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Dono da JBS afirma que Temer sabia da compra de silêncio de Cunha, diz "O Globo"

Temer durante solenidade no STF em outubro de 2016 - Pedro Ladeira - 5.out.2016/Folhapress
Temer durante solenidade no STF em outubro de 2016 Imagem: Pedro Ladeira - 5.out.2016/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

17/05/2017 19h57Atualizada em 18/05/2017 21h43

O dono da JBS, Joesley Batista, afirmou à PGR (Procuradoria-Geral da República) que o presidente Michel Temer (PMDB) sabia que ele pagava uma mesada para manter calados o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) e o operador Lúcio Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato. A informação foi divulgada pelo jornal "O Globo" nesta quarta-feira (17).

De acordo com a publicação, as informações fazem parte de uma delação de Joesley que ainda não foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O depoimento do empresário foi dado à PGR em abril e, no dia 10 passado, o conteúdo foi comunicado ao ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.

Ainda de acordo com o jornal, a conversa entre Joesley e Temer teria acontecido no dia 7 de março no Palácio do Jaburu. O empresário teria gravado a conversa com um gravador escondido.

O áudio é inconclusivo sobre se Temer sabia de uma mesada a Cunha. Em um trecho, Joesley inicia um diálogo sobre o ex-deputado. Após perguntar qual era a atual relação entre Temer e Cunha, o empresário diz que zerou "tudo o que tinha de pendência" com o peemedebista cassado. Mais para frente, no diálogo, Joesley afirmou: "eu tô bem com o Eduardo". Ao que Temer respondeu: "e tem que manter isso, viu". A sequência tem trechos inaudíveis, tornando inconclusiva uma possível referência a um aval de Temer aos pagamentos mensais.

A publicação também informou que a PF registrou ao menos uma entrega de R$ 400 mil para Roberta, irmã de Lúcio Funaro. Já o dinheiro para Cunha seria entregue a Altair Alves Pinto. Altair já fora apontado pelo operador Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, como o responsável por receber as propinas destinadas ao ex-deputado.

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Cunha teria agido a favor da J&F em projetos de lei e no fundo FI-FGTS, que investiu mais de R$ 1 bilhão em empresas do grupo.

O empresário disse ter pagado ao menos R$ 5 milhões a Cunha depois de sua prisão, e ainda devia mais R$ 20 milhões relativos à tramitação de uma lei que previa a desoneração de impostos no setor de frango.

Deputado teria resolvido "assunto" da J&F

Ainda de acordo com o relato de Joesley publicado por "O Globo", Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver "um assunto" da J&F, a holding que controla a JBS. Depois, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil mandados pelo empresário.

A "pendência" da J&F com o governo, segundo Joesley, era uma disputa relativa ao preço do gás fornecido pela Petrobras à termelétrica EPE, que pertence ao grupo. Loures teria ligado para o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Gilvandro Araújo, para interceder pela J&F. Pelo serviço, Joesley teria oferecido a Loures uma propina de 5%, que teria sido aceita pelo deputado.

Depois, Joesley e Ricardo Saud, diretor da JBS, teriam acordado com Loures o pagamento de uma propina de R$ 500 mil semanais por 20 anos --o que totalizaria quase meio bilhão de reais. O deputado teria dito que levaria a proposta a alguém acima dele.

Ao menos uma entrega de R$ 500 mil a Loures, feita por Saud, teria sido flagrada pela PF em São Paulo.

Joesley, Saud e mais cinco pessoas da JBS devem pagar uma multa de R$ 225 milhões, segundo "O Globo".

Por volta das 21h30 desta quarta-feira, o Palácio do Planalto emitiu nota em que nega envolvimento do presidente em uma tentativa de calar o ex-deputado Eduardo Cunha. No texto, Temer confirmou ter se encontrado com o empresário Joesley Batista no começo de março, no Palácio do Jaburu, sua residência oficial, em Brasília, mas disse que "não houve no diálogo nada que comprometesse" sua conduta.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a JBS informou que não vai se posicionar sobre as eventuais gravações feitas por Joesley Batista e reveladas pelo jornal O Globo.

Marlus Arns, advogado de Eduardo Cunha, afirmou que seu escritório nunca foi procurado por ninguém da JBS e que nunca tratou com Eduardo Cunha sobre colaboração premiada.

O advogado do economista Lúcio Funaro, Bruno Espiñera, disse não ter conhecimento sobre pagamentos em dinheiro feito a Funaro e parentes dele. Ele disse que irá se encontrar com seu cliente, que está preso em Brasília, nesta quinta-feira (18).

“Estou tão surpreso com essa informação quanto qualquer outra pessoa. Não tinha conhecimento dessas informações, mas até falar com meu cliente e saber o que ele tem a dizer sobre isso, vou continuar tratando essas informações como mais uma delação que ainda precisa ser confirmada”, afirmou.

Procurada, a PGR (Procuradoria-Geral da República) disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se manifestará sobre eventuais acordos de colaboração que ainda não foram homologados.

A assessoria do deputado Rodrigo Rocha Loures informou que ele está em Nova York, onde participou de palestras com investidores internacionais, e tem retorno programado para esta quinta (18). Segundo a nota, quando voltar, "o deputado deverá se inteirar e esclarecer os fatos divulgados".

Aécio também foi gravado

Joesley Batista afirmou à PGR, ainda de acordo com "O Globo", que também gravou o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, lhe pedindo R$ 2 milhões. O dono da JBS entregou à PGR um áudio em que o tucano pede a quantia sob a justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.

O momento da entrega do dinheiro a um primo de Aécio foi filmado pela Polícia Federal. A PF descobriu que a quantia foi depositada numa empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).

Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio Neves afirmou que o senador está "absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos". O texto diz ainda que a relação do presidente do PSDB com Joesly Batista sempre foi "estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público". A nota encerra informando que Aécio espera ter acesso ao conteúdo completo das informações para prestar esclarecimentos.

Em vídeo publicado em seu Facebook, Zezé Perrella se coloca à disposição para esclarecimentos. "Não conheço Joesley Batista. Nunca tive contato com ele, nem mesmo por telefone, ou com qualquer outra pessoa do Grupo JBS."

Empresário implica Mantega e Palocci

Ainda de acordo com "O Globo", Joesley disse que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega era seu contato no PT para a distribuição de propina a petistas e aliados. Mantega também atenderia a interesses da JBS e da J&F no BNDES.

Já o ex-ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, foi contratado pela JBS como consultor e atuava como uma espécie de orientador do empresário no meio político. Segundo Joesley, Palocci não se envolveu nos pedidos de suas empresas no BNDES, mas pediu doação de campanha ao PT via caixa dois. De acordo com "O Globo", o pedido foi atendido.

Adriano Bretas, advogado de Palocci, afirmou que pedir doação de campanha trata-se de "ato político absolutamente corriqueiro. Se a doação foi feita, resta saber se foi declarada". Ele também reiterou que o ex-ministro "jamais se envolveu nos empréstimos do grupo JBS perante o BNDES".

UOL está tentando contato com a assessoria de imprensa de Guido Mantega.

JBS faturou R$ 170 bilhões em 2016

Em seu site, a JBS se apresenta como "uma das líderes globais da indústria de alimentos", com mais de 230 mil funcionários ao redor do mundo. A empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo em 2007. No ano de 2016, segundo informes financeiros da empresa, a JBS a companhia registrou receita líquida de R$ 170,3 bilhões. O lucro líquido foi de R$ 376 milhões.

A JBS é uma das empresas da holding J&F, que inclui companhias de setores variados. São elas: Vigor (derivados de leite), Alpargatas (calçados e vestuário), Eldorado Brasil (celulose), Flora (higiene e limpeza), Banco Original, Âmbar (energia), Canal Rural, Oklahoma (criação de gado nos EUA, Austrália e Canadá) e Floresta Agropecuária (criação de gado no Brasil).