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Haddad elege combate à miséria e renegociação da dívida com a União como prioridades

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

01/01/2013 17h28Atualizada em 01/01/2013 22h50

O novo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), elegeu como prioridades de seu governo o combate à miséria e a renegociação da dívida pública do município com a União, no pronunciamento de posse após receber o cargo de Gilberto Kassab (PSD), na tarde desta terça-feira (1º), na sede da Prefeitura no centro da capital.

Ao lado de Kassab e Haddad, estavam o governador Geraldo Alckmin, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo --representando o governo federal-- o deputado estadual Jooji Hato --representando o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz, que não compareceu, além do arcebispo de São Paulo, dom Odílio Scherer.

Outras centenas de convidados acompanharam a cerimônia, entre eles o senador Eduardo Suplicy (PT), os deputados federais Paulo Teixeira (PT-SP), Jilmar Tatto (PT-SP) e Gabriel Chalita (PMDB-SP), além de representantes do judiciário. O ex-presidente e padrinho político de Haddad Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu à cerimônia, apesar de ter sido convidado.

Em um discurso diplomático que durou mais de 20 minutos, o mandatário citou quatro problemas que serão prioridades da sua gestão. Além do combate à miséria e da renegociação da dívida, o petista citou a melhoria dos serviços públicos, em especial nas áreas de saúde e educação, e o déficit habitacional. 

“O primeiro deles, sem sombra de dúvidas, é o enfrentamento da miséria extrema que ainda existe na nossa cidade. Não é possível conviver mais tempo com tanta desigualdade, tanto descaso, tantas mazelas. Crianças brincando em esgoto a céu aberto, crianças sem vagas nas escolas, crianças com dificuldades de exercer plenamente sua cidadania, trabalhadores desemparados, cidadãos desamparados com relação aos seus direitos fundamentais”, disse.

Haddad citou a necessidade de estabelecer parcerias com os governos estadual e federal para erradicar a miséria na capital. “Existe ainda muita miséria na cidade de São Paulo e temos que lutar todos os dias desse mandato contra a miséria da cidade. Vamos identificar as pessoas, fazer uma busca ativa, vamos interagir com o governo do Estado, governo federal, vamos equacionar esse problema e dar um exemplo de como o programa de erradicação da miséria pode ter seu primeiro resultado pleno em São Paulo.”

Em 1º discurso, Haddad pede apoio a vereadores

Dívida com a União

Em seguida, o novo prefeito tratou da dívida da capital paulista com a União --atualmente, superior a R$ 52 bilhões. Para Haddad, renegociar a dívida tem uma dimensão "tão importante" quanto erradicar a miséria e permitirá a retomada de investimentos na cidade. 

“São Paulo, apesar do orçamento bilionário, o terceiro maior do país, hoje perdeu a sua capacidade de investimento em função de um acordo de dívida insustentável. Não há a menor condição de levar a frente esse grande empreendimento que é a nossa cidade sem repactuamos o contrato da divida com o governo federal”, afirmou.

O mandatário disse que irá procurar o governo federal e o Congresso Nacional para renegociar a dívida. "“Temos que levar ao Congresso Nacional, com todas as tratativas com o governo federal e o ministro Guido Mantega, uma proposta de repactuação da dívida federativa. Não podemos conviver com um divida que é 200% da nossa arrecadação e que compromete toda a nossa capacidade de investimento.”

O prefeito afirmou ainda que não bastará trocar o índice inflacionário que calcula os juros da dívida, mas será preciso “buscar parcerias necessárias, tanto com o governo do Estado, como o governo federal, assim como as parcerias público-privadas como a iniciativa privada para recuperar os investimentos.”

As declarações de Haddad se alinham às de Kassab, que em seu discurso reconheceu que as finanças da prefeitura estão em situação difícil. “Faço um alerta ao prefeito Fernando Haddad: deixamos R$ 6 bilhões no caixa da prefeitura. A situação financeira da prefeitura é difícil, muito difícil, a divida com a união é impagável, os juros passam de R$ 4 bilhões anuais.”

Serviços públicos e moradia

Haddad elencou como sua terceira prioridade elevar a qualidade dos serviços públicos, em especial nas áreas de saúde e educação. “Temos que dar exemplo de que é possível o Estado oferecer bons serviços”, disse. “Somos a cidade mais rica do Brasil. Temos que ter compromisso de colocar são Paulo na vanguarda dos serviços públicos de qualidade”, acrescentou.

Por fim, como quarta prioridade, Haddad citou a questão da moradia, que para ele não é apenas social, mas também ambiental. O“Também nesse caso as parcerias com o governo do Estado e o governo federal vão se impor.”

Diplomático

Ao contrário do que fez ao longo de toda a disputa eleitoral, o novo prefeito não fez críticas a Kassab, fundador e líder do PSD, sigla que já é aliada do governo federal no plano nacional e deve compor a base de sustentação de Haddad na capital.

Nas vezes em que se dirigiu a Alckmin, Haddad deixou de lado as divergências entre PT e PSDB, dizendo, insistentemente, que pretende firmar parcerias com o governo do Estado. 

“Governador, quero deixar claro: eu não posso, não farei, não recusarei um único centavo do governo do Estado e do governo federal, que é de direito do povo paulistano. Independente de questões partidárias e bandeiras religiosas.”

Alckmin, que discursou antes de Haddad na cerimônia, disse que novo prefeito "poderá contar com o apoio do governo do Estado. "Os interesses de São Paulo não correspondem aos interesses de partidos."

"Existe amor em São Paulo"

Haddad iniciou seu discurso citando a manifestação “Existe Amor em São Paulo”, realizada na praça Roosevelt, no centro da capital, na véspera do segundo turno.

“Nas vésperas do segundo turno, houve uma manifestação espontânea nas imediações da praça Roosevelt, que contou com a moderna tecnologia da informação. As redes sociais convocaram a cidadania paulistana, com um lema, que me tocou muito profundamente (...) ‘Existe amor em São Paulo’. Esse era o lema da convocação.”

O novo mandatário disse que a manifestação foi apartidária e representava um sentimento geral da cidade. “Eu entendo que talvez durante toda essa campanha, essa manifestação não partidária, que não procurava angariar votos pra um o outro candidato que disputava no segundo turno, diz muito o que a cidade de São Paulo espera de nós.”