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Lula ironiza sentença de Moro e diz que não há provas sobre propriedade de tríplex

Assista à íntegra do discurso de Lula após condenação por Moro

UOL Notícias

Luís Adorno, Mirthyani Bezerra e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

13/07/2017 12h11Atualizada em 13/07/2017 15h44

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ironizou nesta quinta-feira (13) a sentença proferida pelo juiz federal Sérgio Moro, que o condenou ontem a nove anos e seis meses de prisão, e criticou o que considera falta de provas contra ele. "Não sei como alguém consegue escrever quase 300 páginas contra uma pessoa que ele quer condenar sem nenhuma prova", afirmou. O petista foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao ter sido beneficiado com um tríplex em um condomínio em Guarujá (SP).

Para Lula, a decisão de Moro com base na denúncia que ligou o ex-presidente a um apartamento tríplex no litoral paulista como produto de um esquema de corrupção envolvendo a empreiteira OAS e a Petrobras, mostra que o "Estado democrático está sendo jogado no lixo".

Durante seu discurso, o ex-presidente repetiu diversas vezes que não há provas contra ele na sentença. "A única prova que existe nesse processo, de não sei quantas páginas, é a prova da minha inocência", afirmou. "Eu ficaria mais feliz se fosse condenado por uma prova. Se me desmascarassem. O que me deixa indignado, mas sem perder a ternura, é perceber que está sendo vítima por um grupo de pessoas que está contando uma mentira, e vai continuar contando essa mentira o resto da vida. Eu não tenho um tríplex."

O juiz Sergio Moro apontou "culpabilidade elevada" de Lula, que recebeu, segundo a decisão, "vantagem indevida em decorrência do cargo de presidente da República, ou seja, de mandatário maior". Na sentença, Moro afirmou que "a responsabilidade de um presidente da República é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes."
 
De acordo com o juiz, o crime de corrupção aconteceu em um contexto "de corrupção sistêmica na Petrobras e de uma relação espúria entre ele o grupo OAS". A sentença aponta que "[Lula] agiu, portanto, com culpabilidade extremada, o que também deve ser valorado negativamente". Já sobre o crime de lavagem envolvendo o tríplex, Moro afirmou que o "real titular do imóvel e o real beneficiário das reformas não se revestiu de especial complexidade", complementando que Lula "ocultou e dissimulou vantagem indevida recebida em decorrência do cargo de presidente da República".

Em discurso, Lula lança desafio por "prova"

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Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dava o seu pronunciamento, militantes petistas gritavam palavras de ordem e acompanhavam suas palavras de lado de fora do diretório nacional do PT. Eles se aglomeravam ao redor de um carrinho de som, que transmitia ao vivo a coletiva dada a jornalistas que acontecia no primeiro andar da sede.

Lula também associou sua condenação ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Não é possível que aqueles que prepararam a mentira do golpe contra Dilma e às forças democráticas de 2014 iriam ficar com os braços cruzados esperando as eleições de 2018. Se o Lula pudesse ser candidato o golpe não fechava."

Durante a coletiva, Lula citou artigo que escreveu para o jornal Folha de S.Paulo em outubro de 2016. Ele leu trecho do texto: “Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública.”

Lula vai recorrer da condenação em liberdade. Moro acatou a denúncia do MPF (Ministério Público Federal) na qual, segundo a acusação, o ex-presidente recebeu propina por conta de três contratos firmados entre a empreiteira OAS e a Petrobras, entre 2006 e 2012.

Pouco antes de Lula se sentar à mesa, a presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), afirmou que o partido está "sereno" por acreditar na inocência do ex-presidente. "Mas também estamos indignados. E prontos para fazer esse enfrentamento. Foi pelas injustiças que o PT chegou ao poder e vamos enfrentar mais essa injustiça", afirmou..

"A condenação de Lula foi absolutamente política. Infelizmente, foi uma ação contra o maior líder popular que tivemos na história desse país, justamente um dia após a CLT ser rasgadas no Senado da República. Um dia triste", complementou a presidente do PT.

Apesar das críticas em relação ao comportamento dos advogados de defesa ao longo do processo, Moro afirmou em sua decisão que não deixou que episódios externos influenciassem sua sentença. O juiz refutou a afirmação dos advogados de que teria "animosidade" contra Lula e diz que o ofendido, em diversas ocasiões, foi ele. "Cabe decidir a responsabilidade dos acusados somente com base na lei e nas provas, sendo irrelevante o comportamento processual de seus defensores", escreveu o juiz na explicação da decisão.

O partido convocou a militância política para ir às ruas no próximo dia 20, em vários Estados em defesa do ex-presidente Lula. "Não aceitaremos uma eleição sem o presidente Lula. Uma eleição sem Lula é uma fraude à democracia", disse Gleisi.

Segundo Moro, o crime de corrupção envolveu a destinação de R$ 16 milhões "a agentes políticos do Partido dos Trabalhadores, um valor muito expressivo". "Além disso, de acordo com o juiz, o crime foi praticado em um esquema mais amplo no qual o pagamento de propinas havia se tornado rotina". O juiz apontou "culpabilidade elevada" de Lula, que recebeu, segundo ele, "vantagem indevida em decorrência do cargo de presidente da República, ou seja, de mandatário maior".

Lula governou o Brasil por dois mandatos entre os anos de 2003 e 2010. Segundo a última pesquisa Datafolha divulgada em junho, o petista lidera a corrida eleitoral para o Palácio do Planalto em 2018.