Marinheiro pode ser expulso pelo 8/1: quando militar pode perder o cargo?

A iminente expulsão do marinheiro Marco Antonio Braga Caldas, condenado por participar dos atos de 8 de janeiro, traz o foco sobre o que pode fazer um militar perder o posto e como a lei trata os benefícios de seus dependentes.

O que aconteceu

O suboficial Marco Antonio Braga Caldas, condenado a 14 anos de prisão por participar da invasão aos prédios dos Três Poderes em Brasília, pode ser o primeiro militar expulso das Forças Armadas em decorrência dos atos de 8 de janeiro. Sua expulsão está prevista no Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/1980), que determina a perda do posto e patente de oficiais condenados a penas superiores a dois anos.

A expulsão de militares ocorre, principalmente, em dois casos:

  • Condenação criminal: o Artigo 117 do Estatuto dos Militares estabelece que oficiais condenados a mais de dois anos de prisão devem ser submetidos a julgamento para a perda do posto e patente. Crimes como homicídio, tráfico de drogas e estupro de vulnerável são alguns dos motivos que já levaram à expulsão de militares.
  • Conduta incompatível: o Artigo 142 prevê a exclusão a bem da disciplina, aplicada a militares cuja conduta é considerada incompatível com o serviço militar ou com o decoro da classe. A participação em atos golpistas, como os de janeiro de 2023, se enquadra nessa situação.

Mesmo após a expulsão, os dependentes de militares não ficam desamparados. A Lei nº 3.765/1960 equipara o militar expulso ao falecido, garantindo pensão vitalícia à família. Essa situação é chamada de "morte ficta" e, na prática, permite que familiares continuem recebendo o benefício, independentemente do crime cometido.

A pensão é paga proporcionalmente ao tempo de serviço, conforme alteração feita na reforma da Previdência Militar de 2019. As pensões variam entre R$ 1.500 e R$ 33 mil, dependendo do posto ocupado e do tempo de serviço do militar.

Críticas e propostas de mudança

Especialistas criticam a continuidade do pagamento das pensões, argumentando que a medida "premia o crime" e cria uma disparidade em relação ao sistema civil. Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, observa que o modelo desresponsabiliza militares expulsos, garantindo uma pensão vitalícia para suas famílias.

Recentemente, o Ministério da Fazenda propôs a extinção da 'morte ficta', substituindo-a por auxílio-reclusão, modelo aplicado à população em geral. A medida, que ainda depende da aprovação do Congresso, visa economizar R$ 1 bilhão ao ano e alinhar as regras previdenciárias dos militares às demais categorias.

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Se aprovada, a proposta do Ministério da Fazenda pode mudar significativamente as regras para os militares expulsos, eliminando a pensão vitalícia e instituindo o auxílio-reclusão, limitado ao tempo da pena. A medida, no entanto, enfrenta resistência no Congresso e entre representantes das Forças Armadas, que alegam que a pensão é sustentada por contribuições compulsórias dos próprios militares.

Além do caso de Marco Antonio Braga Caldas, outros militares expulsos ilustram como a legislação funciona na prática:

*Com informações de matérias publicadas em 17/07/2023 e 29/11/2024.

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