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Favoritos ao cargo de Janot negam relação com Temer e aliados e defendem Lava Jato

Candidatos ao cargo de PGR participam de debate no Rio - Hanrrikson de Andrade/UOL
Candidatos ao cargo de PGR participam de debate no Rio Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

19/06/2017 15h34Atualizada em 19/06/2017 20h41

Os oito candidatos à chefia da PGR (Procuradoria-Geral da República) participaram, nesta segunda-feira (19), no Rio de Janeiro, do quinto debate do processo eleitoral para formação da Lista Tríplice, isto é, o rol de três nomes mais votados que serão submetidos ao crivo do presidente da República, Michel Temer (PMDB). Apontados como favoritos, os subprocuradores Raquel Dodge e Mário Bonsaglia negaram suposições de que ambos contariam com apoio na cúpula do Planalto. Neste momento, afirmaram eles, o objetivo é ganhar força interna e buscar os votos dos colegas.

Raquel Dodge, citada pelo jornal O Globo como favorita entre aliados de Temer - entre eles o ex-presidente José Sarney (PMDB) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) -, reiterou que, no momento, está capitalizando todos os esforços em uma campanha interna, em busca da preferência dos 1.200 membros do Ministério Público Federal com direito a voto. "É um trabalho muito longo, extenso e até estafante", disse. "Eu tenho me dedicado a procurá-los em cada dia da semana."

Durante o debate, um dos oponentes de Rachel, o subprocurador-geral Eitel Santiago, mencionou a reportagem que indicou suposta preferência por ela entre os aliados do presidente. Sobre os recentes atritos entre os Poderes, ele criticou o que chamou de lógica do "quanto pior, melhor". A fala de Eitel provocou uma saia justa, e Rachel voltou a abordar o assunto posteriormente. A candidata afirmou nunca ter feito contato com autoridades próximas a Temer com objetivo de pedir apoio.

"E acho que nem conviria fazê-lo. É preciso primeiro saber, ter alguma temperança, para saber se há alguma possibilidade de eu entrar na Lista Tríplice. E só então, com algum tipo de confiança e desenvoltura, buscar apoio. Esse momento ainda não chegou", disse Raquel, que pode ser a primeira mulher a assumir o cargo de Procuradora-Geral da República. "Só depois de ultrapassada essa fase é que contatos externos serão feitos."

Principal rival de Raquel, Mário Bonsaglia, que ainda segundo O Globo seria o favorito do próprio Temer, repetiu o discurso da concorrente. "Não fui ouvido para a realização desta matéria [d'O Globo] e não tenho relação pessoal com o presidente da República. Estou nesse momento concentrado na campanha dentro do MPF para obter os votos necessários e figurar na Lista Tríplice. Só depois da eleição é que eu vou olhar para a segunda fase desse processo."

Raquel Dodge, uma das favoritas a estar na Tríplice Lista para o cargo de PGR - Antonio Cruz/Agência Brasil - Antonio Cruz/Agência Brasil
Raquel Dodge, uma das favoritas a estar na Tríplice Lista para o cargo de PGR
Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Apoio integral à Lava Jato

Os candidatos também defenderam a continuidade da Lava Jato e a manutenção do grupo responsável pela apuração. Segundo eles, o trabalho deve contar com o apoio irrestrito da PGR e, caso existam necessidades, o mesmo será reforçado dentro das possibilidades e recursos do órgão.

Raquel destacou que a Lava Jato foi importante para que o Ministério Público ganhasse credibilidade em relação à população.

"A Operação Lava Jato conquistou três resultados muito importantes e que têm sido apreciados pela população brasileira. O primeiro é que ninguém está acima da lei. O segundo é que resultados podem ser alcançados com a lei que nós temos, a lei vigente. E terceiro que esses resultados podem ser alcançados de modo célere. Esses três aspectos conquistaram credibilidade para a instituição e para este trabalho, e eu pretendo manter esses resultados."

Bonsaglia afirmou que pretende manter, além dos quadros presentes nas forças-tarefa em Curitiba e no Rio de Janeiro, o grupo responsável pelo assessoramento dentro da Procuradoria-Geral da República, nos casos que são de atribuição do STF. "Eu tenho dito desde o início que a Lava Jato continuará firme em sua atuação investigatória, seja por meio de sua força-tarefa em Curitiba ou pelas demais forças-tarefa, inclusive a do Rio de Janeiro. E também por meio do grupo que assessora o PGR. Manterei a estrutura, darei o reforço que for necessário e terei a condução firme de todo o processo, sem qualquer dúvida."

O subprocurador Nicolao Dino, cotado como preferido do atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse defender não só a continuidade dos trabalhos da Lava Jato, mas também uma expansão as investigações em curso caso seja constatado a necessidade de se ir além. "O trabalho da Lava Jato tem que continuar e deve ser aprofundado na medida em que existir necessidade de aprofundamento. É preciso assegurar que todas as vertentes de investigação possam ser continuadas e exercitadas com bastante eficiência."

Crítica a Gilmar Mendes

Durante o debate, Nicolao Dino fez uma dura reprimenda ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, que pela manhã, havia criticado o andamento de investigações em curso no país.

"Investigação sim, abuso não", declarou Mendes. "Não se combate crime, cometendo outro crime. E é preciso que a sociedade diga isso de maneira clara. Estado de direito não comporta soberanos. Todos estão submetidos à lei."

Dino aproveitou o espaço do debate para dar a resposta: "Venho aqui rebater e repelir veementemente essa fala do ministro Gilmar Mendes". "Ela é um desserviço à República", completou ele.

Na visão do pleiteante à Lista Tríplice, os procuradores da Operação Lava Jato têm tomado medidas corretas e "sob crivo judicial". "Não se pode aceitar que, em nome do direito de crítica, se tente desqualificar um trabalho sério e responsável que está sendo feito por procuradores e juízes desses grandes casos de desvendamento de corrupção."

Confiança na Lista Tríplice

Bonsaglia declarou ainda ter confiança que a tradição da Lista Tríplice, adotada desde 2003, não será quebrada pelo presidente da República. Jornais têm publicado nos últimos dias que Temer poderia, pela primeira vez em 14 anos, escolher algum nome fora da relação dos três mais votados internamente.

"O presidente já deu declarações no sentido de que observaria a lista. Maneira mais segura de escolher o PGR. A categoria possui 1.148 procuradores em atividade, todos com independência funcional. O PGR precisa ter liderança e precisa constar com o respaldo da classe."

Dino afirmou ter o mesmo raciocínio do colega. Para ele, a Lista Tríplice dá legitimidade à nomeação. "É o ideal democrático, a legitimação do processo de escolha do Procurador-Geral da República a partir da Lista Tríplice. Algo que já vem sendo desenvolvido desde 2003, e nossa expectativa é que isso também ocorra agora."

O vencedor do pleito assumirá a função por dois anos, a partir de setembro, quando se encerrará o mandato de Rodrigo Janot.

Como funciona?

Em 27 de junho, mais de 1.200 integrantes do MPF (Ministério Público Federal) votarão em três dos oito candidatos e formarão uma Lista Tríplice, indicados a Michel Temer, a quem cabe a decisão final. Tradicionalmente, o presidente da República escolhe o mais votado entre os pleiteantes selecionados no sufrágio do MPF para o mandato de dois anos.

Especula-se, no entanto, que Temer estaria inclinado a quebrar a tradição dos últimos 14 anos e optar por um candidato fora da Lista Tríplice. A decisão poderá impactar nos rumos da política nacional, pois a PGR está no epicentro das investigações e dos processos judiciais que tramitam no âmbito da Operação Lava Jato.

Além de Raquel, Bonsaglia, Dino e Eitel, também concorrem a uma vaga na PGR Carlos Frederico Santos, Ela Wiecko, Franklin da Costa e Sandra Cureau.