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PF prende empresário e ex-assessor ligados ao PT de Minas Gerais

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

29/05/2015 11h18Atualizada em 29/05/2015 14h16

A Polícia Federal prendeu, nesta sexta-feira (29), quatro pessoas investigadas por associação criminosa para a lavagem de dinheiro como parte da operação Acrônimo, deflagrada em três Estados e no Distrito Federal. Segundo o delegado Dennis Cali, responsável pela investigação, há suspeitas de que o dinheiro lavado vinha de contratos superfaturados e não executados. A PF também investiga se o dinheiro desviado abastecia campanhas políticas. Uma outra pessoa foi presa por porte ilegal de arma.

Entre os cinco presos, estão o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira, ligado ao PT e fornecedor da campanha do partido em Minas Gerais, e Marcier Trombiere Moreira, que trabalhou para a campanha de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas no ano passado. Segundo a PF, Benedito seria o líder do esquema. Ele seria o sócio um grupo de pelo menos 30 empresas que manteria contratos fraudulentos com o governo federal em áreas como serviços gráficos e eventos. Ainda segundo Dennis Cali, o faturamento do grupo de empresas liderado por Benedito saltou de R$ 400 mil para R$ 500 milhões em pouco mais de seis anos. A PF não divulgou os nomes dos outros três presos.

A investigação conduzida pela PF começou em outubro de 2014, quando PF deteve cinco pessoas e apreendeu R$ 113 mil em um avião bimotor no aeroporto de Brasília. A aeronave vinha de Belo Horizonte. Benedito Rodrigues e o ex-assessor do Ministério da Cidades Marcier Trombiere Moreira estavam entre os detidos.

Benedito Rodrigues já havia sido investigado pela PF anteriormente por suspeitas de participar de um esquema para a produção de dossiês contra políticos do PSDB durante as eleições de 2010. Uma de suas empresas, a Dialog, havia recebido pelo menos R$ 200 milhões em contratos com o governo federal.

À época, a coligação de Pimentel emitiu nota em que admitia que Benedito Rodrigues e Marcier Trombiere haviam trabalhado para a campanha, mas que não poderia se “responsabilizar pela conduta de fornecedores”.

O delegado Dennis Cali disse que, até o momento, o governador de Minas Gerais e outras autoridades com foro privilegiado não são investigados, mas afirmou que há a possibilidade de a investigação ter “novos desdobramentos” a partir da análise dos documentos apreendidos nesta sexta-feira. “Não há nenhuma autoridade com foro sendo investigada. Não há nenhum partido sendo investigado.”

Segundo Cali, a investigação ainda está em andamento e dados do TCU (Tribunal de Contas da União) comprovam que houve superfaturamento e inexecução de serviços em contratos mantidos pelas empresas comandadas por Benedito junto ao governo federal. 

“A investigação está em curso. O que nós temos hoje, de fatos levantados, é sobrepreço e inexecução de contratos já reconhecidos pelo TCU. A partir dessa investigação, iniciamos toda essa metodologia de trabalho que hoje culminou com essas buscas”, afirmou o delegado.

De acordo com a PF, o grupo tentava despistar as autoridades mudando o quadro societário das empresas envolvidas. Outra estratégia usada pelo grupo era colocar diversas empresas, a maioria de fachada, funcionando no mesmo endereço.

O delegado disse que um dos focos da investigação é verificar se o dinheiro desviado abasteceu campanhas políticas.

“(Abastecimento de caixas de campanha) também é um dos objetos da investigação. Sabemos que ocorreu o sobrepreço, sabemos que ocorreu a inexecução dos contratos e que houve o desvio do recurso público. O objeto da nossa investigação é rastrear para saber por onde esses valores transitaram e como transitaram”, afirmou.

A PF informou que investiga duas empresas: a gráfica Brasil e a promotora de eventos Due. A gráfica teria faturado R$ 465 milhões desde 2005 em contratos com o governo federal, e a Due teria recebido R$ 60 milhões também em contratos.

A operação Acrônimo foi deflagrada na manhã desta sexta-feira em Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Noventa mandados de prisão foram expedidos pela Justiça Federal do DF. A PF apreendeu uma aeronave bimotor avaliada em R$ 2 milhões e pelo menos 10 carros de luxo, entre eles caminhonetes e uma Land Rover.

De acordo com o advogado Délio Lins e Silva, Marcier vai pagar a fiança e deve ser liberado ainda hoje. O advogado de Benedito, Celso Lemos, afirmou que "não tem conhecimento de todos os motivos que levaram à prisao de seu cliente", mas acredita que ele deve ser liberado mediante pagamento de fiança.