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O candidato ao governo do Rio de Janeiro Eduardo Paes (DEM) atacou seu concorrente Wilson Witzel (PSC) durante debate na TV Record nesta sexta-feira (19) associando sua imagem à do advogado Luiz Carlos Cavalcanti Azenha, que tentou ajudar na fuga do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, ex-chefe do tráfico na favela da Rocinha, na zona sul carioca.

Witzel contra-atacou tentando ligar Paes ao esquema de corrupção e propinas chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso desde novembro de 2016 e condenado a mais de 180 anos de prisão.

O candidato do PSC, que associou durante a campanha sua imagem à do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), surpreendeu ao ultrapassar Paes na corrida eleitoral às vésperas do 1º turno --ele teve 41,28% dos votos, enquanto o democrata registrou 19,56%. Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (18), Witzel aparece com 61% dos votos válidos (que desconsidera nulos, brancos e indecisos) contra 39% do ex-prefeito Paes. Na quarta-feira (17), o Ibope aferiu cenário semelhante --Witzel com 60% e Paes com 40% dos votos válidos.

No debate da Record, o ex-prefeito do Rio citou reportagem da revista "Veja" que apresentou fotos e mensagens que mostrariam ligação entre Witzel e Azenha, que tentou esconder Nem no porta-malas de seu carro para ajudá-lo a escapar de operação policial.

"Ele [Witzel] dizia até bem pouco tempo atrás que ele tinha sido só professor do Azenha, a gente descobre várias fotos dele com o Azenha em momentos de intimidade, tomando um chopinho", disse Paes. "Hoje, na matéria da 'Veja', o próprio Azenha diz: a amizade fez com que ele coordenasse a campanha do Witzel, apresentasse por todo o estado o Witzel. Estou falando do advogado que escondeu o Nem, o maior traficante do Rio na mala e tentou dar fuga para ele na Rocinha", disse Paes.

Ao apontar a suposta relação com o advogado de Nem, o ex-prefeito do Rio chamou o adversário de "falso caçador de corruptos" e afirmou que, à "Veja", Azenha teria dito que Witzel é pior que o traficante Nem.

Paes chegou a ler parte da reportagem que relata ainda troca de mensagens entre Witzel e Azenha. "Tem uma troca de WhatsApp que não é fake, que você diz mais ou menos assim, você diz para o comparsa do Nem: 'Não vou depositar pode passar aqui?' Aí o comparsa do Nem, o Azenha, diz assim: 'Só me avisar o horário mais tarde vai me ajudar muito'. Ainda manda o coraçãozinho para você". Em seguida, Paes pergunta a Witzel sobre o serviço prestado e o motivo de a remuneração ser supostamente em dinheiro em espécie.

Witzel respondeu que Azenha é advogado criminalista e já respondeu por seus atos, tendo sido absolvido pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). "Esse caso, especificamente, ele [Azenha] defendeu um cliente, lá em Itaperuna, o Vinícius, que foi ele que pagou o candidato, viu? Foi ele que pagou o Azenha. E isso tudo está sendo esclarecido, para que você não tenha dúvidas de que o Azenha trabalha como advogado. Ele é um profissional. Está inscrito nos quadros do exame da Ordem", afirmou Witzel.

Fuga da Rocinha

Ao ligar Witzel a Azenha, Paes se referia à prisão do traficante Nem em novembro de 2011. O criminoso tentava deixar a favela da Rocinha, que estava prestes a ser ocupada por forças policiais em uma das etapas da instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no local.

Ele estava escondido no porta-malas de um veículo onde estavam seus advogados, entre eles, Azenha. O grupo foi parado por policiais militares do Batalhão de Choque na região da Lagoa (zona sul).

Inicialmente, os advogados fingiram que um deles era cônsul de um país africano e alegaram que o carro não podia ser revistado, pois possuíam imunidade diplomática. Eles tentaram oferecer propina aos policiais, mas eles não aceitaram e entregaram o grupo para a Polícia Federal.

Nem acabou preso, e Azenha foi condenado por participação na ação, e recebeu o direito de cumprir pena em liberdade.

"Você comeu na mesa do Cabral", acusa Witzel

Paes também citou um vídeo no qual o candidato do PSC aparece orientando colegas do Judiciário a fazer uma "engenharia" para ter direito mensalmente a um benefício de R$ 4.000 previsto na lei da magistratura. Paes classificou isso de "engenharia" de "maracutaia".

Já Witzel acusou Paes de ligação com Cabral e com a família do ex-deputado estadual Jorge Picciani (MDB), preso na Operação Lava Jato e acusado de receber propina de empresas de transporte.

"Você comeu na mesa do Cabral, dividiu o guardanapo com ele. Você emprega os filhos do Picciani", afirmou Witzel.

Witzel se referia ao episódio que ficou conhecido como "farra dos guardanapos", um jantar em um hotel na França do qual participaram Cabral, secretários e empresários que foram depois investigados por envolvimento em um esquema de propinas.

Paes participou do evento, mas disse no debate que os esquemas de corrupção que envolveram Cabral nunca chegaram à prefeitura.

Ao responder a uma pergunta sobre saúde pública, Witzel falou sobre o efeito da corrupção na área --ele lembrou da prisão do ex-secretário de Saúde de Cabral Sérgio Côrtes na Lava Jato e prometeu fazer uso da rede estadual de saúde.

Logo em seguida, Paes lembrou que Witzel ganhava auxílio-moradia à época que foi juiz federal mesmo tendo um imóvel próprio no Rio. O ex-prefeito afirmou que Witzel lançou mão de privilégios mesmo quando teve oportunidade de não usá-los. "Podia ter feito isso na época em que era juiz", ironizou.

"Ex-juiz fake" x "prefeito fake"

Uma pergunta sobre como resolver o déficit habitacional no Rio deu origem a uma troca de ofensas entre os candidatos. Witzel perguntou a Paes como ele pretendia trabalhar o tema e ouviu do democrata que a maioria da população não tem moradia nem auxílio-moradia, ao contrário de Witzel, reforçou o ex-prefeito, que recebia o benefício mesmo possuindo casa própria.

Paes também acusou Witzel de não pagar IPTU, e o ex-juiz rebateu: "sou brasileiro como todos os outros que pode não pagar em dia, mas paga suas contas". "Francamente, o senhor devia pagar seus impostos em dia", disse Paes.

Witzel então disse que Paes gosta de privilégios por querer morar no Palácio Guanabara, enquanto o estado passa por um déficit habitacional "gigantesco". "Você devia ter vergonha de falar dessa maneira, ex-juiz fake. Falso caçador de bandidos, que anda com comparsa do Nem", disse Paes.

"Prefeito fake, prefeito que deixou o município do Rio de Janeiro destruído com várias obras superfaturadas", rebateu Witzel.

Witzel pediu que Paes explicasse a origem do apelido Nervosinho --nome pelo qual teria sido identificado em planilhas de propina da Odebrecht-- e sua relação com Alexandre Pinto, ex-secretário de Obras na sua gestão e réu confesso da Operação Lava Jato em um esquema de desvio de dinheiro envolvendo empreiteiras.

Paes se defendeu afirmando achar estranho que, após dar três depoimento sem citá-lo, Pinto tenha falado a poucos dias da eleição que "ouviu falar" de seu envolvimento.