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Com liderança do PMDB no Senado em xeque, Renan elogia Temer e ataca Janot

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) discursa no Senado - Jefferson Rudy/Agência Senado
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) discursa no Senado Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

29/05/2017 18h38

Um dia antes da reunião da bancada do PMDB no Senado que decidirá a sua permanência ou destituição da liderança do partido na Casa, o senador Renan Calheiros (AL) elogiou e agradeceu ao presidente Michel Temer (PMDB), de quem defende, nos bastidores, a renúncia seguida de eleições indiretas, em discurso de mais de 30 minutos na tribuna do plenário, na tarde desta segunda-feira (29).

Nas últimas semanas, o alagoano se engajou na oposição às reformas trabalhista e da Previdência propostas pelo governo federal, irritando correligionários, que trabalham pela saída de Renan do cargo de líder da bancada peemedebista no Senado.

O elogio a Temer ocorreu por conta da nomeação do ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Torquato Jardim para o Ministério da Justiça, no lugar do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) –que substituiu Jardim no Ministério da Transparência e Controle, em decisão anunciada neste domingo (28).

“Cumprimento o presidente da República pela nomeação de um ministro da Justiça digno do nome, que pode exercer, neste momento difícil, um papel de interlocução na vida nacional. Cumprimento, mais uma vez, o presidente da República pela nomeação de um ministro da Justiça”, declarou Renan, que na última quarta (24) criticou no mesmo plenário a escolha de Serraglio para a pasta, em fevereiro.

Na ocasião, o senador disse ser "inadmissível" que "um governo chantageado publicamente continue a ser pautado por um presidiário, inclusive na nomeação de um ministro da Justiça". Tratava-se de uma referência ao deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que teria indicado o nome de Serraglio.

A gratidão, segundo Calheiros, se deve à visita de Temer, também neste domingo, a Alagoas, “num momento em que os alagoanos se desesperavam com as enchentes”. Na ocasião, o presidente se reuniu com seu filho, o governador Renan Filho (PMDB-AL). Segundo o senador, a viagem “é significativa e terá um desdobramento satisfatório para corrigir as injustiças em que se colocam tantos alagoanos”.

"Estado de exceção"

No discurso desta segunda --dia em que não há sessões deliberativas no Congresso e, por isso, costuma não contar com a presença de muitos parlamentares--, Renan também criticou o que chamou de "ambiente de excepcionalidades jurídicas próprias de um Estado de exceção". Aproveitou ainda para comparar o instituto da delação premiada “com a censura e a tortura na ditadura”. Para o senador, a prisão preventiva é decretada “para aterrorizar e obter delações”.

Em defesa veemente da classe política e de si mesmo, ele declarou que "vivenciamos [hoje] uma época de acusações bêbadas, pedradas de doido e coices de burro", citando frase usada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes na semana passada. Os acordos de colaboração dos executivos da holding J&F incluem o próprio Renan na lista de políticos que, direta ou indiretamente, teriam obtido vantagens ilícitas.

“A sequência de acontecimentos é preocupante. Competências e prerrogativas do Congresso Nacional vêm sendo usurpadas com anistias indefensáveis. Mecanismos judiciais são manipulados para impedir a atividade legislativa. Clima mental desfavorável e violento aos Deputados e Senadores é estimulado pelas redes sociais e até – pasmem – pelos meios de comunicação”, declarou Calheiros.

“Com as generalizadas agressões à política, persegue-se o aval público para esturricar parlamentares indistintamente na fogueira”, completou o senador.

Ele também criticou os benefícios concedidos a delatores, em especial aos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da J&F. "Dedurar inventando situações para sair da prisão ou da inevitabilidade da prisão passou a ser um bom negócio para criminosos confessos regiamente recompensados com a impunidade e a lavagem oficial do dinheiro público roubado”, declarou.

Ao falar da "generosidade", o senador se valeu de um trocadilho com o nome do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pelo acordo de colaboração com os empresários. "Nesse caso, não tratamos exatamente de generosidade, mas de 'janosidade', porque trata-se do Ministério Público Federal."

"Só o Legislativo pode conceder anistia. A anistia, de acordo com a Constituição Federal, é competência exclusiva do Poder Legislativo", defendeu Calheiros.

Citado

Em sua delação, Ricardo Saud, ex-diretor de Relações Institucionais da JBS (grupo pertencente à holding J&F), disse ter comprado o apoio de Renan, na casa do senador, que confirmou o encontro, mas negou ter tratado de atos ilícitos. O pagamento teria sido feito aos parlamentares por meio de doações eleitorais.

"A citação do delator é fantasiosa. O fato de ele ter ido a minha casa não significa que tenho qualquer relação com seus atos criminosos. Ele ou qualquer outro delator jamais falaria comigo sobre propina ou caixa 2. Se fizesse isso, eu teria mandado prendê-lo", diz a nota.

Ao dizer que mandaria prender o executivo, Renan fez menção indireta a Temer, que, em gravação feita por Joesley Batista, ouviu o empresário falar de iniciativas para tentar frear investigações. O presidente não denunciou Batista e se justificou dizendo não ter acreditado em "fanfarronices" de um "falastrão".