"Não tenham medo, nós estaremos aqui", diz Haddad em discurso após derrota

Ana Carla Bermúdez, Bernardo Barbosa, Maurício Dehò e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

Em sua primeira declaração após a confirmação de sua derrota para Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pelo Planalto, candidato do PT, Fernando Haddad pediu respeito a seus cerca de 45 milhões de votos e afirmou que seus eleitores não precisam ter medo. "Nós estaremos aqui. Nós estamos juntos", disse. "Contem conosco. Coragem, a vida é feita de coragem. Viva o Brasil".

Haddad só discursou após o primeiro pronunciamento de Bolsonaro como presidente eleito. O petista acompanhou a apuração ao lado da família e de lideranças do partido em um hotel na zona sul de São Paulo. O candidato derrotado não ligou para o vencedor, como é tradição na disputa eleitoral brasileira.

A palavra "coragem" foi dita em diversos momentos do discurso de Haddad, que durou pouco menos de nove minutos. Ele disse que aprendeu com seus antepassados "o valor da coragem para defender a Justiça a qualquer preço". "A coragem é um valor muito grande quando se vive em sociedade".

Em nenhum momento Haddad fez referência direta a Bolsonaro, mas disse que, durante a campanha, sentiu "angústia e medo nas expressões de muitas pessoas". "Daqui a quatro anos, nós teremos uma nova eleição. Nós temos que garantir as instituições. Nós não vamos sair das nossas profissões, dos nossos ofícios. Não vamos deixar de exercer a nossa cidadania", disse.

Talvez o Brasil nunca tenha precisado mais do exercício da cidadania do que agora. Eu coloco a minha vida à disposição deste país. Tenho certeza que falo por milhões de pessoas que colocam o Brasil acima da própria vida, do próprio bem-estar

Ao lado de Haddad, também estavam sua candidata a vice, Manuela D'Ávila, além dos presidentes do PSOL, Juliano Medeiros, e PCdoB, Luciana Santos. O candidato derrotado do PSOL ao Planalto, Guilherme Boulos também participou do ato. A ex-presidente Dilma Rousseff foi a mais festejada entre os presentes, tendo seu nome gritado pelos militantes. "Dilma, guerreira da pátria brasileira", entoaram. Os petistas também assoviaram a música "olê, olê, olá, Lula, Lula".

O petista foi recebido com comemorações pelos militantes ao chegar no salão em que fez seu pronunciamento. Na sequência, os organizadores do evento pediram um minuto de silêncio e lembraram de mortes ligadas à política, como a da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e a do mestre Moa do Katendê. "Nós não vamos deixar esse país para trás, respeitando a democracia."

Ricardo Matsukawa/UOL
Fernando Haddad discursa em evento em SP após derrota
Apesar de todas as pesquisas apontarem uma provável derrota, a campanha petista construiu um discurso de otimismo nos últimos dias. Neste domingo, antes de ir votar, Haddad chegou a dizer que estava confiante em "um grande resultado hoje". "As pesquisas indicam uma retomada importante da intenção de voto no nosso projeto. E eu confio na democracia, confio no povo brasileiro".

Em contraste, lideranças petistas mantiveram o tom de cautela ao longo de todo dia. Para alguns petistas, a derrota já era algo esperada, e a esperança era de diminuir a diferença de Haddad para Bolsonaro. Uma margem menor daria mais força para o partido ter força como oposição ao governo do presidente eleito.

Quando houve a confirmação da vitória de Bolsonaro, alguns militantes choraram. "Estaremos na resistência do dia a dia", disse um apoiador petista que estava no hotel.

Em contraste com a tristeza do lado de dentro, na rua em frente ao hotel passavam carros com a bandeira do Brasil buzinando, celebrando a vitória de Bolsonaro.

Os políticos que circulavam pelo lobby do hotel já haviam, quase todos, deixado o local pouco depois das 19h, quando os resultados oficiais dos estados começaram a ser divulgados. Depois da confirmação, ficaram apenas Luiz Marinho, presidente estadual do PT e candidato derrotado ao governo de São Paulo, e Eduardo Suplicy e Jilmar Tatto, que disputaram o Senado e também não foram eleitos.

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Haddad não vai visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na superintendência da PF em Curitiba nesta segunda. Quem se encontrará com Lula é o deputado estadual eleito Emidio de Souza (PT-SP), um dos principais auxiliares de Haddad durante a campanha. Assim como Haddad, Emidio também está registrado na equipe de advogados de Lula.

Ele votou pela manhã na capital paulista, por volta das 10h15. O petista declarou esperar que o dia transcorra com "muita tranquilidade". "Eu confio na democracia, confio no povo brasileiro", disse Haddad. Assim que os militantes iniciaram o ato, moradores do prédio que fica em frente ao colégio começaram a bater panela.

PT na oposição ao governo Bolsonaro

Haddad pediu respeito a seu eleitorado, que "diverge da maioria, tem um outro projeto de Brasil". Ele fez referência a reveses recentes do PT: o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), momentos em que, segundo ele, "as instituições foram colocadas à prova a todo instante".

O candidato derrotado diz que, agora, sua missão é apoiar "a soberania nacional e a democracia como nós defendemos". "Nós temos uma nação, precisamos defendê-la daqueles que pretendem usurpar o nosso patrimônio". Haddad também fez referência à defesa dos direitos civis, políticos, trabalhistas e sociais, "que estão em jogo neste momento". "Portanto, nós temos uma tarefa enorme no país: defender os pensamentos, as liberdades desses 45 milhões de brasileiros que nos acompanharam até aqui".

Ele disse que o partido tem a responsabilidade de fazer a oposição ao novo governo "colocando os interesses nacionais, de todos os brasileiros acima de tudo", apontado que não deverão ser aceitas provocações nem ameaças. "Lembrando o hino nacional: 'verás que um professor não foge à luta, nem teme quem adora a liberdade à própria morte", falou, sendo aplaudido pelos militantes.

Haddad não deixou de fazer críticas indiretas ao PT, dizendo que o partido deverá voltar para as bases. "Nós vamos continuar nossa caminhada, conversando com as pessoas, nos reconectando com as bases", disse.

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