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Sem apoio do PMDB, Rose de Freitas tenta presidência da Câmara e diz já ter sofrido preconceito por ser mulher

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

21/01/2013 06h00

A candidatura independente da deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), atual vice-presidente da Câmara, à presidência da Casa evidencia as resistências dentro do próprio partido ao nome do líder da legenda, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), favorito na disputa.

Rose ressalta que apoiou a candidatura de Alves à liderança do PMDB na Câmara, mas se queixa que o pedido para que ele defendesse a votação das reformas política e tributária, além de mudanças internas na Câmara, não foi cumprido. 
 
Aos 63 anos, a deputada, que é natural da cidade mineira de Caratinga, mas foi eleita pelo Espírito Santo, está no seu sexto mandato no Parlamento. Antes, foi também deputada estadual. Na sua biografia no site da Câmara, consta ainda que ela é jornalista, radialista, professora, produtora rural, desenhista-projetista e agrimensora.

Rose de Freitas

Data de nascimento23 de janeiro de 1949
NaturalidadeCaratinga (MG)
Eleita por qual EstadoEspírito Santo
Histórico profissionalJornalista, radialista, professora, produtora rural, desenhista-projetista e agrimensora
FiliaçãoFiliada ao PMDB desde 2003, com passagens pelo MDB (1976-1979), PMDB (1980-1988) e PSDB (1988-2003)
 
Ela conta que já foi alvo de preconceito por ser mulher uma vez quando presidiu a Casa como substituta, mas que isso não a inibe de querer enfrentar desafios. “Não tenho medo [de enfrentar preconceito]. O medo é um fator de inibição. O medo não é um fator de ousadia, uma mola propulsora. O medo faz você apenas recuar. Você deve ter respeito pelos seus limites, mas medo de avançar, de ousar, de jeito nenhum”, afirma.
 
Se eleita presidente da Câmara, promete dar mais voz aos políticos com menor expressão dentro da Casa. “É preciso democratizar a Casa, porque a maioria dos deputados não têm acesso a uma relatoria pertinente à sua luta política ou ao seu conhecimento profissional. Eles ficam excluídos do processo porque a Casa foi feita para ser administrada por uma minoria, restrita à Mesa Diretora, aos maiores partidos.”
 
Rose diz ter perdido as contas do número de deputados com quem se reuniu. Da sua casa em Brasília, que funciona como um quartel-general da sua campanha, ela tem articulado apoio em torno do seu nome. Revela que o ritmo de campanha tem sido intenso, com poucas horas de sono, mas ressalta que está acostumada com a rotina puxada. “Estou em Brasília porque, mesmo durante o recesso, tenho ido ao Congresso.”
 
UOL – Quais são os principais desafios que enxerga pela frente?
 
Rose de Freitas  A transformação dos métodos da Casa, que precisa ser enxergada como um Poder que tem que ser estruturado para servir à população. É preciso haver um programa em que o povo se sinta prestigiado, que contemple projetos de lei que visem os benefícios que a sociedade precisa.
 
Não temos nenhuma resposta em que se possa dizer: ‘Olha, efetivamente o Legislativo aprovou essas leis e o povo se sente gratificado com elas. Estamos há 20 anos falando de reforma política, que não aconteceu. Estamos falando em organizar melhor a questão dos recursos com campanha eleitoral e não aconteceu. Sabemos que estamos frequentando o último índice de avaliação pela opinião pública em comparação aos outros Poderes.
 
Como mudar isso na prática?
 
Votando as leis que são de interesse imediato da população. De cara, começaria pela reforma política, que deixa a população tão desprovida de ter uma política mais representativa. Outra questão é a reforma tributária, que privilegia uns segmentos da sociedade. Essas coisas não foram para frente por uma falta de vontade política.
 
Por que projetos importantes ficam de fora da pauta?
 
Só estamos votando projetos sobre os quais há consenso entre os parlamentares, mas isso é um absurdo. Por que tem haver consenso? A democracia é isso. É a convivência dos contraditórios. Por isso que essa casa não anda, não tem produção. O crime comum da cibernética tinha que ter sido votado, esperou a [atriz] Carolina Dieckmann ter problema com o vazamento das fotos dela para o Congresso querer mostrar para a opinião publica que é atualizado, moderno e votar. Mas quantas denúncias já não existiam no Brasil?
 
Acredita que haja uma interferência do Judiciário?
 
Não, ele só age quando é provocado e é justamente provocado justamente no vazio das nossas decisões. Por que temos 3.000 vetos parados? Pela lei, logo após entrar na Casa, deveria ser formada uma comissão para ser votado, mas isso não acontece; tem veto com mais de 12 anos. Nós que somos os guardiões da Constituição não a obedecemos.
 
O que representaria ter uma mulher na presidência da Câmara?
 
A sociedade passa a reconhecer a competência da mulher, mas ainda falta igualdade de oportunidades. Quebramos o tabu de ter uma mulher na Mesa Diretora da Câmara depois de 180 anos e tínhamos que quebrar outro tabu em ter uma mulher na presidência da Câmara.
 
Como foi o episódio em que sofreu preconceito na Câmara?
 
Foi quando eu estava presidindo [como substituta] e o parlamentar pediu para eu tomar uma decisão e eu pedi um tempo para pensar e ele começou a gritar. Ele gritava: ‘Chame o presidente, chame o presidente’, como se eu fosse um zero ali, figurativa apenas. Houve uma reação imediata do plenário e da opinião pública contra isso. E aí ele sentiu talvez uma coisa que talvez nunca tenha sentido, que as pessoas estão atentas a qualquer tipo de discriminação e preconceito. Acho que a presença da mulher no Parlamento, no mercado de trabalho, é uma prova incontestável de que somos capazes.
 
Qual a sua posição sobre o 14º e o 15º salários a que os deputados têm direito?
 
Temos que acabar com isso, ficamos sem moral diante da opinião pública. Já levei a proposta à Mesa algumas vezes, mas ela não foi votada.
 
Que apoio a senhora tem para ser eleita?
 
É difícil mensurar. Alguns líderes apontam numa direção, mas o corpo do partido vai para outra. O ideal é fazer uma avaliação mais para o fim da campanha.