"Agora, a gente luta contra o Judiciário", diz estudante que criticou deputados do PR
Alçada à condição de “pessoa pública” ano passado, depois de passar um pito em deputados paranaenses em plena Assembleia Legislativa do Estado, a estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro, 16, voltou ao foco da política nacional, na noite dessa quarta-feira (10), ao ser chamada ao palco pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista, que fizera um discurso de aproximados 11 minutos após depor ao juiz federal Sergio Moro, convidou a jovem para se filiar ao PT.
O discurso de Ana Júlia em outubro passado aos parlamentares viralizou e rendeu a ela visibilidade, convites para eventos políticos e voltados à educação ou à participação popular e, claro, rendeu também ataques de movimentos que defenderam, ano passado, o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Dias depois, o próprio Lula telefonou a ela para "agradecer e incentivar" pelo engajamento político.
Em entrevista ao UOL na véspera do evento de ontem na praça Santos Andrade, no entanto, a estudante, hoje no terceiro ano do ensino médio e futura candidata ao curso de direito --o pai é advogado e a mãe, professora da rede pública municipal--, negou que já tenha se filiado a alguma legenda, mas deixou a possibilidade em aberto.
Ana Júlia defendeu que, agora, a “luta nas ruas” não é mais contra o Executivo paranaense --ano passado, representado pelo governador Beto Richa (PSDB)--, mas contra o Judiciário, simbolizado e explicitado, na fala dela, por Moro, que coordena a Lava Jato na primeira instância.
A reportagem falou com ela durante uma “vigília pela democracia”, realizada na terça-feira à noite, na praça Tiradentes (centro de Curitiba), na qual políticos e movimentos sociais --principalmente o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e centrais sindicais-- demonstraram solidariedade a Lula, além de criticar o governo do presidente Michel Temer (PMDB).
“Eu não posso sair da rua, porque sempre estive na rua, desde que me entendo por gente. Não é agora que seria diferente, pelo contrário. Estamos em um momento do Brasil em que temos de estar cada vez mais nas ruas”, disse.
Qual a diferença de militar em ocupações e em prol de um político que é réu na Lava Jato? “Nas ocupações, a gente estava lutando contra o Executivo e contra medidas arbitrárias que promoviam retrocessos [Richa, com apoio da Assembleia, queria mudanças na Previdência dos servidores estaduais]. Agora, a gente luta contra o Judiciário. A gente tende a achar que o Judiciário está acima do bem e do mal, que pode tudo, e não, não pode tudo, e isso que a gente está tentando mostrar”, afirmou.
Por outro lado, a secundarista faz questão de salientar que não se posiciona contrariamente à Operação Lava Jato, que investiga esquemas de corrupção.
“A gente não é contra a Lava Jato, mas contra a maneira como ela está sendo conduzida. A gente é contra a justiça seletiva – Judiciário e Executivo são duas esferas de poder que, hoje, estão achando que são donas do Brasil. E o dono Brasil é o povo”, discursa.
Se algo mudou na vida dela em Curitiba (cidade que recebeu Lula com outdoors hostis e onde o PT historicamente não é exitoso em eleições)? A secundarista garante que não, além, é claro, dos convites de eventos que a fazem, agora, ter de encaixar os estudos em horários pouco ortodoxos.
Se deve se filiar e disputar eleições? “Ainda faltam dois anos para eu atingir a maioridade, mas militar na política partidária é uma possibilidade. Mesmo sem partido, mas assumindo um posicionamento, a militância é importante e é necessária. É muito bom que as pessoas a tenham. Mas a militância partidária também é muito importante --querendo ou não, quem atinge as esferas de poder são elas. E chega um momento na vida em que talvez precise escolher”, resumiu.
“Agora é um momento também de eu conhecer partidos, mas não para entrar definitivamente em nenhum deles. E estou aproveitando esse momento exatamente para isso.”
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