Desgastados, senadores desistem de reeleição e 'rebaixam' candidaturas

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

  • Arte UOL

    Gleisi Hoffmann (PT), Agripino Maia (DEM) e Aécio Neves (PSDB)

    Gleisi Hoffmann (PT), Agripino Maia (DEM) e Aécio Neves (PSDB)

Seis senadores decidiram mirar "para baixo" nas eleições do próximo dia 7. Em vez de concorrer à reeleição no Senado Federal, se lançaram a uma vaga na Câmara dos Deputados.

Entre os nomes mais conhecidos desses parlamentares, estão Aécio Neves (PSDB-MG), segundo colocado na disputa presidencial de 2014, José Agripino Maia (DEM-RN), senador desde 1987, e Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do partido.

"Esses parlamentares se viram envolvidos em escândalos de corrupção, julgados ou não, mas que mancharam suas eleições e pretensões políticas", afirma o cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).

Claudio Couto, coordenador do mestrado em Gestão e Política da FGV-SP, concorda com a avaliação. "Estamos falando de caciques dos partidos, não de qualquer um. Por isso pode-se falar em um rebaixamento. O Senado é a casa dos caciques, razão pela qual lá [os concorrentes] rodam menos do que na Câmara."

Há uma característica da disputa decisiva para essa escolha. "Ao olhar para a Câmara, vê-se que para muitas vagas se exige muito menos votos. No Senado, o cargo é majoritário, então você tem de ganhar dos outros concorrentes", explica Abrucio.

De acordo com Couto, isso faz parte do jogo político. "Quem entra em uma eleição para disputar a sério tem de ter estratégia. Isso [tentar um cargo proporcional] é parte de uma estratégia tanto deles para se manterem na vida pública quanto dos partidos para não se mancharem também."

A reportagem procurou os candidatos para comentar, caso por caso, o que os levou a tomar essa decisão.

Marcos Oliveira/Agência Senado
Aécio Neves (PSDB-MG)

Ex-presidente do PSDB e segundo colocado na disputa presidencial em 2014, quando perdeu para a petista Dilma Rousseff, o mineiro era um dos principais nomes da política nacional até ter seu nome ligado a escândalos de corrupção na Operação Lava Jato.

Envolvido em delações de empresários e políticos, o senador tornou-se réu no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a denúncia de receber R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista.

Além disso, Aécio responde ainda a outros oito inquéritos no tribunal.

"Não dá para ganhar do Aécio [em isolamento político]", afirma Couto. "As denúncias fizeram com que ninguém quisesse se associar a ele."

Esta imagem é reforçada nacionalmente pelo candidato do PSDB à Presidência da República. Em entrevista ao Jornal da Globo, Geraldo Alckmin afirmou que o mineiro não saiu da presidência do partido porque quis, mas foi tirado.

"Em Minas, o Aécio aparece o tempo inteiro como algo negativo, imagem incentivada em especial pela campanha de Fernando Pimentel, do PT, adversário do tucano Antonio Anastasia", afirma Abrucio.

Com o rebaixamento de Aécio, o PSDB decidiu não lançar candidato ao Senado no estado em 2018.

De acordo com a última pesquisa eleitoral, os dois candidatos da chapa "Reconstruir Minas", encabeçada pelos tucanos, Rodrigo Pacheco (DEM) e Dinis Pinheiro (SD), brigam pela segunda vaga na eleição liderada por Dilma.

O UOL contatou a assessoria do candidato e do PSDB em Minas Gerais para entender as razões de ele não tentar a reeleição, mas não teve resposta até a publicação deste texto. Em agosto, quando lançou a candidatura, o senador declarou que não havia sido "uma decisão fácil" e que estava sofrendo "ataques violentos e covardes".

"Farei isso em respeito à minha trajetória política, à minha família e a todos os que me levaram a conduzir o que muitos consideram o mais exitoso governo da história recente", afirmou Aécio por meio de nota.

Heuler Andrey/AFP
Gleisi Hoffmann (PT-PR)

Um escândalo de corrupção também atrapalhou os planos da atual presidente nacional do PT para seguir com uma cadeira no Senado, mesmo tendo sido absolvida.

Gleisi e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo (PT), foram denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob a acusação de terem recebido R$ 1 milhão em propina do esquema de corrupção na Petrobras. O dinheiro teria sido empregado na sua campanha ao Senado em 2010. Em junho deste ano, no entanto, ambos foram absolvidos no STF.

A senadora responde ainda a três processos no tribunal. Ela foi denunciada duas vezes pela PGR, com base em delações da Odebrecht e por supostamente integrar uma organização criminosa com outros políticos, e em um inquérito que apura desvio de recursos do Ministério do Planejamento quando Paulo Bernardo comandava a pasta.

Os especialistas avaliam que o julgamento e as denúncias pesaram para a troca de cargo. "Escândalos de corrupção sempre influenciam", afirma Couto.

A senadora confirma essa tese. Em entrevista enviada ao UOL por sua assessoria, Gleisi afirma que tomou a decisão devido ao "processo de desgaste" que sofreu com a denúncia.

"Mesmo sendo inocente, quando [a denúncia] era divulgada, eu era divulgada como culpada. Jamais tive o benefício da dúvida", declarou a senadora. "Eu já era tida como uma pessoa que devia, como criminosa. Eu ia passar uma campanha majoritária, como é a do Senado, tentando justificar, o que não é bom."

Além disso, Abrucio também avalia a mudança do perfil do eleitor no estado. "O Paraná mudou muito nos últimos quatro anos, deu uma guinada à direita", afirma o especialista. "É só ver as últimas eleições, o centro para direita se fragmentou e expandiu."

Em vez de Gleisi, o partido decidiu lançar a advogada Mirian Gonçalves, que aparece em sexto lugar pela disputa, de acordo com a última pesquisa Ibope, divulgada na última quinta-feira (27).

"O rebaixamento é fruto deste embate entre a consciência individual e vontade de perpetuação e as pretensões do partido. No fim, é isso o que decide", diz Abrucio.

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Lídice da Mata (PSB-BA)

Há, no entanto, casos em que a decisão foi imposta pelo partido, à revelia do que desejava o parlamentar.

É o que aconteceu com a baiana Lídice da Mata, ex-prefeita de Salvador e presidente do diretório estadual do PSB na Bahia.

Sem estar envolvida em escândalos de corrupção, a senadora teve de optar pela Câmara depois que seu partido se coligou com PT.

A princípio, Lídice rejeitou a situação e ameaçou lançar candidatura própria. "Depois de um intenso debate que fizemos na Bahia e, apesar do nosso esforço e de toda a mobilização defendendo a nossa presença na chapa liderada pelo governador Rui Costa, isso não foi possível", afirmou a senadora ao UOL.

"Expressamos o nosso descontentamento com a exclusão de uma mulher na chapa, chegamos a avaliar a possibilidade de uma candidatura avulsa, porém entendemos que traria muitas dificuldades às demais candidaturas do partido", concluiu.

"O partido decidiu isso para conseguir compor a chapa [com o PT]. Ela ficou brava, mas aceitou. No fim, como sua pretensão é se manter no jogo político e quem sabe voltar à prefeitura ou governo, continuar no meio político é bom, faz sentido", avalia Abrucio.

"É preciso entender como funcionou o acordo da coligação no estado. Dificilmente uma mesma chapa elege os dois senadores", afirma Couto. "Como Jaques Wagner é o titular, eles podem tê-la preterido para não canibalizar os votos. É aquela velha história: melhor não trocar o certo pelo duvidoso."

Wagner encabeça a chapa completada pelo Coronel Ângelo (PSD), atual terceiro colocado nas pesquisas.

Agência Brasil
José Agripino Maia (DEM-RN)

Ex-prefeito de Natal, ex-governador do Rio Grande do Norte e senador há 30 anos, o potiguar Agripino Maia teve sua carreira política abalada ao se tornar réu no STF por duas vezes.

A PGR acusa o político de ter recebido R$ 1,1 milhão em propina para influenciar na escolha de uma empresa pelo governo para um contrato de inspeção veicular. Como Aécio, o democrata teve de deixar a direção nacional do seu partido em meio aos escândalos.

"Aécio e Agripino estão fazendo campanhas mais escondidas para evitar discussões e, principalmente, não influenciar seus candidatos ao governo", afirma Abrucio. "O receio é chamar a atenção para os escândalos, embora seu candidato ao governo já vá perder."

No Rio Grande do Norte, o DEM faz parte da coligação que tem o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo (PDT) como candidato. De acordo com a última pesquisa eleitoral, ele está com 25% das intenções de voto, 14 pontos abaixo de Fátima Bezerra (PT).

Sem Agripino, o partido também não indicou candidato ao Senado. Na chapa, as vagas são ocupadas por Garibaldi Filho (MDB) e Jácome (PODE).

O UOL procurou a assessoria do senador e do Democratas no Rio Grande do Norte para comentar a decisão, mas não obteve resposta.

Andressa Anholete/AFP
Suplentes podem usar vaga diferente como alavanca

Dois nomes menos conhecidos completam o sexteto dos rebaixados. Eles eram suplentes na eleição de 2010, por isso os cientistas políticos não avaliam que se trate de um rebaixamento, mas de uma oportunidade.

Hélio José (PROS-DF) assumiu a cadeira em janeiro de 2015, quando o titular Rodrigo Rollemberg (PSB) se tornou governador do Distrito Federal.

José Medeiros (PODE-MT) ingressou no Senado na mesma época no lugar de Pedro Taques (PSDB), atual governador de Mato Grosso.

"Estes são casos diferentes. Para o cargo que eles assumiram, não tiveram votos. O eleitor vota no titular e o suplente assume por várias razões. O mandato, neste caso, pode ser usado como trampolim para ganhar uma eleição própria", avalia Couto.

"Nestes casos, não pode se considerar rebaixamento, faz sentido [que pleiteiem a Câmara]. Afinal, nem no jogo eleitoral eles estavam. Isso é alavancar uma candidatura", concorda Abrucio.

Medeiros não viu dessa forma. Durante a convenção estadual do Podemos, o partido decidiu fechar coligação com o PT, partido do qual o senador é crítico nacionalmente.

Ele reclamou do que chamou de "mudança de rota". "Inicialmente eu era pré-candidato ao Senado Federal, mas a nossa candidatura cresceu muito e incomodou também. Forças ocultas trabalharam muito forte para destruir o nosso projeto de reeleição e todos sabem o que aconteceu", declarou o senador à época.

O UOL tentou entrar em contato com a assessoria do candidato para comentar o caso, mas não teve resposta até o momento.

Edilson Rodrigues/Agência Senado
O senador Hélio José concorre como deputado federal
Candidatos devem se eleger

Com escândalos de corrupção ou não, os cientistas políticos afirmam que os seis candidatos devem ser eleitos em seus respectivos estados.

"Aécio e Agripino, que são os mais envolvidos em escândalos, têm bases eleitorais antigas, sólidas e histórias de mais de 30 anos", afirma Abrucio. "Isso não deve ser um empecilho. Em Minas, há muitas cadeiras e Aécio participa de uma aliança muito forte."

"A política é dinâmica e muda muito. Veja o caso de Eduardo Suplicy: há quatro anos ele perdeu a única vaga disputada para José Serra [PSDB] por causa da baixa do PT na época. Então teve de voltar como vereador em 2016 e agora está em primeiro nas pesquisas deste ano", diz Couto.

"As explicações [para mudar de cargo] são prosaicas: o caso é que alguns nomes, como Aécio e Agripino, se tornaram insustentáveis. Mas a volta por cima pode acontecer. Em política nada está morto e é nisso que eles apostam", afirma Couto.

"No fim, todos querem ou alavancar ou reconstruir suas carreiras", concorda Abrucio. "Mas esta reconstrução precisará, sem dúvida, de muita humildade."

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