"Essencialmente paulistano", jornal da TV Cultura deixa de ser exibido em MG

O "Jornal da Cultura", da TV Cultura (Fundação Anchieta), de São Paulo, que era retransmitido desde fevereiro do ano passado pela Rede Minas, deixou de ser exibido para municípios mineiros desde a última quinta-feira (9).

No horário do "Jornal da Cultura" (de segunda-feira a sábado, às 21 horas,), a Rede Minas começou a exibir o telejornal Repórter Brasil, gerado pela estatal EBC (Empresa Brasil de Comunicação), controlada pelo governo federal.

O sinal da Rede Minas é captado em 90% dos municípios mineiros (765 de 853). A estatal ainda possui 98 TVs afiliadas no Estado.

A decisão recebeu críticas de pessoas que participam da bancado do telejornal, que apontaram a disputa PT-PSDB como motivo para o corte do sinal. Após 12 anos governado pelo PSDB, o petista Fernando Pimentel assumiu o governo de Minas Gerais no início deste ano. São Paulo, por sua vez, é governado pelo tucano Geraldo Alckmin, responsável pela Fundação Anchieta, mantenedora da TV Cultura.

"Essencialmente paulistano"

Nesta terça-feira (14), o presidente da Rede Minas, Israel do Vale, que assumiu o cargo há 50 dias, comentou o caso.

“Recebemos com estranhamento os contornos de factóide com que uma decisão de gestão foi pintada. Há um princípio do "jornalismo basic one" que é apurar as informações e tratar de fatos, em lugar de induzir leituras equivocadas. E quando a informação mais qualificada pode ser extraída de dentro de casa, onde tudo foi conduzido, não deveria haver margem para especulações”, afirmou Do Vale.

“Em respeito ao histórico do nosso relacionamento com a TV Cultura e ao fato de que temos interesse em manter outros conteúdos produzidos por ela em Minas Gerais, tive a delicadeza de me deslocar a São Paulo para tratar pessoalmente desse tema”, disse o presidente da Rede Minas.

Do Vale afirma que a decisão é técnica tem relação com o intercâmbio de conteúdos entre as emissoras públicas e estatais.

“A TV Brasil sempre foi mais permeável a conteúdos de outros estados. São raros os dias em que ela não leva ao ar nacionalmente uma ou mais reportagens produzidas pela Rede Minas. O Jornal da Cultura, de seu lado, é essencialmente paulistano”.

“A Rede Minas não tem nada a esconder. O diálogo e a transparência são pressupostos elementares dessa gestão”, completou.

Críticas

O anúncio da mudança foi feito pelo apresentador do "Jornal da Cultura", Willian Corrêa: “é uma notícia péssima”, disse na própria quinta-feira, quando o sinal do telejornal já não era mais captado em Minas Gerais.

E seguido de um questionamento do filósofo Luiz Felipe Pondé, comentarista do telejornal. “Quem que boicotou o 'Jornal da Cultura' na Rede Minas?”, indagou Pondé.

“Nós tínhamos uma boa audiência lá [Minas Gerais]. Tem um presidente novo da Rede [Minas]. Se não me engano, não o conheço, ele se chama Israel do Vale. Ele deve saber os motivos para tirar o jornal”, respondeu Corrêa. “Parece boicote. É a impressão que dá”, completou o filósofo.

O cientista político Sérgio Fausto, também comentarista do "Jornal da Cultural", logo após, avaliou que a decisão de corte do sinal poderia ser política. “Será que por alguma coisa política, pelo fato de que o governo de Minas é hoje legitimamente ocupado por um político do PT? A característica do "Jornal da Cultura" é a pluralidade de opinião”, afirmou Fausto.