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Lacerda contempla PT e PSDB ao anunciar secretários do 1º escalão em BH

Rayder Bragon<br>Especial para o UOL Notícias<br>De Belo Horizonte (MG)

29/12/2008 19h39

Ao anunciar nesta segunda-feira (29) os nomes dos secretários do 1º escalão do governo, o prefeito eleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), evidenciou que a composição vai contemplar os partidos dos dois cabos eleitorais mais ilustres de sua campanha: o atual prefeito, Fernando Pimentel (PT), e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB).

Os tucanos, apoiadores informais da chapa de Lacerda, voltam a ocupar cargos importantes e cobiçados na administração da cidade, como a Secretaria da Saúde e a Sudecap (Superintendência de Desenvolvimento da Capital), após 16 anos de comando ininterrupto do PT.

No entanto, os petistas ligados a Pimentel continuarão a dirigir a maioria das secretarias; Finanças, Políticas Sociais, Políticas Urbanas, Educação e Planejamento.

Lacerda revelou ainda que o 2º escalão será montado aos poucos e a prioridade será dada a técnicos sem ligações partidárias.

O socialista toma posse na próxima quinta-feira (1º) e anunciou a conclusão, até fevereiro de 2009, de planejamento estratégico a curto prazo para os primeiros seis meses, tempo no qual pretende se familiarizar com a máquina administrativa.

Uma das primeiras medidas do novo prefeito será a exoneração de 250 servidores de cargos comissionados da prefeitura, cujos nomes serão publicados no diário do município dia 31 deste mês, assegurou Lacerda. "Não são funções operacionais de prioridade para a prefeitura. Foi feita uma triagem e os cargos poderão ser preenchidos novamente ou não", disse.

Lacerda ainda revelou a criação de uma área na prefeitura intitulada "BH Metas e Resultados", que tem a finalidade de acompanhar a execução do seu programa de governo e estará diretamente ligada ao gabinete do prefeito.

Apesar dos cortes, ele disse ter a intenção de criar duas secretarias - a de Meio Ambiente, e outra com o nome provisório de Treinamento Profissional, Esporte e Juventude, que ficaria a cargo do vice-prefeito, Roberto Carvalho.

Lacerda ainda prometeu tentar viabilizar o nome da mulher de Fernando Pimentel, a historiadora Thaís Pimentel, na Fundação Municipal de Cultura. Anteriormente, ela havia exercido a função de diretora do museu Abílio Barreto, mas tinha sido exonerada em 9 de setembro por causa da súmula vinculante do STF (Supremo Tribunal Federal), que proíbe o nepotismo no serviço público.

Desafios da Nova Gestão
Marcio Lacerda terá pela frente problemas que se tornaram crônicos e até então insanáveis pelas gestões anteriores, como a conclusão das obras do metrô da capital, incompletas há mais de 20 anos, e a melhoria do trânsito de Belo Horizonte, que apresenta sinais de colapso em curto espaço de tempo, segundo especialistas. Adversários do socialista já alertam para a real capacidade dele em resolver os gargalos da cidade.

Com a crise que assola os mercados, o caixa da prefeitura poderá sofrer algum desfalque. As principais promessas de campanha do socialista poderão sofrer retração nos números; a construção de hospital com 300 leitos na região do Barreiro, abertura de 44 mil vagas para o ensino infantil e a expansão de vagas para 100 mil estudantes do ensino fundamental, além de 148 conexões viárias para desafogar o tráfego na capital (obra avaliada em R$ 2,5 bilhões).

Dobradinha polêmica
A união entre o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), e o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), em torno de Marcio Lacerda nas eleições deste ano gerou pedidos de intervenção na sigla petista municipal, feito por militantes contrários, e descontentamento em dois ministros do governo Lula.

O mais ilustre avesso à dobradinha entre as duas legendas foi o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), que não se engajou na campanha de Lacerda, seguido pelo ministro Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência).

A Executiva Nacional do PT vetara a participação dos tucanos na coligação de Lacerda, que tinha como vice o deputado petista Roberto Carvalho.

A chapa, então, havia sido aprovada pela instância municipal do partido sem a participação dos tucanos em consonância com a matriz nacional, mas, na prática, isso não ocorreu.

O governador Aécio Neves participou ativamente da campanha de Lacerda. Fato contestado pela candidata do PC do B, a deputada Jô Moraes, protagonista de batalha judicial contra Lacerda em protesto das aparições constantes do governador na campanha do socialista.

Em outra frente, militantes contrários ao nome do socialista e à união com Aécio fizeram campanha para os candidatos Jô Moraes (PC do B), no 1º turno, e para Leonardo Quintão (PMDB), no 2º turno.

A atitude dos petistas dissidentes gerou ameaças de expulsão que até agora não se concretizaram.