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Defesa de Temer diz que presidente nunca recebeu "um vintém" de corrupção

Temer: primeiro presidente denunciado durante exercício de mandato

UOL Notícias

Felipe Amorim e Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

10/07/2017 17h29Atualizada em 10/07/2017 17h53

Após o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) ter lido relatório favorável à denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) na CCJ, o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira negou que Temer tenha praticado o crime de corrupção e disse lançar um desafio para que seja provado o envolvimento do presidente nas acusações narradas pela denúncia da Procuradoria.

"Eu lanço um repto aqui e agora ao procurador-geral da República [Rodrigo Janot], a quem eu muito respeito, que me diga quando o presidente da república recebeu um níquel sequer. Quando e onde e das mãos de quem?", afirmou Mariz.

"É mentira que o presidente da República haja recebido um vintém", disse o advogado, que representa o presidente no processo no STF.

Mariz também afirmou não concordar com o argumento do relator na CCJ de que, nesta fase do processo, a dúvida sobre o cometimento do crime deve favorecer o prosseguimento da investigação, e não o arquivamento do processo.

Para o defensor de Temer, esse argumento fere o direito dos investigados, pois não cabe a eles provar sua inocência, mas sim à Procuradoria provar que há culpa dos acusados.

"É um direito penal do porvir, é um direito penal do futuro, não é um direito penal do fato ocorrido", disse Mariz.

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Sessão tem acusações contra governo

O andamento da sessão foi disputado entre aliados do governo, que tentavam acelerar a análise da denúncia, e deputados da oposição, que usaram de expedientes para alongar a reunião da CCJ.

Logo de início, a oposição conseguiu que a comissão realizasse a leitura da ata da sessão anterior, medida normalmente dispensada em outras reuniões. A oposição também apresentou requerimentos, rejeitados pelo presidente da CCJ, para que fossem convocadas testemunhas e para que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, viesse à CCJ se manifestar sobre a denúncia.

Este domingo, a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, rejeitou a ação proposta pelo deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) para garantir a ida de Janot à CCJ.

O começo da sessão foi marcado pelo desabafo, aos gritos, do deputado Delegado Waldir (PR-GO), um dos quatro parlamentares de seu partido que foram substituídos na comissão nesta segunda. "Revoltado", ele acusou o PR de vender sua vaga ao governo federal, já que ele votaria pela admissibilidade da denúncia.

O líder da legenda na Casa, deputado José Rocha (BA), por sua vez, disse que os quatro pediram para ser trocados porque "não se sentiam confortáveis em votar contra a denúncia", e que os substitutos votarão como quer o partido, que faz parte da base aliada.

Além das trocas do PR, outros quatro membros titulares do PMDB, PTB, PSD e Solidariedade foram trocados nos últimos dias. As substituições de última hora foram a estratégia adotada pelo governo para tentar garantir maioria na votação do relatório sobre a denúncia na CCJ.

Em menos de uma semana, portanto, quase 1/7 dos membros titulares da comissão foram trocados.
 
Temer foi denunciado pelo crime de corrupção pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
 
Para que o processo tenha seguimento e o presidente seja julgado perante o STF (Supremo Tribunal Federal) é preciso que primeiro os deputados deem aval ao processo.
 
Depois de passar pela CCJ, a denúncia da PGR segue para o plenário da Câmara, onde precisa do voto favorável de ao menos 342 dos 513 deputados.
 
A votação na Câmara determina apenas a autorização para que o Supremo julgue o presidente, e não representa, em tese, um juízo de culpa sobre se ele de fato cometeu o crime.
 
Caso o prosseguimento do processo seja aprovado pela Câmara, os 11 ministros do STF ainda precisam analisar se recebem a denúncia da Procuradoria contra Temer. Se aceita, este faria com que Temer se tornasse réu pelo crime de corrupção e o deixaria afastado do mandato por 180 dias ou até o julgamento do processo pelo Supremo.
 
Caso a ação não seja julgada em 180 dias, o presidente retoma o cargo, mas o processo continua sua tramitação no Supremo.
 
No período de afastamento, assume a Presidência da República o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

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Entenda a denúncia contra o presidente

A denúncia contra Temer teve origem em investigações abertas com base na delação da JBS.
 
O presidente foi denunciado junto com o ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures (PMDB-PR), acusado pela Procuradoria de ter agido como intermediário da propina que seria paga ao presidente.
 
Temer foi gravado, sem saber, pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, durante um encontro fora da agenda oficial em 7 de março no Palácio do Jaburu, residência oficial do presidente.
 
No diálogo, Temer aparenta indicar o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que foi também assessor do Planalto, como seu homem de confiança com quem Joesley poderia tratar de assuntos de interesse da JBS.
 
Veja a transcrição desse trecho da conversa, feita pela Polícia Federal:
 
Joesley - O brabo é... enfim, mas vamos lá. Eu queria falar sobre isso. Falar como é que é que... para mim falar contigo qual é a melhor maneira... porque eu vinha falando através do Geddel ... através... eu não vou Ihe incomodar, evidente, se não for algo assim...
Temer - [ininteligível]
Joesley - Eu sei disso, por isso é que...
Temer - [ininteligível]
Joesley – É o Rodrigo?
Temer - É o Rodrigo.
Joesley - Então ótimo.
 
Seis dias depois, Joesley se encontrou com Rodrigo Loures e, segundo a Polícia Federal, ambos fizeram menção ao aval de Temer para as tratativas entre eles. Veja a transcrição da Polícia Federal:
 
Loures -  Ele queria acho que falar com você, que eu vi num é, que ele, da outra vez, ele perguntou naquele dia, mas ele te disse o que que era, eu disse ô presidente, nem disse, nem eu perguntei. Sendo assim, diga a ele que se ele quiser falar, pode falar com você.
Joesley - Isso.
Loures -  Ele só vai falar, se ele quiser falar, então tem que deixar o homem à vontade.
Joesley - Agora tá autorizado, que ele autorizou, pronto.
 

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No segundo encontro entre Joesley e Loures, no dia 16 de março, o empresário expõe seu interesse na resolução pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de uma disputa comercial entre uma usina termelétrica do grupo e a Petrobras, na compra de gás da Bolívia.
 
Na ocasião, Joesley chega a citar a possibilidade de pagamento de 5% do lucro obtido na operação caso a usina do grupo fosse beneficiada.
 
Na sequência, no dia 24 de abril, Loures se encontra com o diretor de relações institucionais da J&F, grupo que controla a JBS, Ricardo Saud, também delator.
 
Nessa conversa, Saud oferece a Loures, em troca da resolução do problema no Cade, pagamento de propina que poderia chegar a R$ 1 milhão por semana, segundo conclui a Polícia Federal.
 
Dali a quatro dias, em 28 de abril, Loures seria flagrado numa operação da Polícia Federal recebendo R$ 500 mil em dinheiro, dentro de uma mala entregue por Saud, em uma pizzaria de São Paulo.
 
A suspeita da Procuradoria é de que o dinheiro se refere a propina para que o governo atendesse interesses empresariais de Joesley.

 

O que dizem Temer e Loures

O presidente Temer tem afirmado não ter cometido qualquer irregularidade e classificou como "fraudulenta" a gravação apresentada por Joesley.
 
Os advogados do presidente contrataram uma perícia independente que apontou possíveis pontos de edição no áudio.
 
A defesa de Rocha Loures tem recorrido ao STF para pedir a liberdade do ex-deputado, preso preventivamente desde o último dia 3, e afirmou que “a mala de dinheiro, segundo afirmam, decorreu de armação de Joesley Batista”, disse o advogado Cezar Bitencourt, em nota divulgada à imprensa.