Gerentes da Andrade Gutierrez aderem a acordo para revelar detalhes sobre propina
Gerentes da construtora Andrade Gutierrez estão aderindo ao acordo de leniência que a companhia firmou com o MPF (Ministério Público Federal) para revelar novos detalhes sobre o esquema de pagamento de propina a agentes políticos. Nas últimas duas semanas, a Justiça Federal do Distrito Federal homologou a adesão de dois gerentes da empresa. Os nomes deles são mantidos em sigilo.
Em maio de 2016, a Andrade Gutierrez, que é investigada pela força-tarefa da Operação Lava Jato, firmou um acordo de leniência com o MPF (Ministério Público Federal) e se comprometeu a pagar uma multa de R$ 1 bilhão.
Pelo acordo, a construtora é obrigada a revelar detalhes sobre crimes cometidos e implementar normas mais rígidas de governança e combate à corrupção e, em troca, continuaria apta a firmar contratos com órgãos públicos. Os executivos que aderirem ao acordo de leniência também ficam livres de responderem na esfera civil a processos relacionados aos crimes revelados pela Andrade Gutierrez.
A adesão de gerentes e outros funcionários do segundo e terceiro escalão ao acordo de leniência é vista por procuradores federais como importante na medida em que eles podem oferecer mais detalhes sobre como funcionava o pagamento de propina a agentes políticos relativos a obras tocadas pela empreiteira.
Em geral, os diretores e superintendentes das empreiteiras que aderiram a esse tipo de acordo revelam informações sobre o pagamento de propina em nível “macro”. Cabe aos gerentes oferecer informações mais específicas sobre esses repasses.
Um dos gerentes cuja adesão ao acordo de leniência foi homologada há duas semanas trabalhou diretamente na obra do estádio Mané Garrincha. Ele ingressou na Andrade Gutierrez em 2005. Após uma passagem pela Odebrecht, ele voltou à Andrade e, entre 2009 e 2015, trabalhou em Brasília gerenciando contratos da empreiteira. Orçadas em R$ 690 milhões, as obras de reforma do estádio custaram R$ 1,575 bilhão.
Com base nas informações dos acordos de delação premiada e de leniência da companhia, o MPF sustenta que parte do sobrepreço de R$ 900 milhões da obra foi direcionada a políticos como os ex-governadores do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR). Outro que também teria recebido propina segundo o MPF foi o ex vice-governador do DF e ex-assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB) Tadeu Fillipelli.
O advogado de Arruda, Paulo Emílio Catta Preta, disse que seu cliente é inocente e alegou que a contratação para a reforma do estádio não ocorreu durante a gestão do ex-governador. Nesta quarta-feira, após uma decisão judicial que libertou Agnelo, Daniel Gerber, seu advogado, afirmou que a soltura do ex-governador foi uma decisão “técnica, isenta e extremamente bem fundamentada”. O advogado de Fillipelli, Alexandre Queiroz, por sua vez, também conseguiu que seu cliente fosse solto.
Na última terça-feira (23), o trio e outras sete pessoas foram presos pela PF após a deflagração da Operação Panatenaico, que apura a formação de cartel e pagamento de propina relativa à obra. Após ter sido preso, Fillipelli foi exonerado pelo presidente Temer. Agnelo Queiroz foi solto nesta quarta-feira (31) após uma decisão do TRF1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região).
O outro gerente que aderiu ao acordo de leniência é engenheiro civil formado em Minas Gerais e que atuou em projetos da Andrade Gutierrez como a construção da usina nuclear de Angra 3, cuja obra também é investigada.
Procurada pela reportagem, a Andrade Gutierrez enviou uma nota na qual ela afirma que “segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado pela empresa com o Ministério Público Federal e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado”.
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