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Procurador diz que redução de delegados na Lava Jato é "incompreensível"

Felipe Rau/Estadão Conteúdo
Imagem: Felipe Rau/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

26/05/2017 13h33

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima classificou, nesta sexta-feira (26), como “incompreensível” a redução da equipe da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba. A declaração foi dada durante entrevista coletiva sobre a 41ª fase da operação Lava Jato realizada hoje.

“A operação em Curitiba não está diminuindo, ao contrário, vamos ter muito serviço, novos fatos, e todas as acusações que temos que proceder", disse Lima.

“Talvez a Direção-Geral da Polícia Federal compreenda que precisamos manter uma equipe que realmente dê condições de suporte às medidas que vão ser tomadas daqui para a frente, investigações que vão se desenvolver", declarou.

Lima ressaltou que a força-tarefa continua com 13 procuradores e disse que a direção da Polícia Federal deve compreender que “precisamos manter uma equipe que dê condições de suporte para as medidas que vão ser tomadas daqui para frente”, principalmente por conta dos possíveis novos acordos de delações, como da empresa JBS.

 "Possivelmente, uma parte [das investigações da JBS] virá para Curitiba. Incompreensível para nós essa redução para apenas quatro delegados."

Já o delegado Igor Romário de Paula, apresentou outro número de delegados. Ele declarou que, além dele, mais cinco delegados dividem as funções em Curitiba. Antes, eram nove.

"De fato, com o número que temos hoje fica difícil dar continuidade, prosseguimento da forma como sempre foi. Estamos tentando recompor. Na equipe de agentes e analistas não houve redução tão grande. Dificuldade maior hoje é com o número de delegados. Mas, enfim, temos que tentar recompor da forma como possível", afirmou Romário de Paula.

O delegado não fez especulações sobre eventual interferência do governo na Lava Jato. "Eu falo do ponto de vista administrativo interno da Polícia Federal. Se há alguma articulação maior, mais ampla, eu não sei dizer. A dificuldade operacional a gente vai ter que superar."

Romário de Paula observou que estão em curso 120 procedimentos instaurados no âmbito da PF em Curitiba. "Quanto maior a equipe disponível, melhor vai ser o trabalho desenvolvido." Ele defendeu equipes com a "qualificação necessária".

"Eu não vejo indícios de qualquer tipo de influência para tentar barrar a investigação aqui [em Curitiba]. Vejo limitação em função da disseminação da investigação. São 17 Estados que vão receber desdobramentos. Realmente, fica difícil continuar recebendo gente para cá", finalizou.

Em nota do Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR) sobre a operação de hoje, o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da investigação, declarou que a equipe vai continuar a “trabalhar com afinco, apesar dos esforços contrários, como os cortes da Polícia Federal”.

Em nota divulgada nesta semana, a direção da PF informou que o efetivo atual "está adequado à demanda existente", e reafirmou o "compromisso público de trabalhar no combate à corrupção".

Cortes em 2016

Em janeiro deste ano, um levantamento feito pelo UOL, com dados do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira), mostrou que, considerando a inflação, a Polícia Federal recebeu 7,15% menos recursos em 2016 que em 2015.

De junho a dezembro de 2016, com Michel Temer (PMDB) na Presidência, o corte foi de 4,6% em relação ao mesmo período de 2016.

Na Controladoria-Geral da União (CGU), também envolvida na apuração dos crimes investigados na Lava Jato, a redução nos gastos de janeiro a abril de 2016 foi de 7,4% em relação ao mesmo período de 2015. Em 2015, foram gastos R$ 297 milhões; em 2016, o valor foi de R$ 275 milhões.