#EleNão ajudou a eleger mulheres, diz deputada federal estreante do PSOL
Guilherme Machado
Do UOL, em São Paulo
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Lucas Lima/UOL
Retrato da deputada federal eleita por São Paulo Sâmia Bonfim (PSOL)
"Estou um pouco cansada e em estado de choque", disse Sâmia Bomfim (PSOL) ao atender a ligação do UOL na tarde desta segunda-feira (8). A vereadora se elegeu para a Câmara Federal, sendo a candidata mais votada de seu partido em São Paulo, com quase 250 mil votos.
A deputada comemorou sua vitória nas urnas e o fato de o PSOL ter aumentado sua bancada no Congresso. Entretanto, não escondeu seu medo com o cenário do país.
"Acho que a gente vai ter um trabalho muito paciente e didático de construção de uma possível vitória contra o fascismo nesse segundo turno, e já falei, estou me colocando à disposição a isso, pro que for necessário. Tem coisas muito importantes para a população brasileira que estão em risco com uma possível eleição de [Jair] Bolsonaro (PSL). Desde a volta da ditadura que ele flerta o tempo inteiro até a tirada de direitos históricos que foram conquistados. É completamente contra aquilo que eu defendo", conta ela.
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Com forte atuação na Câmera dos Vereadores de São Paulo, onde protagonizou, por exemplo, um embate explosivo contra Fernando Holliday (DEM), uma das principais bandeiras de Sâmia é a luta pelos direitos das mulheres.
Em um Congresso que terá figuras de direita, como Joice Hasselman e Kim Kataguiri, Sâmia diz que pretende manter seu perfil de enfrentamento.
"Aqui em São Paulo eu faço um pouco isso já, mas acho que são peixes menores. Além desses mais escandalosos, que são um pouco mais caricatos, inclusive, tem outros figurões no Congresso Nacional que ainda que sejam, aparentemente menos danosos, são terríveis, tipo agronegócio, enfim esses coronéis todos. A gente tem que seguir com o espírito de combatividade, de enfrentamento.
Do lado de fora nossa expressão social é maior, acho que as batalhas que consegui fazer aqui na câmara só foram possíveis com isso", afirma.
A deputada discorda da análise de que as manifestações do movimento #EleNão tenham contribuído para a ascensão de Bolsonaro, incendiando sentimentos antipetistas. Para ela, é o contrário, o movimento ajudou a eleger mais mulheres. No caso do PSOL, dos 10 deputados federais eleitos, cinco são mulheres.
"Não sou nenhuma analista política, mas eu não concordo. Acho que o crescimento do Bolsonaro foi independente da manifestação política. Acredito que as manifestações são a única saída possível para derrotá-lo de fato, é articulação, unidade entre as pessoas, que é capaz de furar esse bloqueio que está sendo imposto pela lógica do ódio e do fascismo em última instância. Acho que não tem conexão, acho que foi inclusive um alívio, que possibilitou ter uma expressão eleitoral maior de mulheres", declara ela.
Neste ano, foram escolhidas 77 deputadas federais, contra 51 em 2014, um aumento de 50%. No Senado, que neste ano é renovado em dois terços de seus assentos, foram eleitas sete. Somadas à bancada atual, elas passam a representar 12 de um total de 81 cadeiras (15%) - um número que se mantém estável comparado à configuração anterior.
Sâmia vê Bolsonaro como a incorporação de um sentimento de insatisfação com a forma de se fazer política.
"O Bolsonaro cresce por uma negação da política. Ele é um personagem, de certa forma, perfeito para esse momento de caos social, caos político, um personagem que vem sendo construído já há alguns anos, que surfa sim na onda do antipetismo. Agora a gente vai ter que tentar ter um projeto muito pedagógico e paciente com a população para reverter esse cenário amedrontador".
O PSOL se reúne na tarde desta segunda para definir estratégias para o segundo turno. Sâmia Bomfim defende uma reinvenção de partidos de esquerda.
"Eu acho que é possível, as eleições estão mostrando que esse é o caminho para um crescimento possível da esquerda. A velha esquerda ainda tem espaço eleitoral, mas tem através de máquina eleitoral, muita grana, de cabo eleitoral. Agora as expressões mais interessantes e mais legítimas passam por uma outra lógica. Pessoas novas, mulheres, LGBTs se elegendo. Não é possível que os partidos não observem essa campanha e vejam que a saída é por aí. [Precisa] questionar essa velha lógica de fazer acordos, abrir mão de princípios, se acomodar ao espaço das instituições. Ou eles cedem e se reinventam, ou a gente vai ocupar esses espaços que eles não querem dar para gente".
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