidaturas, não só do primeiro colocado, mas nos embates pelo segundo lugar", analisa Paulino.
"O Alckmin precisa tirar votos do Bolsonaro, que 'roubou' votos tradicionais do PSDB. Ele [Alckmin] tem mais tempo de TV e a possibilidade de pegar votos do Bolsonaro. Ciro, Haddad e, talvez, Marina [Silva] brigam por um mesmo tipo de eleitorado, especialmente Ciro e Haddad, vai ser interessante ver como as campanhas vão se portar", afirma.
Eleitores dos "nanicos" podem aderir ao voto útil
Além de ter três candidatos com mais de 10% da preferência da população, as eleições deste ano têm a forte participação dos chamados partidos nanicos.
Juntos, Álvaro Dias (Podemos - com 3%), João Amoêdo (Novo - com 3%), Guilherme Boulos (PSOL - com 1%), Cabo Daciolo (Patriota - com 1%) e Vera Lúcia (PSTU - com 1%), somam 9% das intenções de votos do eleitorado, sem falar da candidatura de Henrique Meirelles (MDB), que tem 3%.
"Talvez os eleitores dos chamados nanicos possam ser os que mais pratiquem o voto útil, vai depender do desempenho dos candidatos na última semana. Os que trafegam no eleitorado do PSDB, do Amoêdo, do Álvaro Dias e do Meirelles podem considerar que Alckmin tem mais chances de evitar que o país vá parar nas mãos da extrema direita ou da esquerda, mas vai depender do desempenho na última semana", diz Paulino.
Rejeição pode decidir eleição
Apesar de liderar as pesquisas, a rejeição de Bolsonaro pode ser o principal obstáculo do capitão reformado do Exército em um eventual segundo turno. O candidato é o líder também em rejeição, com 44% na última amostra.
Embora apresentasse queda nas pesquisas perto da eleição, Collor, que acabou eleito em 1989, tinha rejeição de 29%.
"O segundo turno é uma contraposição entre rejeições, de voto estratégico, o chamado voto útil. O eleitor não tem mais a pluralidade de nomes. Bolsonaro contra PT teria uma rejeição alta. Essas são típicas falhas de coordenação eleitoral, por parte da elite política e do eleitorado, que não faz voto estratégico", diz o cientista Rafael Cortez.
A distribuição dos votos dos indecisos e a tentativa de redução da rejeição podem ser determinantes neste cenário de insatisfação e falta de esperança pro parte da população.
"A rejeição muitas vezes é mais trabalhada pelas campanhas, há uma tentativa de diminuir a rejeição e aumentar a do adversário", completa Paulino.
Em simulações de segundo turno feitas pelo Datafolha, Bolsonaro perderia para Ciro por 45% a 38% e está em empate técnico contra Alckmin (o tucano tem 41% contra 37%), Marina (43% contra 39% do candidato do PSL) e Haddad (o petista tem 40% contra 41%).
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