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Aécio Neves foi gravado pedindo R$ 2 milhões a dono da JBS, diz jornal

Luis Nova/Framephoto/Estadão Conteúdo
Imagem: Luis Nova/Framephoto/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

17/05/2017 20h28Atualizada em 18/05/2017 21h45

Aécio Neves, presidente do PSDB e senador por Minas Gerais, foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, dono da JBS, segundo reportagem do jornal "O Globo" publicada nesta quarta-feira (17).

De acordo com a publicação, as informações fazem parte de uma delação de Joesley que ainda não foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O depoimento do empresário foi dado à PGR (Procuradoria-Geral da República) em abril e, no dia 10 passado, o conteúdo foi comunicado ao ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.

Joesley entregou um áudio à PGR em que o tucano pede a quantia, sob o pretexto de pagar as despesas com sua defesa na Operação Lava Jato.

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Segundo a reportagem, Aécio e Joesley se encontraram no dia 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo. O diálogo gravado durou cerca de 30 minutos.

Na gravação obtida pelo jornal, o tucano afirmou que iria contratar o criminalista Alberto Toron para defendê-lo na Lava Jato. O nome do advogado já havia sido citado à Joesley, anteriormente, por Andréa Neves, irmã e braço-direito do senador.

O jornal detalha como foi o diálogo. Joesley pergunta como poderia fazer a entrega das malas com os valores. "Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança", propôs o empresário. O senador respondeu: "Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho". 

Aécio indicou um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, para receber o dinheiro. Fred, como é conhecido, foi diretor da Cemig, nomeado por Aécio, e um dos coordenadores de sua campanha a presidente em 2014. 

Quem levou o dinheiro a Fred foi o diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, um dos sete delatores. Foram quatro entregas de R$ 500 mil cada uma. A PF filmou uma delas.

No material que chegou às mãos de Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, na semana passada, segundo O Globo, a PGR diz ter elementos para afirmar que o dinheiro não foi repassado a advogado algum. As filmagens da PF mostram que, após receber o dinheiro, Fred repassou, ainda em São Paulo, as malas para Mendherson Souza Lima, secretário parlamentar do senador Zezé Perrella (PMDB-MG).

Mendherson levou de carro a propina para Belo Horizonte. Ele foi seguido pela PF durante as três viagens.

As investigações da PGR revelaram que o dinheiro não era para advogado. O assessor negociou para que os recursos fossem parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella, filho de Zeze Perrella.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a JBS informou que não vai se posicionar sobre as eventuais gravações feitas por Joesley Batista e reveladas pelo jornal O Globo.

Procurada, a PGR (Procuradoria-Geral da República) disse, também por meio de sua assessoria de imprensa, que não se manifestará sobre eventuais acordos de colaboração que ainda não foram homologados.

Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio Neves afirmou que o senador está "absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos". O texto diz ainda que a relação do presidente do PSDB com Joesly Batista sempre foi "estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público". A nota encerra informando que Aécio espera ter acesso ao conteúdo completo das informações para prestar esclarecimentos.

Em vídeo publicado em seu Facebook, Zezé Perrella se coloca à disposição para esclarecimentos. "Não conheço Joesley Batista. Nunca tive contato com ele, nem mesmo por telefone, ou com qualquer outra pessoa do Grupo JBS."

Temer também foi gravado

Segundo o jornal O Globo, Joesley Batista também disse à PGR ter gravado uma conversa com Michel Temer, em março deste ano, em que o presidente da República dá aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Joesley Batista, um dos donos da JBS, encontrou Temer no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário registrou a conversa com um gravador escondido. Em um trecho, Joesley inicia um diálogo sobre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Após perguntar qual era a atual relação entre Temer e o ex-deputado, o empresário diz que zerou "tudo o que tinha de pendência" com Cunha. Mais para frente, no diálogo, Joesley afirmou: "eu tô bem com o Eduardo". Ao que Temer respondeu: "e tem que manter isso, viu". O diálogo, porém, tem trechos inaudíveis, tornando inconclusiva uma possível referência a um aval de Temer aos pagamentos mensais.

Por volta das 21h30 desta quarta-feira, o Palácio do Planalto emitiu nota em que nega envolvimento do presidente em uma tentativa de calar o ex-deputado Eduardo Cunha. No texto, Temer confirmou ter se encontrado com o empresário Joesley Batista no começo de março, no Palácio do Jaburu, sua residência oficial, em Brasília, mas disse que "não houve no diálogo nada que comprometesse" sua conduta.