Disputa com DEM pode reduzir apoio a Temer às vésperas de enfrentar 2ª denúncia
A disputa do PMDB com o DEM por dissidentes pode fragilizar a base aliada do presidente Michel Temer (PMDB) num momento delicado, em que ele deve ser alvo de uma segunda denúncia. A expectativa no meio político é que uma nova denúncia seja apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) antes de Rodrigo Janot deixar a chefia do órgão, em 17 de setembro.
O Planalto depende de apoio na Câmara para barrar a segunda denúncia da PGR e aprovar matérias de interesse do governo, como a revisão da meta fiscal.
Temer está atualmente na China, em visita oficial de Estado e onde participou da cúpula do Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O retorno está previsto para terça-feira (5), mas pode ser antecipado, apurou o UOL.
Tanto PMDB quanto DEM correm atrás de políticos que, nos últimos meses, em meio à crise desencadeada pela delação premiada da JBS, se desentenderam com seus partidos e querem mudar de legenda. Há também uma movimentação de olho nas eleições de 2018, inclusive com nomes viáveis a se candidatarem ao Palácio do Planalto.
Principal foco: dissidentes do PSB
Os principais alvos de ambos os partidos são dissidentes do PSB, especialmente o ministro de Minas e Energia e deputado federal licenciado, Fernando Bezerra Coelho Filho (PE), e seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho (PE).
Ao todo, há um grupo de 9 a 12 parlamentares que querem sair do PSB e cogitam ir para o DEM. Dois que já afirmaram que sairão do partido socialista são os deputados Heráclito Fortes (PI) e José Reinaldo (MA).
Embora os Bezerra Coelho não tenham se posicionado oficialmente em público, na última quinta-feira (31), o presidente do PMDB, Romero Jucá (RR), declarou à "Folha" que os dois iriam se filiar à sigla. Segundo Jucá, os dissidentes já teriam até informado a decisão ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos articuladores mais ativos na busca por novos nomes para seu partido.
Porém, na mesma tarde em que foi feita a declaração de Jucá, o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que já havia um "entendimento" dos pernambucanos com o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM) --apesar de não ter cravado a ida dos Bezerra Coelho para seu partido.
"Já tiveram conversas com o Mendonça Filho. Eles já se entenderam com o Mendonça Filho. O grupo do PSB com o do DEM em Pernambuco já fez um entendimento claro", declarou. Questionado sobre quando iriam comunicar a decisão, Agripino respondeu: "Deixa eles falarem".
Relação 'extremamente fragilizada'
Após a fala de Jucá, a confirmação explícita da atitude do PMDB em procurar políticos que já eram cortejados há tempos pelo DEM gerou um profundo mal-estar. Agora, a ação "sem consentimento" do governo vai ser analisada, informou o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB) ao UOL. Ele disse que o gesto "atravessou a aliança que estava sendo formatada".
"Foi recebido com muito desconforto na bancada, gerou um ruído absolutamente desnecessário nesse momento delicado que vive o país. Daqui por diante, a relação estará extremamente fragilizada, porque não é essa a retribuição que nós esperávamos como aliados", afirmou, ao ressaltar a fidelidade do DEM e de Rodrigo Maia, segundo na linha sucessória presidencial.
DEM pode deixar o barco
Efraim Filho falou que o DEM não se sente mais respeitado pelo governo diante da ação dos peemedebistas mesmo perante o diálogo amadurecido com os nomes prospectados. O líder do DEM disse que será difícil conduzir a bancada para ficar ao lado do PMDB.
"Essa posição [do DEM na base aliada] será estudada e discutida pelo partido. Agora, a estratégia do PMDB em construir muros, e não pontes, com os aliados só nos faz afastar cada vez mais. O crescimento de um aliado era para ser motivo a ser comemorado pela base, e não a tentativa de frustrar a ação", disse.
Essa não foi a primeira vez em que PMDB e DEM se estranharam na busca por dissidentes. Em 18 de julho, Temer tomou café da manhã com a líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina, para tentar levar os deputados descontentes com o partido ao PMDB, do qual faz parte e foi presidente nacional por ao menos 15 anos. Na época, Temer teve de conversar com Mendonça Filho e Rodrigo Maia para tentar amenizar o constrangimento.
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