Quem é Paulo Guedes e o que pensa o provável novo ministro da Fazenda
Do UOL, em São Paulo
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Sergio Moraes - 6.ago.2018/Reuters
Responsável pela proposta econômica de Jair Bolsonaro (PSL) e escolhido para ser ministro da Fazenda ou "superministro da economia", Paulo Guedes chegou a ser chamado pelo então candidato de "posto Ipiranga", isto é, quem resolveria todas as questões da área. Um dos principais responsáveis pela vitória, Guedes avalizou a eleição do novo presidente em função de suas ideias para o setor: privatizações e corte de gastos.
Desde que foi anunciado como principal conselheiro econômico de Bolsonaro, há cerca de um ano, Guedes serviu como fiador, junto ao mercado, do presidente eleito, que tinha ideias opostas às do economista. Foi a partir dessa aliança que a candidatura de Bolsonaro começou a deslanchar. Mas o "guru econômico" do novo presidente nem sempre esteve de acordo com as ideias do candidato, e também está cercado por polêmicas e denúncias.
Divergências amenizadas
Ultraliberal, o futuro ministro é defensor do Estado mínimo, com a venda de empresas do governo, e da abertura do mercado para o comércio internacional. Bolsonaro, por sua vez, mostrou-se a favor de ideias estatistas ao longo de seus sete mandatos como deputado federal. Na Câmara, ele votou contra as privatizações da Companhia Vale do Rio Doce e das telecomunicações, e opôs-se a alterações na Previdência dos militares.
Num sinal da influência de Guedes, o novo presidente, agora, já indicou que muitas estatais devem ser vendidas, mas tirou do pacote Banco do Brasil, Caixa e 'miolo' da Petrobras. O governo Bolsonaro terá como prioridades, segundo o economista, as privatizações, a redução do tamanho da máquina pública e a reforma da Previdência. "Primeiro grande item é a Previdência. Precisamos de uma reforma da Previdência", disse Guedes na noite de domingo (28), após o resultado das urnas.
Ao longo da campanha, a relação entre Guedes e Bolsonaro sofreu altos e baixos em função de divergências em alguns pontos. O novo ministro chegou a cogitar a criação de um imposto nos moldes da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e a unificação da alíquota do Imposto de Renda. A ideia pegou mal entre o eleitorado, e o então candidato veio a público desmentir o economista e determinar que ele reduzisse as atividades eleitorais.
Qual será o papel de Paulo Guedes no governo Bolsonaro?
Desperta paixão e ódio
Guedes é uma figura que desperta paixão e ódio no mercado. Suas ideias ultraliberais, por exemplo, tinham pouca recepção em duas das mais importantes faculdades de economia do Rio de Janeiro: a FGV (Fundação Getulio Vargas) e a PUC (Pontifícia Universidade Católica). Em ambas, ele chegou a dar aulas como professor horista (tempo parcial), mas não se ambientou.
O futuro ministro coleciona inimigos, como os ex-presidentes do Banco Central Luiz Carlos Mendonça de Barros e Persio Arida. Na época da fundação do banco Pactual --onde foi sócio e estrategista-chefe--, no início da década de 1980, Guedes fez fama por suas críticas ácidas à política econômica conduzida por seus ex-colegas da PUC-RJ.
Segundo a revista "Piauí", o economista já defendeu a Bolsonaro a distribuição de vouchers para os alunos de escolas públicas com bom desempenho estudarem na rede particular. Em relação ao sistema prisional, defendeu a privatização de todas as penitenciárias. Guedes, que já tentou colaborar com governos a partir da eleição de 1989, diz que "o Brasil virou o paraíso dos rentistas e o inferno dos empreendedores".
Alvo de duas investigações
Economistas o qualificam como um "especulador da velha guarda". Eles, porém, defendem Guedes das acusações de "irregularidades na gestão de dinheiro de fundos de pensão de estatais". Ele é alvo em ao menos duas investigações de autoridades federais.
Em uma delas, o MPF (Ministério Público Federal) apura se ele cometeu gestão fraudulenta ou temerária ao se associar a diretores dos fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Funcef (da Caixa) e Postalis (dos Correios) entre fevereiro de 2009 e junho de 2013. Também é investigado, em inquérito no âmbito da operação Greenfield, sob suspeita de emissão e negociação de títulos mobiliários sem lastros ou garantias.
"Apesar de ser um p... especulador, eu posso te garantir que o Guedes sempre agiu corretamente, dentro da regra do jogo", afirmou o ex-operador pessoal de Guedes. "Essa fraude que dizem que o beneficiou não tem o menor cabimento. Só fala isso quem realmente não conhece o cara. Ele ganhava R$ 600 mil em questão de minutos. Não precisaria se queimar dessa forma", disse.
Atualmente, Guedes é sócio e membro do comitê executivo da Bozano Investimentos, empresa que gere R$ 2,7 bilhões em seus fundos.
Super ministro?
O fato de Bolsonaro ter dado poderes a Guedes para controlar a área econômica é visto com ceticismo por analistas, que preveem problemas na relação entre os dois.
"Não há superministro sob um presidente como Bolsonaro", afirma o cientista político Claudio Couto. "Não há, porque, para que houvesse, ele seria um presidente que teria que reconhecer a importância de certos grupos econômicos, de certos grupos políticos como contrapartida ao poder que ele mesmo exerce. E Bolsonaro não me parece alguém com esse perfil."
Guedes já recebeu um aviso de Bolsonaro sobre como será a relação entre eles. "Teremos um ministro, sim, mas, acima dele, tem um comandante, e esse comandante chama-se Jair Bolsonaro", disse o presidente eleito.
Bolsonaro comemora vitória com família, Guedes e general
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