Bolsonaro tenta aproximação com mulheres após aumento de rejeição
Luís Adorno
Do UOL, em São Paulo
-
Leo Correa/AP Photo
Bolsonaro ao lado da mulher, Michelle, no lançamento de sua candidatura à Presidência
O candidato Jair Bolsonaro (PSL) começou a tentar uma maior aproximação com o eleitorado feminino depois de pesquisas apontarem aumento da rejeição entre as mulheres. Pesou, também, a campanha lançada na internet e o ato marcado para sábado (29) contra o presidenciável. Em meio a tentativa de aproximação, o candidato sofreu novo baque, com a informação do Itamaraty de que ele ameaçou de morte uma ex-mulher.
Pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira (26) mostra que Bolsonaro lidera as intenções de voto da população nacional, com 27%, mas revela que, em caso de segundo turno, ele pode ser combatido pelas mulheres. O levantamento apontou que o presidenciável tem rejeição de 44% entre homens e mulheres. Quando filtrado apenas pelo eleitorado feminino, a rejeição sobe para 52%. Comparado à pesquisa Ibope de um mês atrás, a rejeição de mulheres a Bolsonaro subiu 11 pontos percentuais.
A rejeição das mulheres passou a subir no início de setembro, no início das propagandas eleitorais na televisão e no rádio. Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, atacou diretamente Bolsonaro sobre o assunto, com imagens mostrando o candidato do PSL xingando mulheres.
O núcleo duro que organiza a campanha de Bolsonaro, principalmente depois do ataque a faca sofrido por ele no último dia 6 de setembro --uma vez que o presidenciável passou a se manifestar apenas pelas redes sociais-- tem apontado, durante a reta final da campanha, que não compartimentam a campanha e que querem governar para todos os brasileiros, independente de raça, gênero, cor e credo.
Nesta quarta-feira (26), o próprio candidato reforçou o que a campanha tem dito, através de uma publicação no Twitter. "O que incomoda muitos é que o apoio que recebemos é espontâneo, algo que nunca tiveram. Não é por Bolsonaro, mas pelo Brasil, que foi saqueado e jogado às traças. São todas as cores, idades, sexo e classe social, confiantes na chegada de um futuro melhor", escreveu.
Presidente de honra do PSL, candidato a deputado federal por Pernambuco e amigo de Bolsonaro, Luciano Bivar, cacique do partido, rechaça a credibilidade das pesquisas e diz que as mulheres confiam e pedem por Bolsonaro presidente. "Quando essas poucas mulheres fizeram essa proposta de 'ele não', houve uma revolta generalizada. As mulheres estão com Bolsonaro. Tenho na minha casa quatro mulheres. Todas estão com Bolsonaro. É o único cara que defende as mulheres, com medida drástica como a castração química contra o estuprador", afirmou.
Bolsonaro disse na manhã desta quinta-feira (27) que propôs "projetos de lei em prol da segurança, em defesa das mulheres, além de recursos para a saúde e aprendizado com parlamentares sobre educação". A única proposta que Bolsonaro tem, em seu plano de governo enviado o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), de combate a violência contra a mulher, é a castração química de estupradores, mas não explica se a condenação ocorreria, por exemplo, com suspeitos ou condenados.
"Essas mulheres que criaram esse movimento são uma coisa insignificante. Esse movimento é insignificante. Não tenho dúvida de que 60% e 70% das mulheres estão com Bolsonaro. Meia dúzia de menininhas aí fizeram esse movimento. Não têm um miolo na cabeça, só sabe usar seu corpo, sua sexualidade. Elas têm uma grande responsabilidade porque muitas das garotas que não estão bem informadas vão seguindo elas", complementou o presidente de honra do PSL.
A professora Janaina Paschoal, candidata a deputada estadual pelo PSL, gravou um vídeo, nesta quinta-feira, direcionado às mulheres do Nordeste, dizendo que seus avós são de Pernambuco. "O que eu tenho a dizer para essa mulher forte do Nordeste? Que eu acredito, verdadeiramente, que nós precisamos eleger Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno. Todo o meu trabalho no processo do impeachment vai ser colocado na lata do lixo se o PT voltar para o poder", afirmou. O presidenciável replicou o vídeo, agradecendo.
No evento do Facebook "Mulheres contra Bolsonaro", previsto para ocorrer neste sábado (29), em São Paulo, há 222,9 mil internautas confirmados. Como resposta, no domingo (30), deve ocorrer, na avenida Paulista, o "Mega ato de apoio a Jair Bolsonaro". A PM (Polícia Militar) está ciente das manifestações e se programa para garantir a segurança dos locais.
O jornal "Folha de S.Paulo" revelou, na terça-feira (25), que a ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, informou ao Itamaraty, em 2011, que foi ameaçada de morte por ele, o que a levou deixar o Brasil. Candidata a deputada federal pelo Podemos, no Rio, e utilizando o sobrenome do ex-marido, Ana negou a agressão em um vídeo divulgado nas redes sociais. Mas brasileiros que conviveram com ela na Noruega confirmaram que ela costumava relatar a ameaça.
Um dia depois, Bolsonaro escreveu no Twitter que "insistem em falácias, rótulos e na fixação pela palavra 'ditadura'", mas lembrou que 50 mil mulheres são estupradas por ano. A citação foi a primeira sobre violência contra a mulher desde que foi atacado em Juiz de Fora (MG).
Para Vera Chaia, cientista política e professora da PUC-SP, a rejeição entre as mulheres reflete um histórico de sua posição pública durante todo o período como político. "Os vários eventos que a gente viu, no Congresso, no tratamento com mulheres e nos discursos, levaram ao eleitorado uma imagem de um candidato misógino, machista. Isso significa uma rejeição das mulheres naturalmente", afirmou.
Já para o professor de marketing político Emmanuel Publio Dias, da ESPM, a tentativa de se aproximar do eleitorado feminino é visando o segundo turno e é o que todo candidato estrategista faria. "Se vai conseguir reverter o quadro, a gente não sabe, mas é uma tentativa que qualquer um teria que fazer, assim como Alckmin está visando os nordestinos, onde tem pouca influência", analisou.
Na manhã desta quinta-feira (27), Bolsonaro divulgou um vídeo em que mostra a mulher, Michelle Bolsonaro, desenvolvendo libras e afirmando que lutará pela comunidade com deficiência auditiva. "Sempre se dedicou a aprender com os deficientes auditivos. Aqui ela se apresenta, os parabeniza pela data, diz que ainda estamos no hospital, agradece o carinho e orações e que continuará lutando pela comunidade surda", escreveu.
Além disso, um vídeo gravado há dois meses, mas divulgado apenas em 17 de setembro, mostrava Bolsonaro falando sobre o procedimento de vasectomia que desfez e sobre o carinho que tem pela filha, Laura, de 7 anos. Rivais do candidato costumavam usar a frase dita por Bolsonaro, de que fraquejou ao ter uma filha menina, para impulsionar a rejeição entre as mulheres.
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- De olho no 2º turno, presidenciáveis ampliam ataques, mas poupam Bolsonaro
- Juntos, Bolsonaro e Haddad têm menor intenção para líderes desde 1989
-
- Fim de semana terá atos contra e a favor de Bolsonaro em SP
- Bolsonaro promete Balcão Único para abrir ou fechar empresas em até 30 dias
- Filho de Bolsonaro retoma campanha na rua e herda lado "pop" do pai
- Bolsonaro não traria retrocesso a relações internacionais, diz ministro