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Morte de JK foi acidental, conclui Comissão Nacional da Verdade

O ex-presidente Juscelino Kubitschek, morto em 1976 - Reprodução/ Wiki Commons
O ex-presidente Juscelino Kubitschek, morto em 1976 Imagem: Reprodução/ Wiki Commons

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

22/04/2014 15h06Atualizada em 22/04/2014 21h48

A CNV (Comissão Nacional da Verdade) concluiu que o ex-presidente Juscelino Kubistchek não foi assassinado pela ditadura militar e que sua morte foi acidental. Relatório parcial sobre a apuração da morte de JK foi apresentado pela comissão nesta terça-feira (22) em Brasília. 

O ex-presidente morreu no dia 22 de agosto de 1976, quando viajava pela rodovia Presidente Dutra, perto do município de Resende, no sul do Estado do Rio de Janeiro. JK estava em um carro modelo Opala, dirigido pelo seu motorista Geraldo Ribeiro. O automóvel foi atingido por um ônibus da viação Cometa e bateu de frente com um caminhão que vinha no sentido oposto.

Um grupo de peritos analisou os laudos feitos na época da morte do ex-presidente e outros documentos que estavam em posse da Justiça. “Estamos absolutamente satisfeitos com o resultado da perícia”, afirmou o jurista José Paulo Cavalcanti Filho, integrante da CNV, que afirmou ser afilhado de JK. “O mais importante é o compromisso com a verdade”, declarou.

A CNV investiga a morte do ex-presidente há dois anos, após pedido da seção mineira da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). No relatório, a comissão sustenta não haver qualquer indício de que JK tenha sido vítima de homicídio.

JK foi morto, dizem testemunhas

A principal dúvida sobre as circunstâncias da morte de JK tem origem em uma perfuração no crânio do motorista do ex-presidente. Além disso, já na década de 80, vestígios de metal foram encontrados no crânio do motorista, o que poderia indicar que ele foi atingido por um projétil.

Na apuração, os peritos concluíram que o buraco foi provocado pelo impacto do acidente, e não por um tiro, e que o movimento do Opala afasta a hipótese de que o motorista tenha sido alvejado.

Sobre os vestígios de metal, o relatório concluiu tratar-se de fragmentos de um cravo utilizado para fixar o revestimento dos caixões.

A conclusão da CNV confirma a versão da época dos fatos e contradiz o relatório final da Comissão da Verdade da cidade de São Paulo, que funciona na Câmara Municipal da capital paulista e é presidida pelo vereador Gilberto Natalini (PV), sobre a morte do ex-presidente.

Controvérsia

Em dezembro passado, a Comissão da Verdade paulistana apresentou relatório responsabilizando o governo militar pela morte de JK. De acordo com Natalini, o documento contém mais de 90 provas e indícios de que o acidente que matou o ex-presidente foi planejado pela ditadura. "Não temos dúvida de que Juscelino Kubitschek foi vítima de conspiração, complô e atentado político", disse o vereador na época.

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Jogue

O documento baseou-se nos depoimentos de ao menos quatro testemunhas à Comissão da Verdade da cidade de São Paulo, entre elas Josias Nunes de Oliveira, motorista do ônibus que bateu contra o Opala.

Em maio deste ano, a comissão de São Paulo enviou ofícios à presidente Dilma Rousseff, ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao Congresso e à CNV para que os órgãos reconhecessem que JK foi assassinado.

Nas declarações contidas no relatório da comissão paulistana, o perito criminal Alberto Carlos de Minas afirmou ter visto um buraco no crânio do motorista do Opala com características que indicavam que poderia ter sido provocado por um projétil de arma de fogo.

"O orifício do crânio do motorista de Juscelino é algo que vimos. O fragmento de metal achado dentro do crânio do cadáver na exumação foi explicado como um prego do caixão. Como um prego do caixão vai entrar dentro do crânio de um cadáver?", questionou Natalini em referência ao argumento oficial empregado pelo regime ditatorial. "Isso é um conto, não sei como o país pode ter acreditado nisso", declarou o vereador em maio deste ano.

JK e ditadura

Quando os militares deram o golpe, o PSD, partido de Juscelino, apoiou a derrubada do ex-presidente João Goulart. Em meados da década de 70, quando a ditadura já definhara, JK se opunha ao regime, assim como outros políticos, como Carlos Lacerda, da UDN. 

Juscelino era tido pelos militares como adversário do regime, já que cogitava-se a possibilidade de JK querer voltar à Presidência.