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"Disputado" por Doria e Alckmin, FHC minimiza pesquisas e defende prévias no PSDB

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o prefeito da capital, João Dória (PSDB), participam de almoço no Lide - LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o prefeito da capital, João Dória (PSDB), participam de almoço no Lide Imagem: LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

11/09/2017 15h32Atualizada em 11/09/2017 20h47

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) relativizou nesta segunda-feira (11) os resultados de pesquisas eleitorais e afirmou que intenção de voto "diz pouca coisa" na corrida presidencial. Para FHC, os números precisam vir aliados a uma "avaliação qualitativa" sobre o candidato. O ex-presidente fez as afirmações ao comentar se seu partido deveria usar os dados das pesquisas eleitorais para encontrar o candidato à Presidência da República em 2018.

"Pesquisa é um indicador, tem que ver o que ela representa, tem que ver que apoios essa pessoa (que lidera) tem. É normal que se faça uma prévia dentro do partido. O prefeito de São Paulo [João Doria] foi eleito em uma prévia de dois turnos, não vejo nenhum inconveniente nisso", afirmou FHC a jornalistas depois de participar de um almoço do Lide, grupo de lideranças empresariais fundado por Doria.

A opinião de FHC vai de encontro a uma afirmação dada pelo prefeito de São Paulo na semana passada. Para Doria, as pesquisas devem ser o principal termômetro do partido na escolha do candidato. O prefeito paulistano deve disputar com seu padrinho político, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, o posto de candidato tucano à Presidência nas eleições do ano que vem.

"Eu vejo que [esse embate] é mais na boca dos outros que na deles. Mas eu acho normal que as pessoas aspirem posições, mas que isso se faça no momento apropriado, de forma aberta. Isso não é um defeito, é bom que tenha mais de um candidato", afirmou FHC.

Sem indicar que nome apoiaria numa eventual prévia do partido, o ex-presidente concordou com a afirmação do presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati, de que Alckmin é o primeiro da fila para ser candidato. "Geraldo está há mais tempo, nesse sentido ele é o primeiro da fila, mas isso significa que ele tem lugar garantido?", questionou, sem responder a própria pergunta.

Durante o evento, o ex-presidente disse que o Brasil precisa de pessoas com "ideias de vanguarda" e que é essencial se unir contra o risco de uma “narrativa falsa".

"Confiança [é como] quando quebra um cristal, quebrou. Vamos ter que ter cristal novo. Eu acredito que para ter um cristal novo não são pessoas jovens ou pessoas novas, mas precisa de ideias, de ideias novas, ideias de vanguarda, para que o país se sinta mais confortável nele mesmo. E que nós todos possamos fazer o essencial: unirmo-nos. Se não nos unirmos, os riscos estão aí, os ricos da demagogia, de uma narrativa falsa. Mas diante dos reunidos aqui presentes, eu confio que serão capazes de se unir e de nos unir neles", afirmou encerrando seu discurso.

Atenções divididas

Tanto Alckmin quanto Doria têem evitado embates públicos sobre as eleições do ano que vem. Antes do discurso de FHC no evento, Alckmin brincou dizendo que estava disputando "com a Bia [Doria]", primeira-dama do município, ao lembrar que essa era seu terceiro encontro com o prefeito de São Paulo em menos de uma semana. "É uma alegria estar com o Doria três dias seguidos", disse fazendo referência à participação de ambos no desfile de 7 de setembro, à entrega de moradias em Paraisópolis e, agora, ao evento do Lide, em São Paulo, organizado em homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. 

FHC se referiu a Alckmin e Doria como "meus dois queridos amigos" e disse não saber se existe de fato um embate. "Os dois são muito amigos", afirmou. 

Antes de o ex-presidente falar no evento, Doria e Alckmin foram só elogios à sua figura. "Nosso país é antes e depois de Fernando Henrique Cardoso", disse Alckmin. "Vocês vão ter o privilégio de ouvir palavras de sabedoria e esperança, que é o que move meu sentimento e o do governador Geraldo Alckmin", falou Doria. 

Ambos se sentaram ao lado de FHC durante o evento, que dividiu suas atenções entre os dois -- embora antes do início do evento, do lado esquerdo do palco, Doria não participasse da roda de conversa informal que se formou ao redor de FHC. 

Aproximação entre Doria e FHC

O almoço-debate da Lide (do qual Doria se afastou, embora se mantenha próximo das atividades do grupo) foi oferecido em homenagem a FHC e seria mais um capítulo da gradativa reaproximação entre o ex-presidente e o prefeito de São Paulo. 

Ambos protagonizaram trocas de farpas em junho deste ano. FHC chegou a dizer em entrevista à Folha que Doria fazia mais publicidade do seu governo do que ações concretas. "Por que o prefeito de São Paulo está fazendo algum sucesso? Ele [se dedica] para isso o dia inteiro [mostrando o celular]. Ele fez, mudou alguma coisa? Não vi. Mas aqui ele sabe", disse à época. Doria rebateu, afirmando que FHC precisava "sair um pouco de seu apartamento e visitar São Paulo"

Em março, FHC já havia criticado indiretamente a possibilidade de Doria concorrer à Presidência. "Se você for um gestor não vai inspirar nada, tem que ser líder", disse. E Doria também rebateu: "Respeito muito o ex-presidente, mas eu só lembro que ele previu que eu não seria candidato pelo PSDB. Apoiou outro candidato. Ele mesmo já confessou que, quando comecei a campanha para prefeito, acreditava que eu não seria eleito. Venci as duas. Os dois primeiros prognósticos ele errou", disse Doria à época.

No dia 25 do mês passado, Doria postou uma foto com FHC, dizendo que eles tiveram uma "ótima conversa". 

Apesar do episódio, Doria disse mais cedo ao UOL, durante sua participação no 1º Seminário Internacional de Líderes, que reuniu empresários brasileiros e argentinos no mesmo local do almoço-debate da Lide, que nunca houve um afastamento entre os dois. "Nós estamos hoje como estávamos antes, juntos, felizes e amigos", minimizou.

FHC não apoiou a candidatura de Doria à Prefeitura de São Paulo no ano passado, para a qual ele acabou sendo eleito em primeiro turno, algo inédito na capital paulista, mas disse ter errado ao assumir essa postura. Em um evento no Rio de Janeiro, em agosto deste ano, ao ser questionado sobre qual dos dois apoiaria internamente, FHC se restringiu a dizer que vai apoiar em 2018 o candidato que "conseguir falar com o Brasil", e não só com São Paulo e que ainda é cedo para saber quem teria mais chances nas eleições do ano que vem.