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Discursos em tom de campanha marcam saída de governadores e ministros

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

31/03/2010 19h14

Veja quem sai para disputar cargos nas Eleições 2010

Eventos grandiosos e discursos inflados por um tom de campanha antecipada marcaram os afastamentos de ministros e governadores que vão disputar as eleições de outubro. Embora o prazo de desincompatibilização só termine no sábado (3), os governadores de São Paulo, José Serra (PSDB), e de Minas Gerais, Aécio Neves, e mais 10 ministros do governo Lula – entre eles, a titular da Casa Civil, Dilma Rousseff – deixaram seus cargos nesta quarta-feira (31).

Pela manhã, uma cerimônia realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília, marcou a substituição dos ministros que irão concorrer a mandatos nas próximas eleições. Foram eles Reinhold Stephanes (Agricultura), Dilma Rousseff (Casa Civil), Hélio Costa (Comunicações), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), Edson Santos (Igualdade Racial), Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), Carlos Minc (Meio Ambiente), Edison Lobão (Minas e Energia), José Pimentel (Previdência Social) e Alfredo Nascimento (Transportes).

No evento, os discursos mais aguardados foram os de Dilma e de Lula. A ministra, que chorou em alguns momentos, destacou a “alegria triste” em ter que deixar o governo. "Não somos aqueles que estão dizendo 'adeus', somos aqueles que estão dizendo 'até breve'. Sob a sua inspiração de quem fez tanto, estamos prontos para fazer mais e melhor", disse Dilma, se dirigindo a Lula. “Não importa perguntar porque alguns não têm orgulho dos governos de que participaram. Eles devem ter seus motivos. Mas nós temos patrimônio, fizemos parte da era Lula. Vamos carregar essa história e levá-la para os nossos netos", afirmou a ministra. Falando a jornalistas após o evento, a candidata disse não ter medo da disputa eleitoral, e afirmou que a corrida ao Planalto será um desafio muito mais fácil do que foi entrentar a ditadura militar (ela participou da luta armada contra o regime e acabou presa).

O presidente, em seu discurso, agradeceu a todos os ministros que deixavam seu governo e fez longas referências ao trabalho de vários deles. Sobre Dilma Rousseff, Lula disse que, embora sua saída representasse um “vazio” no Ministério e um “prejuízo para o Brasil”, ele tem a perspectiva de que ela seja “mais do que chefe da Casa Civil”. “A esperança é a motivação da sua saída”, afirmou o presidente. Ele desafiou ainda seu sucessor a trabalhar. "Quem quiser dormir até as 10 (horas da manhã), e acha que tem que fazer relação com formador de opinião pública, vai ter que botar o pé no barro", afirmou.

Afastamento de Serra

À tarde, foi a vez de José Serra fazer seu último pronunciamento como governador paulista. Em evento no Auditório Ulysses Guimarães, no Palácio dos Bandeirantes, e coma a presença de 5.000 pessoas, o tucano fez uma prestação de contas de seus pouco mais de três anos de governo. Em 53 minutos de discurso, fez críticas veladas a Dilma e Lula e adotou um claro tom de campanha eleitoral. "Repudiamos sempre a espetacularização, a busca pela notícia fácil, o protagonismo sem substância”, afirmou. “Já fui governo e já fui oposição, mas de um lado ou de outro, nunca me dei à frivolidade das bravatas”, disse Serra.

“No meu governo, nunca se olhou a cor da camisa partidária. Eu exerci o poder neste Estado sem discriminar ninguém”, afirmou o governador. "O nosso governo serve ao interesse público, e não à máquina partidária. Nós governamos para o povo", disse Serra, que citou ainda as frases da bandeira paulista (Non Ducor Duco, ou “não sou conduzido, conduzo”, que era lema do Estado antes de 1932, e Pro Brasilia Fiant Eximia , ou “pelo Brasil, façam-se as grandes coisas”, a frase atual). Sob aplausos e gritos, e em clima total de campanha, ele finalizou dizendo: "esta é também a nossa missão. Vamos juntos, o Brasil pode mais". Enquanto o evento era realizado no palácio, milhares de servidores públicos do Estado realizavam um protesto contra o governador – batizado de "bota-fora do Serra" – na Avenida Paulista, prejudicando o trânsito da região.

Aécio deixa governo de MG

Um dia após ter entregado sua carta de renúncia, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), despediu-se do cargo nesta quarta-feira. Com um discurso de tom conciliatório, feito no Palácio da Liberdade, ex-sede do governo do Estado, o tucano chegou a agradecer aos adversários. "Não governei contra ninguém. Governei sempre a favor dos mineiros e agradeço o reconhecimento dos nossos adversários à forma republicana com que conduzi o estado nesses 7 anos e três meses. Busquei no diálogo e nas parcerias o caminho para as construções das convergências que nos permitiram avançar em tão pouco tempo", disse Aécio, que transmitiu o governo de forma simbólica a seu vice, Antônio Anastasia.

A cerimônia, que contou com um bufê para 5.000 convidados no interior do Palácio da Liberdade, teve produção requintada e reuniu artistas e políticos, mas sofreu atraso devido a uma tempestade. Populares viram o evento na Praça da Liberdade, em frente ao palácio, onde foram colocados dois telões. Boa parte das pessoas foi levada ao local em ônibus fretados. Aécio provavelmente será candidato ao Senado, mas ainda é cobiçado como vice na chapa de Serra.

Henrique Meirelles

No fim do dia, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, anunciou que não há definição sobre seu afastamento do cargo. Na terça-feira, Meirelles se reuniu com Lula e pediu mais 24 horas para trazer sua decisão a público, mas optou por deixar a situação ainda em suspenso. O presidente do BC, filiado ao PMDB, tem a intenção de concorrer ao Senado pelo Estado de Goiás e é tido como nome preferido do presidente Lula para ser o vice na chapa de Dilma Rousseff – embora o PMDB prefira do nome do presidente da Câmara e da sigla, Michel Temer (SP).

Veja abaixo quem deixa o cargo e quem entra: