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Leia a transcrição da entrevista de Eduardo Braga à Folha e ao UOL

Do UOL, em Brasília

30/03/2012 07h00

Eduardo Braga (PMDB-AM), líder do governo no Senado, participou do "Poder e Política", projeto do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 29.mar.2012 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

 

>> Fotos da entrevista com Eduardo Braga.
 

Leia a transcrição da entrevista e assista ao vídeo:


Eduardo Braga – 29/3/2011

Narração de abertura: O senador Carlos Eduardo de Souza Braga tem 51 anos. É formado em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Amazonas.

Aos 21 anos, Eduardo Braga foi vereador em Manaus. Depois, elegeu-se deputado estadual, deputado federal e governador do Amazonas.

Em 2010, Braga elegeu-se senador como apoiador de Dilma Rousseff. Chegou ao Senado como um dos senadores ditos independentes do PMDB. Em março de 2012, foi nomeado por Dilma líder do governo no Senado.


Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo, do portal Folha.com e do UOL. A gravação é sempre realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

E o entrevistado desta edição do “Poder e Política” é o ex-governador do Amazonas, senador pelo PMDB do Amazonas agora, líder do governo no Senado, Eduardo Braga.

Folha/UOL: Senador, muito obrigado por comparecer aqui ao estúdio do Grupo Folha. Eu começo perguntando: acabou a crise política de relacionamento entre o Palácio do Planalto e o Congresso?

Eduardo Braga: Eu creio que essa crise foi muito mais potencializada em situações pontuais. É natural que no Senado tenha tido um represamento de demandas, que acabou redundando em descontentamentos pontuais.

Folha/UOL: Nesta semana em que parece que desanuviou um pouco ali o clima entre o Palácio [do Planalto] e o Congresso também foi uma semana em que o ministro Guido Mantega [da Fazenda] também esteve na Câmara conversando com congressistas e, por parte do governo, a ministra Ideli Salvatti disse, há uma promessa de liberação de emendas dos deputados e dos senadores até a metade do ano. Essa promessa evidentemente lubrificou um pouco as relações e facilitou as coisas?
Eduardo Braga
: Na verdade, com relação ao Senado esse não é o ponto central. Eu tenho dito e repito novamente: eu acho que emendas no Orçamento é uma coisa salutar. Desde que coordenado dentro de programas específicos, projetos específicos e com uma gestão e um controle eficiente na aplicação desses recursos.


Folha/UOL: Mas o problema é que a presidente Dilma Rousseff, até por conta da situação econômica do país, crise externa, tinha segurado muito a liberação dessas emendas. Pode até não ser para a maioria, mas muitos no Senado, a gente ouve nos corredores, reclamam um pouco disso.
Eduardo Braga
: É, mas num outro clima em relação ao que nós vemos na Câmara. E é natural que os senadores também queiram fazer com que suas emendas, que fazem parte de um Orçamento, que supostamente, entre aspas, tem exatamente nessas emendas a sua expressão de participação da população, porque os senadores e deputados são representantes das suas comunidades e dos seus Estados e, portanto, interpretam demandas específicas dessas comunidades e desses Estados nas suas emendas. Portanto eu creio que é natural que essa demanda aconteça. Mas no Senado não é esse o ponto central...


Folha/UOL: Qual é o ponto central do Senado?
Eduardo Braga
: Na minha opinião é a ampliação da interlocução do governo com os senadores. Veja: o senado é composto por ex-governadores, ex-ministros, ex-presidentes da República. Nós costumamos dizer que cada senador é praticamente uma instituição. E que precisa ter um entendimento. Porque gostaria de poder ser ouvido e de poder influenciar na formulação dos programas do governo. Eu acho que esse talvez seja o ponto mais importante desse novo momento que nós estamos vivendo. Ampliação da interlocução do governo com os senadores da República.


Folha/UOL: No caso da Câmara o sr. acha que é diferente? São interesses mais paroquiais, alguns diriam fisiológicos até.
Eduardo Braga
: Não. Eu não diria isso. Eu acho que... Eu já fui deputado federal e, veja, você quando está na Câmara dos Deputados, você está num outro momento da sua vida pública. E a Câmara são mais de 500 representantes ali. E portanto você tem demandas que vão de de A a Z dentro da Câmara dos Deputados.

E a Câmara dos Deputados vive também uma outra circunstância. O PMDB que é um dos grandes partidos dentro da Câmara tem o seu líder já anunciado já como, num possível acordo com o PT, o próximo presidente da Câmara dos Deputados. Isso significa dizer que a cadeira de Liderança do PMDB  na Câmara está neste momento em franca disputa. O que cria um outro clima dentro do PMDB no caso da Câmara. Dentro do PT há também as suas questões internas e as suas divisões internas, dentro do PT. Isso tudo tem que ser administrado num cenário como você acabou de colocar: onde existem demandas dos Estados, demandas pontuais, represamentos dessas demandas e num caldo de cultura que a gente tem que compreender e fazer uma leitura diferente do que acontece no Senado.

Folha/UOL: Nesse caso que o sr. mencionou, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte, é candidato declarado a presidir a Câmara a partir do ano que vem. A antecipação portanto dessa disputa atrapalha um pouco, é isso?
Eduardo Braga
: Eu acredito que sim. Tanto é que no Senado não é nem um pouco recomendável que nós façamos nesse momento a antecipação de qualquer disputa à sucessão do presidente Sarney.


Folha/UOL: Houve uma polêmica quando o sr. assumiu o cargo de líder do governo [no Senado]. O sr. declarou que gostaria de atuar evitando práticas de sempre, ou práticas antigas. Houve várias interpretações sobre essa expressão. O que o sr. quis dizer exatamente?
Eduardo Braga
: Na realidade nós temos que voltar ao contexto de quando eu cheguei à Liderança. Na verdade eu tomei posse como indicado da Presidência [da República] para a Liderança do Governo e que umas horas depois disso o PR anuncia o seu desligamento da base em função de questões de Ministério etc e tal. E o que eu disse àquela altura é que não havia condições do governo, sob imposições, voltar à negociação. E que nós não poderíamos estar realizando velhas práticas políticas. E eu me dirigia exatamente a essa questão de negociar sobre imposições. Mas lamentavelmente é preciso reconhecer que o Brasil precisa avançar. O Brasil é um país que está em transformação econômica, em transformação social, com uma mobilidade social e histórica recorde.


Folha/UOL: Então as velhas práticas, ou práticas antigas, ou práticas de sempre seriam essa forma de atuar de alguns partidos ou políticos de pressionar o governo para ter alguma vantagem e daí votar a favor do governo. É isso?
Eduardo Braga
: É isso que, basicamente, as pessoas identificam. E acham que não é essa a função principal do parlamentar. Durante anos nossa classe política, principalmente o Congresso, veio perdendo credibilidade junto à opinião pública exatamente por uma imagem estereotipada de uma minoria que acaba contaminando a maioria dos parlamentares. Eu acho que nesse momento, é um momento em que nós estamos passando por uma reflexão...


Folha/UOL: Agora, veja só: quando o sr. disse que ia mudar um pouco as práticas, o governo federal vem sendo comandado pelo PT agora há nove anos e três meses, com oito anos de Lula e um ano e três meses de Dilma. Essa prática não serviu até agora?
Eduardo Braga
: Bem, na realidade o Brasil vem mudando. É o que eu disse ainda há pouco. Você tem uma situação em que o país, quando o Lula chegou à Presidência, o Brasil tinha o risco Brasil elevadíssimo, uma taxa cambial pressionando a nossa economia de forma exacerbada, um desequilíbrio na balança comercial. Portanto o Brasil vivia um momento econômico extremamente difícil.

Folha/UOL: E os governantes tinham que fazer mais concessões aos políticos?
Eduardo Braga
: Para poder ter mais condições de governabilidade. Caso contrário não conseguiriam fazer com que algo extremamente importante para o país pudesse passar numa casa que depende de uma relação direta com o eleitor.


Folha/UOL: Ou seja, Lula tinha que ser mais leniente com as práticas antigas de fisiologismo.
Eduardo Braga
: Eu não diria leniente. Eu acho que ele precisava ter a capacidade e a habilidade de poder transitar. Um período em que a economia brasileira, a questão dos déficits e das desigualdades sociais, econômicas e regionais do país eram gritantes. E havia grandes fossos que separavam ou segregavam o Brasil em vários Brasis.


Folha/UOL: Nesse caso então, o ex-presidente Lula e até a presidente Dilma no começo do mandato, tinha que pactuar um pouco mais com essas outras forças no Congresso, mais fisiológicas e agora isso vai mudando, é isso?
Eduardo Braga
: Eu acho que a sociedade vai mudando. E o governo e os seus representantes são um tanto quanto um espelho dessa sociedade. E olhando para o futuro, olhando para 2014, olhando para 2016, 2018, a sociedade brasileira e as demandas do nosso povo mudam. E olha, quem primeiro escreveu e teve coragem de falar sobre isso foi o Fernando Henrique [Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, filiado ao PSDB] que escreveu um artigo sobre a questão da influência e do peso da classe média na política brasileira e o mundo desabou sobre a cabeça do Fernando Henrique. Isso aconteceu há pouco mais de um ano atrás quando o Fernando Henrique se manifestou dizendo que o PSDB precisava entender que tinha perdido a disputa pelas classes D e E por causa das políticas de transferência de renda, de políticas de inclusão social que o PT trouxe para o governo e o governo de coalisão do PT trouxe para os Estados. Eu posso falar inclusive do Estado do Amazonas que implementou não só o Bolsa Família, mas o Bolsa Floresta e outros e que o Fernando Henrique dizia: “É preciso prestar atenção, portanto, num novo movimento, que é social, da classe média brasileira. E o governo tem que entender e a classe política tem que entender que quem está em transformação na realidade é a sociedade”.


Folha/UOL: Mas o PR continua dizendo que se mantém independente ou de oposição, uma posição dessa ordem.
Eduardo Braga
: Mas na realidade se você analisar praticamente não tem sido essa a postura dos votos do PR e não tem sido essa a postura dos deputados do PR.

Folha/UOL: O que o PR quer afinal?
Eduardo Braga
: Eu acho que o PR está vivendo um momento de reengenharia interna dentro do próprio partido. O PR vive um momento de reengenharia. É preciso compreender que o PR trouxe  novos quadros para o cenário nacional. O Blairo Maggi [do PR-MT] era governador, hoje ele é senador da República. O Antonio Russo [do PR-MS] era suplente, hoje ele é senador da República. Só para falar do Senado, certo? E outros quadros também saíram. O Clésio Andrade [do PMDB-MG] saiu do PR e veio para o PMDB. Portanto há uma reengenharia dentro do PR. O que vai fazer com que o PR tenha um novo direcionamento e haja portanto uma decisão que é autônoma, independente do PR e que nós estamos esperando e aguardando que essa seja uma decisão construtiva por parte do PR para que nós possamos voltar a ter um diálogo construtivo com o partido.


Folha/UOL: Agora, explique um pouco, do ponto de vista da engenharia política, o que muda então de prático com a sua chegada à Liderança do Governo no Senado?
Eduardo Braga
: Veja, o líder do governo, na verdade, é um general sem exército. Porque quando você é líder partidário, o seu exército são os membros do seu partido, para que as pessoas possam compreender claramente. Então a nossa estratégia é ampliar a interlocução para que nós possamos ter interlocutores comprometidos com um projeto, se sentindo representados nesse projeto acima das questões partidárias. Ou seja, de forma plural, e sobre as questões partidárias, nós precisamos ter interlocução com várias lideranças que são formuladores dentro do Senado para que nós possamos ter então um, entre aspas, um exército comprometido com o projeto de transformação.


Folha/UOL: Isso não era feito antes?
Eduardo Braga
: Não se percebia isso, pelo menos. Não se percebia. Não havia um exercício de inclusão, de interlocução, com vários agentes que são hoje destaques dentro do Senado.


Folha/UOL: O sr. acha que esses acenas que foram feitos pelo governo de liberação de verbas de emendas não tiveram influência nenhuma nesse caso?
Eduardo Braga
: No caso do Senado não. Nós não tratamos dessa questão com os senadores.

Folha/UOL: O sr. acha que, por ter feito, fazer parte, de um grupo chamado de grupo dos independentes do PMDB, o sr. vai conseguir agregar alguns senadores desse grupo àqueles que votam de maneira mais frequente a favor das posições do Planalto?
Eduardo Braga
: Tudo depende da qualificação da interlocução e da capacidade de convencimento. Vamos citar o caso do senador Jarbas Vasconcelos [do PMDB-PE], por exemplo, que na minha opinião é um excepcional quadro do PMDB, com valores extremamente importantes para o PMDB e para o país e que precisa cada vez mais poder participar de forma direta ou indireta da formulação de algumas das principais matérias no Senado da República. Portanto o que eu quero dizer é exatamente isso. Eu acho que é possível, com interlocução, qualificação dessa interlocução, trazer cada vez mais valores qualificados para ajudar na formulação desses projetos importantes.


Folha/UOL: O senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco, que o sr. cita aqui, ele elogia a sua nomeação para líder do governo no Senado, mas tem sérias críticas à forma como a presidente Dilma se relaciona com os políticos. Faz duras críticas à ela. O sr. acha possível haver uma reconciliação?
Eduardo Braga
: Eu costumo dizer o seguinte: só não muda de opinião quem não tem opinião. Portanto compete a mim, por exemplo, nesse momento, conversar muito com nosso senador Jarbas Vasconcelos e com outros senadores, não é só com Jarbas Vasconcelos, eu posso citar aqui, por exemplo, Cristovam Buarque [do PDT-DF], com essa capacidade de articular, de conversar, de construir, é possível desobstruir o diálogo e avançar sobre questões importantes. Inclusive na relação e na opinião que determinados senadores possam ter em relação à presidenta e à opinião da presidenta em relação a determinados senadores.


Folha/UOL: O sr. enxerga a presidente Dilma Rousseff se interessando em convidar políticos para conversar, como Jarbas Vasconcelos, que são tão críticos a ela?
Eduardo Braga
: Eu não posso enxergar, eu posso dizer do meu desejo. Eu gostaria muito de que nós conseguíssemos ter esse momento de reflexão da presidenta com vários dos nossos companheiros de forma descontraída, informal, para que nós possamos...

Folha/UOL: Já falou isso para ela?
Eduardo Braga
: Já.


Folha/UOL: E ela?
Eduardo Braga
: Ela ouviu. E eu espero que cada vez ouça mais e que a gente possa ter um momento em que nós possamos ter o diálogo desses companheiros com a presidenta.

Folha/UOL: Além de Jarbas Vasconcelos, quem seriam alguns que estão ali distantes hoje que poderiam ser aproximados?
Eduardo Braga
: Ah, tem vários. Eu acho que o Pedro Taques [do PDT-MT] é outro grande companheiro para ser aproximado. Acho que nós podemos trazer a aproximar cada vez mais um valor como Cristovam Buarque. E eu estou, olha, eu estou falando de companheiros que são da base [base governista]. Porque o Pedro Taques é do PDT, o PDT é da base. O Cristovam é do PDT, o PDT é da base. A Ana Amélia, do PP [do Rio Grande do Sul], o PP é da base. Então, veja, dentro dos partidos da base, existem valores que podem efetivamente serem cada vez mais ouvidos e, cada vez mais, se fazer uma interlocução. O senador Moka [do PMDB-MS], por exemplo, do Mato Grosso do Sul, o senador Moka é um quadro experiente, tem uma longa experiência no Parlamento, na Câmara dos Deputados federais, e pode ter cada vez mais uma presença nessa capacidade de interlocução e de articulação. Agora, na própria oposição, não existe democracia, não existe Estado democrático de direito, sem oposição. Só que nós podemos ter um diálogo que seja equilibrado, que seja civilizado, que seja construtivo, que seja portanto um diálogo que faça bem à democracia brasileira. E não um diálogo estressado, desequilibrado, que não traga nada de construtivo para o povo brasileiro.


Folha/UOL: A imagem da presidente Dilma é de alguém que não nutre prazer no contato cotidiano com os políticos. Essa imagem é verdadeira?
Eduardo Braga
: Eu, olha, a minha experiência pessoal com a presidenta Dilma é muito positiva. Eu conheci a presidenta Dilma há muitos anos atrás, ainda na transição do governo Fernando Henrique para o governo Lula. Depois ela foi ministra de Minas e Energia e eu governador do Amazonas. E o Amazonas vivia um colapso na energia. E eu sou engenheiro eletricista. Portanto acabamos aproximando muito um do outro em função das demandas de trabalho, de administração. Isso gerou uma admiração e um respeito mútuo. A minha relação com a presidenta é excepcional do ponto de vista... Eu sinto muito prazer em poder conversar com a presidenta e sinto que ela também se sente muito à vontade conversando. Portanto eu creio que o que há é uma necessidade de se desobstruir esse acesso. Lá na minha terra se diz assim: quebrar a cerca de jurubeba que existe em torno de certas autoridades.

Folha/UOL: O que é cerca de jurubeba?
Eduardo Braga
: Cerca de jurubeba são pessoas às vezes que estão em torno de quem está no poder e que impedem o acesso das pessoas, dificultando o diálogo. E muitas vezes sendo mais realistas do que o rei. Às vezes impossibilitando que as pessoas possam ter contato por excesso de zelo.


Folha/UOL: O sr. tem contato frequente, diário, com a presidente Dilma?
Eduardo Braga
: Não diário porque é impossível uma presidenta ter contato diariamente com o seu líder ou com qualquer parlamentar. Mas posso dizer que tenho contato frequente com a presidenta.
Folha/UOL: Como que é o acesso, o modus operandi da presidente? O sr. liga, ela devolve a ligação para o sr.? Como é que funciona?
Eduardo Braga
: Basicamente sim. Porque a presidenta tem audiências, tem compromissos etc e não é toda hora, todo momento que ela está disponível para atender a um telefonema. Mas ela com certeza retorna, sempre que possível, conversa, marca, vamos a audiências, conversamos francamente sobre os problemas...


Folha/UOL: Há vários indícios de envolvimento impróprio do senador Demóstenes Torres, do Democratas de Goiás, com Carlinhos Cachoeira. Há um pedido já no Conselho de Ética [do Senado] para investigar se houve quebra de decoro. O sr. acha que já há indícios suficientes para abrir esse processo?
Eduardo Braga
: Eu não sei. Não posso avaliar. Primeiro porque eu não conheço as informações que estão nos processos. Agora é que finalmente o Ministério Público vai...


Folha/UOL: Já foram publicadas várias informações.
Eduardo Braga
: Várias informações foram publicadas, mas nós não temos acesso ainda ao que efetivamente está dentro do processo. Tem duas coisas que é preciso ser dito. Primeiro que a questão criminal, no caso do senador, é o Supremo [Supremo Tribunal Federal] o órgão competente para analisar. No caso do decoro, aí sim é responsabilidade do Senado. É preciso que nós tenhamos todas as questões e as informações para que a gente possa fazer esse julgamento de forma isenta e correta. É muito triste a gente olhar para trás e ver, por exemplo, fatos como o que aconteceu com o aquele nosso presidente da Câmara, lá do Rio Grande do Sul, que foi julgado, condenado. E depois de anos se descobriu que ele não era culpado. Não estou aqui defendendo ou dizendo que o Demóstenes é culpado ou inocente. Eu só quero dizer que, no Estado democrático de direito, é preciso assegurar a todos o amplo direito de defesa. Eu não quero aqui julgar, prematuramente, o nosso senador Demóstenes Torres. Até porque eu não sou membro do Conselho de Ética, está certo? E vou me manifestar, se for o caso, apenas no plenário.

Folha/UOL: A quebra de decoro é um pouco mais simples de ser avaliada. Porque é um comportamento. Aí há alguns fatos já notórios que são admitidos pelo próprio senador, como receber presentes de uma pessoa que agora está presa, acusada de comandar um esquema ilegal de jogos, pedir dinheiro para essa pessoa, receber um telefone para falar de maneira criptografada com essa pessoa que é, enfim, um contraventor. Isso não é, enfim, quebra de decoro?
Eduardo Braga
: Se comprovado e configurado como posto por você, claro que isso indica uma quebra de decoro. Agora, é preciso ter acesso aos autos...


Folha/UOL: Mas o próprio senador [Demóstenes] já disse que é verdade.
Eduardo Braga
: Com relação à questão do presente etc., veja, às vezes você tem uma situação em que você pode receber algo sem que haja dolo. Sem que haja má fé. Agora, é muito difícil você poder explicar uma situação dessa quando você tem comprovação de 200 telefones etc, porque aí você cria efetivamente o cenário de envolvimento e de quebra de decoro.


Folha/UOL: Senador, mas vamos observar só o aspecto dos presentes: um fogão e uma geladeira, dois itens importados que não são baratos para a maioria da população brasileira, vindos de uma pessoa que notoriamente tem problemas com a Justiça. É correto um senador da República aceitar esse tipo de presente?
Eduardo Braga
: A meu juízo não. A meu juízo não. Eu por exemplo não tenho relações...


Folha/UOL: O que o sr. faria? Devolveria?
Eduardo Braga
: Primeiro, eu não receberia.

Folha/UOL: Digamos que a pessoa se dê ao...
Eduardo Braga
: Eu devolveria. Eu devolveria. Veja, eu fui governador do Estado [do Amazonas]. Eu não tenho, nem tive relações nem formais nem informais com nenhum tipo de contraventor no meu Estado.

Folha/UOL: O sr. acha então que o senador Demóstenes poderia muito bem ter devolvido. Recebido e “olha, obrigado, não posso aceitar” e devolvido.
Eduardo Braga
: Acho que era um bom procedimento.


Folha/UOL: E o fato de ele ter aceito, isso não é um indício da quebra do decoro?
Eduardo Braga
: Aí é que nós precisamos poder aprofundar. Mas como eu não sou membro do Conselho de Ética e vou ter que me manifestar caso isso chegue no plenário, eu quero ter conhecimento efetivamente das provas para poder... Eu não gosto de fulanizar as questões e não gosto de ser aquele que, por oportunismo, ou por facilidade talvez dos holofotes etc ficar apontando o dedo e acusando as pessoas sem conhecer com profundidade. Eu vi muita... Olha, eu tenho 30 anos de vida pública. Todos os que eu vi ao longo desses 30 anos de vida pública adotar essa postura, foram penalizados pelo povo. Portanto é preciso ver o que é certo e o que é errado. E é simples na minha avaliação: o que é certo é certo, o que é errado é errado. E nós teremos no Senado o momento oportuno para poder dizer: isso aqui está errado, e está errado desta forma. E se for, lamentavelmente o senador Demóstenes terá que pagar pelos erros que cometeu.

Folha/UOL: Com a perda do mandato.
Eduardo Braga
: Com a perda do mandato, no caso do Senado. Agora, do ponto de vista criminal, ele pode responder isso inclusive com a perda da própria liberdade.


Folha/UOL: Antes de ser nomeado líder do governo no Senado, o sr. era apontado entre outros do PMDB como potencial candidato a presidente da Casa no ano que vem, a partir de fevereiro quando termina o mandato do atual presidente, José Sarney [do PMDB-AP]. Mas ao nomeá-lo, daí a presidente Dilma, isso segundo o que se soube, parece que teria mencionado que  quem é líder do governo não pode pleitear ser candidato a presidente do Senado. Isso existiu mesmo?
Eduardo Braga
: Não. Na realidade nós não conversamos sobre Presidência do Senado com a presidenta Dilma quando ela fez, primeiro, a sondagem. Porque na realidade foram dois momentos. Ela primeiro teve uma ampla conversa comigo. Nós tivemos duas horas de conversa absolutamente informal sobre o cenário geral do país, seja econômico, seja social, das políticas públicas. E depois conversamos especificamente sobre o Senado. E ela não formulou nenhum convite nesse dia. Isso aconteceu na sexta-feira. Na realidade eu fui convidado na segunda-feira para o cargo de líder do governo. E quando ela me convidou, nós tivemos conversas de como seria essa interlocução e de como seria a estratégia para que nós pudéssemos criar um novo clima dentro do Senado.


Folha/UOL: O sr. gostaria de, no futuro, presidir o Senado?
Eduardo Braga
: Deixe-me dizer uma coisa para você. Eu fui vereador, deputado estadual. Àquela altura eu fui líder de governo, líder de partido etc. Também fui líder de oposição. E tive várias vezes a oportunidade de presidir essas Casas. É sempre muito difícil presidir Casa em que você está presidindo pares, iguais a você. E é muito complicado você fazer uma gestão eficiente, negociando permanentemente com pares. Isso nunca me entusiasmou muito. Portanto eu quero lhe dizer que esse é um desafio que eu nunca enfrentei ao longo desses 30 anos de vida pública. O Senado da República é portanto uma Casa de uma importância fenomenal no sistema democrático brasileiro, no regime democrático brasileiro. Esse sistema bicameral brasileiro tem as suas nuances que precisam ser cada vez mais fortalecidas e cada vez mais melhoradas. Veja o rito das MPs [Medidas Provisórias] por exemplo é um caso típico desse sistema bicameral que precisa efetivamente ser melhorado. Portanto não é uma coisa que está no meu radar e não é uma prioridade na minha cabeça. Eu sempre fui muito mais afeito a esses desafios políticos que nós estamos enfrentando e a uma gestão no Executivo do que propriamente uma gestão executiva dentro do parlamento, o que é uma coisa muito, mas muito desafiadora.


Folha/UOL: Sua resposta foi muito longa, hein?
Eduardo Braga
: Foi, foi longa. Para tentar dizer o quanto é difícil tentar presidir uma Casa como o Senado. Não é fácil. Não é uma tarefa simples você dar respostas à sociedade brasileira, que demanda do Senado decisões eficientes e decisões que cortem na própria carne. Agora mesmo votamos a extinção do 14º e do 15º salário dos senadores, uma decisão que já deveria ter sido feita há muito tempo no Senado.

Folha/UOL: O fato de o sr. ser líder do governo no Senado o retira dessa disputa que vai se dar até fevereiro do ano que vem para presidir a Casa?
Eduardo Braga
: Não necessariamente. Não há impedimento. Agora, eu não estou candidato, não sou candidato, está certo? E quero construir uma sucessão ao presidente Sarney que possa garantir a estabilidade democrática do país, possa garantir a governabilidade e ao mesmo tempo possa garantir a transparência e a eficiência na gestão pública.


Folha/UOL: Quem são bons nomes do PMDB para suceder José Sarney?
Eduardo Braga
: Hoje existem pelo menos cinco nomes.


Folha/UOL: Quais são eles?
Eduardo Braga
: O nosso senador Lobão [do PMDB-MA], que é o ministro de Minas e Energia, o Garibaldi [Garibaldi Alves Filho, do PMDB-RN], ambos já presidiram o Senado. Você tem o Renan [Calheiros, do PMDB-AL], que já presidiu o Senado, você tem o Eunício Oliveira [do PMDB-CE], que é hoje presidente da CCJ e que tem aspirações políticas cada vez maiores dentro do Senado. E tem um senador que vem crescendo dentro da bancada, e vem crescendo no Senado, que é o senador Vital do Rêgo [do PMDB-PB], que também se coloca como um dos possíveis candidatos à Presidência [do Senado].


Folha/UOL: Qual é o seu predileto?
Eduardo Braga
: Eu? Eu não tenho predileto. Eu tenho a vontade de, ao lado do presidente Sarney, e ao lado do líder [da bancada do PMDB no Senado] Renan, construir a unidade do PMDB. Eu acho que isso é fundamental. Ah, eu esqueci um sexto que também, de repente agora, como não é mais líder do governo, pode se candidatar, que é o Romero Jucá [do PMDB-RR]. Então você vê que tem aí pelo menos seis candidatos, ou pré-candidatos, ou possíveis candidatos, ou potenciais candidatos dentro do PMDB.

Folha/UOL: O senador Edison Lobão, que no momento é ministro de Minas e Energia, poderia voltar também ao Senado e eventualmente se candidatar como o sr. disse?
Eduardo Braga
: Claro. Eu acho que ele é senador da República, sem nenhum empecilho para...


Folha/UOL: De todos esses que  sr. mencionou, os seis, ele é o que tem um relacionamento mais próximo com a presidente da República. Ou não?
Eduardo Braga
: Sim. Acho que sim. Mas eu poderia dizer também a você que não é apenas o relacionamento com a presidenta que vai estabelecer o resultado dessa eleição. Até porque o Senado é uma Casa e um Poder independente, onde, como eu te disse no início dessa entrevista, cada senador é praticamente uma instituição. Portanto conquistar o voto de uma instituição não é tarefa muito fácil.


Folha/UOL: É verdade que a presidente Dilma desejaria o senador Renan Calheiros [do PMDB-AL] se candidatando ao governo de Alagoas para ter alguém ligado a esse campo hoje governista naquele Estado?
Eduardo Braga
: Eu não saberia te dizer. Acho que Alagoas tem sido um dos Estados que é desafiador, não é? Acho que o governo brasileiro e também os políticos de Alagoas buscam nesse momento algumas soluções importantes para aquele povo. Veja, Alagoas tem os pires índices de segurança pública no país. Nós temos grandes dificuldades de políticas públicas porque há um endividamento muito grande do Estado de Alagoas e uma capacidade de investimento com recursos próprios muito baixa. É preciso fazer uma reengenharia no Estado de Alagoas. Não sei se é esse o desejo do nosso líder Renan, mas o Renan é um político experiente que conhece muito bem os caminhos aqui em Brasília e sempre muito bem sucedido naquilo que enfrentou e desafiou para si mesmo. Agora, é uma decisão muito pessoal do líder Renan.


Folha/UOL: A presidente nunca mencionou esse assunto com o sr.?
Eduardo Braga
: Você sabe que tem certas conversas com a presidente que a gente não revela, né? Mas eu posso dizer a você que não é esse o ponto central das nossas conversas com a presidente.

Folha/UOL: Diminuição do quadro de funcionários: o Senado tem muitos funcionários hoje, o número ideal ou não?
Eduardo Braga
: Na minha opinião tem muitos.


Folha/UOL: Teria que diminuir?
Eduardo Braga
: Ou diminuir ou fazer o reaproveitamento dos funcionários em novas funções. Não dá para ficar contratando mais funcionários com o número de funcionários que nós temos.


Folha/UOL: Eleições 2012: o sr. era até um tempo atrás [risos] citado como candidato a prefeito de Manaus. Como está a situação da sucessão em Manaus, para prefeito, hoje?
Eduardo Braga
: [risos] Bem, ainda bem que você perguntou e meio que riu sobre esse negócio. Quer dizer, o povo da minha cidade e eu sou muito grato a isso, tem um carinho muito grande pela gente. Acho que é fruto do trabalho que nós realizamos. E eu tenho consciência de que isso impõe a cada um de nós uma responsabilidade muito grande. Manaus vive hoje um momento muito especial. Porque tem um prefeito que representa uma geração política que está próxima de encerrar o seu ciclo e haverá portanto uma grande oportunidade de renovação política.


Folha/UOL: Quem é seu candidato a prefeito de Manaus?
Eduardo Braga
: Estamos construindo dentro da nossa aliança. Eu espero sinceramente que o PMDB possa ter candidato próprio.

Folha/UOL: Quem seria ele?
Eduardo Braga
: Tem vários nomes. Um deles é o nosso atual vice-governador, José Melo. E o outro é um deputado estadual, já está no quarto mandato, por três vezes foi o mais votado na capital, chamado Marcos Rotta.


Folha/UOL: 2014: o PT e o PMDB devem repetir a aliança no campo nacional?
Eduardo Braga
: Eu acho que é uma grande possibilidade. Esse projeto vem se mostrando um projeto vitorioso. Vem se mostrando um projeto que vem dando ao Brasil as condições necessárias para que o Brasil se transforme para melhor, em vários aspectos. No aspecto econômico, no aspecto social, na mobilidade social, nas políticas públicas. Nós precisamos avançar. Eu acho que a decisão do Funpresp [fundo de previdência complementar para servidores civis da união, aprovado pelo Senado em 28.mar.2012, um dia antes desta entrevista] dá mais um fôlego nessa posição de transformação e, portanto, eu acho que essa aliança deve continuar.


Folha/UOL: Senador Eduardo Braga, líder do governo no Senado, muito obrigado por sua entrevista à Folha e ao UOL.
Eduardo Braga
: Eu é que agradeço. Eu espero poder ter esclarecido as dúvidas. E quero dizer que você me apertou muitas vezes aqui sem me abraçar.